A pobreza na Argentina cai de forma significativa e surpreende o mercado ao atingir 38,1% da população no segundo semestre de 2024. A queda de 14,8 pontos percentuais em relação ao semestre anterior é a mais expressiva desde o início da pandemia e recoloca o debate sobre os efeitos das políticas econômicas do governo Javier Milei.
Queda na pobreza e miséria marca inflexão no cenário social argentino
Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (31) pelo Indec — o equivalente argentino ao IBGE — cerca de 11,3 milhões de argentinos vivem atualmente abaixo da linha da pobreza. No primeiro semestre de 2024, o número era de 52,9% da população, indicando uma mudança relevante no curto prazo.
A miséria — conceito utilizado para descrever a pobreza extrema — também caiu de forma expressiva, atingindo 2,5 milhões de pessoas ou 8,2% da população, ante os 18,1% registrados no primeiro semestre.
De acordo com o Indec, a renda média total das famílias cresceu 64,5% no período, atingindo 599.837 pesos argentinos. Esse avanço de renda, associado à desaceleração de alguns preços e à recomposição de parte do poder de compra, contribuiu para o recuo dos indicadores sociais.
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Governo atribui resultado à política de austeridade fiscal
A administração de Javier Milei rapidamente celebrou os números, creditando os resultados ao impacto inicial das reformas econômicas iniciadas no final de 2023. Em nota oficial, o governo afirmou que “os índices refletem o fracasso das políticas passadas” e que as ações de liberalização e controle fiscal são o caminho correto para reduzir a pobreza de forma sustentável.
“O presidente Javier Milei e sua equipe econômica liderada por Luis Caputo aprofundarão este caminho que devolve ao povo argentino a dignidade que lhe foi negada durante décadas”, afirmou o governo em comunicado.
Apesar das críticas à rigidez das medidas, como o corte de subsídios e ajustes nos gastos públicos, os dados recentes oferecem alívio momentâneo ao governo, que enfrenta forte resistência política e social.
Leitura técnica: recuperação ou distorção de curto prazo?
Especialistas consultados por veículos como CNN e analistas econômicos da região apontam que, embora os dados sejam positivos, é necessário cautela na interpretação. Parte da queda da pobreza pode estar associada a fatores pontuais, como repasses emergenciais, reajustes temporários e base de comparação distorcida pelo pico de inflação do início de 2024.
Outro fator a considerar é que a metodologia do Indec calcula a pobreza com base em cestas de consumo específicas e variações de renda, o que pode suavizar a percepção do impacto real na população.
Ainda assim, a queda de quase 15 pontos percentuais na taxa de pobreza é um marco relevante e recoloca o governo argentino em outro patamar de avaliação junto ao mercado financeiro internacional.
Efeitos sobre o consumo e o humor do mercado
Dados do mesmo período apontam que o consumo das famílias argentinas cresceu 2,9% em fevereiro, no ritmo mais forte desde 2022. A atividade econômica, por sua vez, também mostra sinais de estabilização, com recuperação em setores como serviços e comércio varejista.
A pobreza na Argentina cai, e esse movimento pode ajudar a conter parte das críticas internas, fortalecer a credibilidade do plano econômico de Milei e, principalmente, sustentar a governabilidade no curto prazo.
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Pobreza na Argentina cai, mas debate sobre sustentabilidade continua
A queda na pobreza é um sinal de que a economia argentina começa a responder às políticas de ajuste — ou, ao menos, a estabilizar os indicadores sociais. Mas o desafio permanece: manter esse ritmo sem ampliar a desigualdade e sem perder o apoio político e social.
Com a inflação ainda em patamares elevados, cortes sociais em andamento e dúvidas sobre a capacidade de sustentação do modelo liberal, o cenário permanece volátil.
Para o investidor que acompanha a Argentina, a leitura é clara: a economia real está reagindo, mas os próximos trimestres serão decisivos para validar essa trajetória como estrutural — ou apenas um respiro estatístico de curto prazo.