O aumento no IOF anunciado pelo governo na última semana promete tornar mais caro o crédito no Brasil, principalmente para empresas que dependem de linhas bancárias. Com mudanças na alíquota e na classificação de algumas operações financeiras, especialistas afirmam que o impacto será sentido em vários setores da economia — mas o varejo, as distribuidoras de combustíveis e o segmento de previdência privada devem ser os mais afetados.
O que mudou com o aumento no IOF?
O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), tributo cobrado em operações de crédito, câmbio, seguros e investimentos, passou por um reajuste importante. A principal alteração foi a reclassificação de operações como o “risco sacado” — ou antecipação de recebíveis — que agora será considerada operação de crédito. Com isso, essas operações, que antes eram isentas, passarão a pagar IOF.
Além disso, a alíquota máxima do IOF para crédito corporativo passou de 1,88% ao ano para 3,95%. Em um cenário de taxa Selic elevada (atualmente em 14,75%), esse aumento representa um encarecimento significativo para quem toma crédito.
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E o que isso significa na prática?
Segundo o BTG Pactual, o custo total de linhas de crédito bancário com prazo médio de 2,5 anos pode subir mais de 5 pontos percentuais com as novas regras. Essa mudança acontece justamente em um momento em que o crédito já está caro, o que tende a desacelerar ainda mais a economia brasileira.
As empresas maiores, com acesso ao mercado de capitais, devem procurar alternativas como debêntures ou fundos isentos de IOF, como os FIDCs. Já as pequenas e médias empresas, que dependem dos bancos e não conseguem emitir dívida no mercado, devem sentir com mais força o impacto.
Varejo: o setor mais impactado
Entre todos os setores, o mais afetado será o varejo. Isso porque os grandes varejistas utilizam com frequência a operação de fomento reverso — estrutura usada para antecipar o pagamento a fornecedores com apoio de bancos. Agora, essa operação será tributada como crédito, o que reduz sua atratividade.
Segundo o relatório do BTG Pactual, Magazine Luiza (MGLU3) tem R$ 2,9 bilhões em risco sacado, enquanto Casas Bahia (BHIA3) possui R$ 1,7 bilhão. Assaí tem R$ 826 milhões, GPA tem R$ 185 milhões e Grupo Mateus, R$ 137 milhões. Lojas Renner e C&A também têm exposição, com R$ 189 milhões e R$ 190 milhões, respectivamente.
Mesmo que, na maioria dos casos, o custo recaia sobre o fornecedor, a operação se torna menos vantajosa para os dois lados. Empresas podem buscar estruturas com FIDCs para tentar escapar da nova tributação, mas o movimento ainda está sendo avaliado.
Combustíveis e proteínas: impacto moderado
Distribuidoras de combustíveis e empresas do setor de alimentos também usam estruturas de antecipação de recebíveis, mas com menor intensidade. A Raízen (RAIZ4), por exemplo, tem R$ 9,6 bilhões nessas operações. A Ultrapar (UGPA3) possui R$ 1,2 bilhão. Se decidirem substituir esses financiamentos por dívidas tradicionais, a alavancagem das empresas pode aumentar.
No setor de alimentos, a JBS tem R$ 5,9 bilhões expostos ao fomento reverso. A BRF soma R$ 4,5 bilhões, Minerva R$ 3 bilhões e Marfrig R$ 788 milhões. Ainda assim, o impacto estimado é modesto. No caso da Minerva, por exemplo, o impacto seria de cerca de 1% do EBITDA previsto para 2026.
Previdência privada: tributo novo para VGBL
Outra mudança relevante foi a criação de uma alíquota de 5% de IOF sobre contribuições mensais acima de R$ 50 mil em planos VGBL, modalidade de previdência privada muito usada por brasileiros de alta renda. A intenção do governo é evitar o uso do produto como ferramenta de planejamento tributário.
A medida afeta diretamente empresas como BB Seguridade (BBSE3) e Caixa Seguridade (CXSE3), que têm grande parte de sua receita de previdência atrelada ao VGBL. No entanto, como o novo IOF vale apenas para aportes futuros acima do limite estipulado, o impacto deve ser limitado no curto prazo.
O que muda no câmbio?
Para operações de câmbio, o IOF sobre compras internacionais com cartão de crédito, débito e pré-pago foi fixado em 3,5%, interrompendo o cronograma de redução da alíquota até 2028. Também subiu de 1,1% para 3,5% o IOF sobre remessas ao exterior feitas por pessoas físicas.
Importante: operações de câmbio por não residentes — como investimentos estrangeiros ou envio de dividendos e JCP — seguem isentas.
Impacto macroeconômico: desaceleração à vista?
O aumento no IOF pode trazer um efeito colateral: o freio adicional na economia brasileira. Em um momento em que a atividade já é pressionada por juros altos, encarecer o crédito tende a reduzir o consumo e os investimentos.
O BTG Pactual estima que o governo arrecade R$ 20 bilhões com a medida em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026 — o equivalente a 0,2% e 0,3% do PIB, respectivamente. Essa receita ajudará a compensar o bloqueio de R$ 31 bilhões em despesas, anunciado no segundo relatório bimestral de receitas e despesas primárias.
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Empresas vão migrar para o mercado de capitais?
Diante do aumento no custo do crédito bancário, é possível que mais empresas recorram ao mercado de capitais para captar recursos. Debêntures e outras emissões continuam isentas de IOF, o que torna essas opções mais atrativas.
Outra alternativa é a estruturação de operações com FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), que ainda não são classificadas como crédito e, portanto, continuam isentas de IOF.
No entanto, essa mudança de estratégia é mais viável para empresas grandes. As pequenas e médias, que não têm acesso fácil ao mercado de capitais, tendem a arcar com o custo mais alto do financiamento tradicional.
Mais imposto, mais custo e mais cautela
O aumento no IOF trará impactos importantes sobre o custo do crédito no Brasil. Varejo, distribuidoras de combustíveis, empresas de alimentos e o segmento de previdência privada sentirão o peso maior da medida. Ao mesmo tempo, a decisão pode incentivar a migração para alternativas mais eficientes como FIDCs e debêntures.
Para o consumidor final, os efeitos podem aparecer de forma indireta: empresas com menos acesso a crédito podem repassar o custo para os preços, frear investimentos ou até cortar empregos.
O governo espera reforçar o caixa e cumprir a meta fiscal com a nova tributação. Mas o custo dessa arrecadação virá em forma de menor dinamismo econômico — especialmente se o crédito mais caro frear o consumo e o investimento privado.