No fim do ano passado, o Banco Central convocou os dirigentes do Banco Master para uma reunião urgente em Brasília. Na ocasião, foram feitas duas exigências diretas à comitiva liderada pelo presidente do banco, Daniel Vorcaro: interromper operações consideradas arriscadas — como a emissão acelerada de CDBs — e realizar um aporte de capital de R$ 2 bilhões. O prazo para cumprimento foi de três meses, com vencimento em março deste ano. Caso contrário, o Banco Master enfrentaria a liquidação e seus controladores teriam o patrimônio congelado, além de ficarem proibidos de atuar no mercado financeiro.
Um risco bilionário ao sistema financeiro
Embora seja um banco de pequeno porte, o Master acumulava R$ 50 bilhões emitidos em CDBs, mas sem recursos suficientes para honrar R$ 12 bilhões que vencem ainda este ano. A carteira de ativos que poderia servir como garantia está repleta de empresas em dificuldades ou em recuperação judicial. A outra parte era composta de precatórios — títulos cuja liquidez depende de decisões judiciais, sem prazos definidos.
Caso o banco quebrasse, a única proteção dos investidores seria o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que cobre até R$ 250 mil por CPF e por instituição. O problema? A liquidação do banco comprometeria quase metade do patrimônio do FGC, atualmente estimado em R$ 132 bilhões.
Tentativas de socorro político e silêncio no mercado
Diante da pressão do BC, Daniel Vorcaro recorreu aos sócios Augusto Lima e Maurício Quadrado, além do aliado Nelson Tanure — apontado como possível sócio oculto do Banco Master. No entanto, em vez de cumprir as exigências de capitalização, o grupo buscou apoio político, atravessando o espectro ideológico de bolsonaristas a petistas.
A entrada do BRB e o fator político
Em 28 de março, uma reviravolta: o Banco de Brasília (BRB) anunciou a compra do Banco Master por R$ 2 bilhões — exatamente o valor pedido pelo Banco Central. A operação surpreendeu o mercado. O BRB, uma instituição estatal de porte médio com patrimônio líquido de R$ 3,7 bilhões, assumiria o risco total da operação.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, já havia recebido um relatório técnico de 2.600 páginas com detalhes da operação. Agora, o órgão regulador tem 360 dias para concluir a análise, período considerado arriscado por analistas.
Polêmicas e críticas
A transação gerou críticas. O jornalista Ricardo Cappelli, pré-candidato ao governo do Distrito Federal pelo PSB, afirmou:
“Não foi uma operação econômica. Foi política. Jogaram uma crise privada no colo do BRB, e quem paga é o povo de Brasília.”
O principal alvo das críticas é o atual governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB). Há rumores de que a motivação seria política, com interesses cruzados entre quadras nobres de Brasília onde vivem figuras influentes como o senador Ciro Nogueira, aliado de Vorcaro.
Influência e bastidores
Quando assumiu o antigo Banco Máxima e o transformou no Banco Master, Vorcaro montou um comitê consultivo com nomes de peso — e salários próximos de R$ 100 mil. Estavam entre os consultores Guido Mantega (ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma) e Henrique Meirelles (ministro de Temer). Segundo o jornal O Globo, Mantega chegou a pedir ajuda diretamente ao presidente Lula para evitar a falência do banco.
Banco Master: O que esperar agora?
Com o BRB formalmente envolvido, resta ao Banco Central avaliar os riscos sistêmicos da operação. O caso do Banco Master escancara as vulnerabilidades do sistema financeiro diante de má gestão, exposição a ativos de risco e interferência política.
O desfecho pode servir como divisor de águas para a regulação bancária brasileira — e o mercado seguirá atento ao que acontecer nos próximos meses.