A essa altura, você provavelmente já notou: o café ficou mais caro, o azeite virou artigo de luxo e até um simples prato com ovos tem deixado um rombo maior no bolso. E não é impressão — os preços dos alimentos continuam atingindo marcas históricas, tanto no Brasil quanto lá fora.
Mas afinal, o que está por trás dessa alta persistente? E mais: isso tem data para acabar?
Um problema que vai além do supermercado
Especialistas alertam que a crise dos preços dos alimentos não é passageira. Rob Vos, do Instituto Internacional de Pesquisas sobre Políticas Alimentares (IFPRI), é direto: “a era da comida barata acabou”.
Nos últimos anos, fatores como a guerra na Ucrânia, mudanças climáticas, encarecimento dos fertilizantes, e até surtos de gripe aviária vêm pressionando a oferta de alimentos. Do outro lado, a demanda segue firme, especialmente nos países em desenvolvimento. O resultado? Alimentos mais caros, por mais tempo.
O impacto da guerra e o efeito dos fertilizantes
A invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 desestabilizou o mercado global. Afinal, Ucrânia e Rússia são grandes exportadores de trigo, óleo de girassol e milho. O bloqueio dos portos ucranianos interrompeu o fluxo e causou uma explosão nos preços.
Mesmo com o retorno parcial das exportações, o estrago estava feito. E se isso não bastasse, o gás natural — essencial para fertilizantes — também disparou, pressionando ainda mais os custos da produção agrícola.
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A Ucrânia é um importante produtor de trigo, mas as exportações foram gravemente prejudicadas depois da invasão russa em 2022
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Quando a produtividade não acompanha a fome do mundo
Você já ouviu falar na Revolução Verde? Ela revolucionou a produtividade agrícola a partir dos anos 1970. Mas esse avanço perdeu força, enquanto a demanda global continua subindo.
Segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz, estamos vivendo os maiores preços dos alimentos dos últimos 100 anos em termos reais. E há motivos: populações crescentes e mudanças no padrão alimentar, com maior consumo de carne, laticínios e vegetais — todos produtos de custo mais elevado.
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Os métodos usados na agricultura mudaram ao longo do tempo, mas a velocidade de aumento da produção, agora, diminuiu
Mudanças climáticas: o inimigo invisível
As mudanças no clima têm sido especialmente cruéis com a agricultura. Secas prolongadas no Brasil e ondas de calor na Europa afetaram colheitas de café, laranja e azeite. Produtos altamente sensíveis ao clima e com produção concentrada em poucos países sofrem mais.
Estudos do Banco Central Europeu estimam que o clima pode adicionar até 3,2 pontos percentuais por ano à inflação dos alimentos até 2035. Isso não é um detalhe — é um sinal de alerta.
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A safra de café no Brasil foi atingida pela seca no ano passado
Fonte: Bloomberg. Última atualização: 13/05/2025
Epidemias, pragas e ovos a R$ 35
Nos Estados Unidos, a gripe aviária provocou o abate de milhões de galinhas, e o preço dos ovos mais que triplicou. E o impacto foi global: países como Japão, África do Sul e Brasil também sentiram a pressão. O suco de laranja sofreu com doenças nas plantações, e o café brasileiro foi afetado por duas secas seguidas.
Tudo isso se traduz em mais incerteza para o consumidor e preços que parecem não recuar.
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A produção de laranja no Brasil e nos Estados Unidos foi atingida por uma doença conhecida como greening
Tarifas, tensões e o efeito dominó
Instabilidades políticas e comerciais também jogam contra. Quando Donald Trump reativou tarifas de importação, isso gerou reações em cadeia. Basta lembrar do caso da soja americana: a China procurou outros fornecedores — como o Brasil — mas isso sobrecarregou a demanda e encareceu o produto globalmente.
Esse tipo de tensão traz insegurança para os produtores e interfere nas safras antes mesmo da colheita.
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Em abril, Donald Trump anunciou uma série de tarifas de importação, gerando instabilidade nos mercados financeiros
E os efeitos para o seu bolso?
Mesmo com alguma queda no mercado internacional desde 2022, os consumidores não viram os preços caírem nos supermercados. O economista Dawit Mekonnen, do Banco Mundial, afirma que os preços dos alimentos continuam muito mais altos do que há quatro anos. E isso, claro, reduz o acesso à alimentação — principalmente em países de baixa renda.
A FAO aponta que mais de um terço da população mundial não consegue pagar por uma alimentação saudável. A desnutrição voltou a crescer e já atinge 9,1% da população global, segundo os dados mais recentes.
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Preços dos alimentos: O que esperar agora?
Alguns analistas acreditam que os preços dos alimentos podem ter algum alívio nos próximos meses. Mas a maioria dos especialistas avisa: a volatilidade veio para ficar.
Problemas como custos de produção elevados, cadeias de abastecimento frágeis, mudanças climáticas e decisões políticas imprevisíveis não vão desaparecer tão cedo. E enquanto isso, o impacto segue batendo direto no prato de cada um de nós.