Reabertura do ciclo de alta de juros
A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta Terça-feira (17) é aguardada com grande expectativa pelo mercado financeiro. Analistas preveem que o Banco Central possa retomar o ciclo de alta de juros, elevando a taxa Selic para 10,75% ao ano. Essa decisão seria motivada pelas surpresas altistas nos dados recentes de atividade econômica e pela inflação que desacelera de forma marginal, indicando pressões persistentes nos preços.
Além disso, a taxa de câmbio continua depreciada, mesmo diante de políticas monetárias em sentidos opostos entre Brasil e Estados Unidos. O real mais fraco impacta negativamente as expectativas de inflação, uma vez que encarece os produtos importados e afeta os custos de produção. Esse cenário reforça a necessidade de uma postura mais firme por parte do Banco Central para conter a inflação e ancorar as expectativas dos agentes econômicos.
Comunicação do Banco Central e divergências internas
Nas semanas que antecederam a reunião, membros do Banco Central deram sinais sobre possíveis ajustes na política monetária, mas sem consenso sobre a intensidade. Após a reunião de julho, o Diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, afirmou que o balanço de riscos era “assimétrico” e que a projeção do IPCA para o primeiro trimestre de 2026, de 3,2%, estava “acima da meta”. Galípolo destacou que a reação do mercado, observada na curva de juros, estava em linha com suas preocupações, indicando maior probabilidade de um início de ciclo com aumento de 0,50 ponto percentual.
Em contrapartida, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, declarou publicamente que “se e quando houver um ciclo de ajuste nos juros, será gradual”, sugerindo uma abordagem mais suave para a decisão de setembro. Essa divergência nas comunicações gerou incerteza no mercado, não contribuindo para reduzir as expectativas de altas mais agressivas a partir de novembro, nem para diminuir os prêmios ao longo da curva de juros.
Especialistas ressaltam que uma decisão unânime nesta reunião, seguida de discursos alinhados entre os diretores, será crucial para a eficácia da política monetária. Uma comunicação clara e coesa pode ajudar a recomprar credibilidade junto ao mercado e alinhar as expectativas inflacionárias com as metas estabelecidas.
Revisão do hiato do produto e projeções de inflação
Outro ponto crucial que deve ser abordado pelo Copom é a revisão do hiato do produto—a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial da economia. Até então, o Banco Central vinha defendendo que o hiato estava “próximo à neutralidade”. No entanto, com a divulgação do PIB do segundo trimestre de 2024, que mostrou desempenho acima do esperado, torna-se necessário reconsiderar essa avaliação.
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A atividade econômica aquecida sugere que a economia pode estar operando acima de seu potencial, o que contribui para a pressão inflacionária, especialmente no setor de serviços. Com uma taxa de câmbio depreciada e uma trajetória da Selic significativamente mais alta em comparação à última reunião, a projeção do IPCA para o primeiro trimestre de 2026 tende a ser revisada para cima.
Para que um eventual aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic seja interpretado como uma postura mais dura (hawkish), é essencial que o comunicado do Copom enfatize as preocupações com a demanda doméstica aquecida. Um texto mais assertivo nesse sentido reforçaria a estratégia do Banco Central de controlar a inflação e manter as expectativas alinhadas com a meta.
Cenário-base e perspectivas futuras
No cenário atual, a expectativa é de que a taxa Selic alcance 11,75% ao ano até o final de 2024. Contudo, essa projeção pode ser ajustada caso a taxa de câmbio apresente uma apreciação significativa. Fatores como o carry trade—a prática de investidores estrangeiros aplicarem recursos em países com juros mais altos—e a retomada dos preços das commodities podem fortalecer o real.
Uma moeda nacional mais forte pode aliviar parte das pressões inflacionárias importadas, permitindo ao Banco Central reduzir o ritmo de aperto monetário. No entanto, a volatilidade cambial e incertezas no cenário internacional, como as políticas monetárias dos Estados Unidos e da Europa, adicionam complexidade ao panorama econômico brasileiro.
Investidores e empresas estão atentos aos desdobramentos da reunião do Copom e à comunicação que será divulgada posteriormente. As decisões tomadas terão impactos significativos nos mercados financeiros, influenciando taxas de juros, câmbio e expectativas de crescimento econômico.