A preocupação fiscal no Brasil segue em alta, mesmo após o governo federal anunciar o congelamento de R$ 31,1 bilhões no Orçamento de 2025. Segundo análise do banco Morgan Stanley, divulgada nesta sexta-feira (23), as medidas não atacam o cerne do problema, que está no desequilíbrio estrutural entre receitas e despesas. O relatório aponta que, sem reformas robustas, a trajetória da dívida pública continuará insustentável no médio prazo.
Apesar de reconhecer o esforço de bloquear um volume de gastos acima do previsto inicialmente — cerca de R$ 10 bilhões — o Morgan Stanley ressalta que o governo ainda mira apenas o piso da meta fiscal para 2025, o que não é suficiente para estabilizar a trajetória da dívida como proporção do Produto Interno Bruto (PIB).
“A preocupação fiscal no Brasil não está diminuindo. Vemos baixa probabilidade de superávit primário estabilizador da dívida sem reformas estruturais”, afirmam os economistas do banco no relatório.
Aumento do IOF sem corte de despesas preocupa analistas
Um dos pontos críticos destacados pelo Morgan Stanley foi o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), aplicado a uma série de operações como crédito à pessoa jurídica, transações com cartão de crédito internacional e contribuições à previdência privada. Mesmo com a expectativa de arrecadar R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026, o governo não apresentou medidas equivalentes de contenção de despesas.
De acordo com os analistas do banco, o desequilíbrio entre novas receitas e ausência de cortes efetivos em gastos obrigatórios ou estruturais amplia as incertezas sobre a sustentabilidade fiscal.
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Crescimento do PIB é revisto para cima, mas inflação preocupa
Apesar da preocupação fiscal no Brasil, o Morgan Stanley melhorou suas projeções para o crescimento do PIB. Para 2025, o banco espera uma expansão de 2,3%, frente aos 1,9% projetados anteriormente. Já para 2026, a expectativa passou de 1,5% para 2,0%.
No entanto, a inflação continua sendo um desafio. A estimativa para 2025 foi mantida em 5,6%, mas para 2026 houve piora, com projeção revisada de 3,6% para 4,4%. Essa deterioração nas expectativas pode dificultar a queda da taxa de juros e pressionar ainda mais o quadro fiscal.
Selic e câmbio também entram no radar
O banco manteve a projeção da taxa Selic em 14,75% até o fim de 2025, mas agora projeta um corte mais agressivo em 2026, com a taxa caindo para 11,25%, ante 12,15% previstos anteriormente.
Em relação ao câmbio, o Morgan Stanley espera uma desvalorização do real em 2025, com o dólar atingindo R$ 5,90, acima dos R$ 5,70 estimados anteriormente. Já para 2026, a expectativa é de melhora, com o dólar voltando para R$ 5,60.
Ano eleitoral de 2026 aumenta incertezas fiscais
O relatório alerta ainda para os riscos políticos no horizonte. O ano de 2026, marcado por eleições presidenciais, tende a pressionar os gastos públicos. O banco teme que, na tentativa de aumentar a popularidade, o governo amplie benefícios sociais e outras despesas obrigatórias, agravando ainda mais a situação fiscal.
“Estamos mais preocupados com 2026, já que os gastos provavelmente aumentarão antes das eleições”, destaca o documento.
A preocupação fiscal no Brasil, nesse contexto, tende a se intensificar caso não haja um compromisso real com o controle de despesas estruturais, incluindo a revisão de subsídios, desonerações e benefícios previdenciários.
Governo precisa avançar em reformas para recuperar confiança
Para o Morgan Stanley, só será possível reduzir a preocupação fiscal no Brasil com um avanço consistente em reformas estruturais, como a administrativa e a tributária. Caso contrário, o país corre o risco de manter juros altos, inflação pressionada e confiança abalada nos mercados.
Apesar de o cenário externo favorecer países emergentes — com sinais de pausa nos juros dos Estados Unidos e desaceleração moderada da economia global — o Brasil precisa fazer sua parte para aproveitar essa janela de oportunidade.
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Ajuste parcial não resolve a questão fiscal
O congelamento de gastos e o aumento do IOF são vistos como medidas paliativas pelo mercado. Para realmente reduzir a preocupação fiscal no Brasil, será necessário um pacote mais robusto, que envolva controle firme de despesas obrigatórias, revisão de programas sociais e foco em eficiência na máquina pública.
Sem isso, o risco-país seguirá elevado, a confiança do investidor pode se deteriorar e o país pode ver sua trajetória de crescimento comprometida a médio e longo prazo.