Investidores atentos ao agronegócio e produtores de soja têm algo em comum neste momento: preocupação crescente. A margem do produtor de soja vai voltar a cair. Não apenas no preço de venda, mas na rentabilidade real da atividade — e o centro do problema está na China. O país asiático desacelerou suas exportações de fertilizantes fosfatados, criando um efeito dominó que encarece o custo do plantio no Brasil e ameaça as margens na safra 2025/26.
De acordo com estimativas da consultoria do Itaú BBA, a margem operacional do produtor em Mato Grosso deve recuar de 38% para 35%. Parece pouco? Em um setor com margens historicamente apertadas e forte exposição a variáveis globais, essa diferença representa milhões em receita perdida e um alerta para investidores posicionados em ativos do agronegócio.
MAP dispara, margem do produtor de soja encolhe
O cenário exige atenção redobrada. O MAP, principal fertilizante fosfatado utilizado nas lavouras, subiu 10% em relação à safra anterior e exige hoje 30 sacas de soja por tonelada. Em 2024, eram 20 sacas. O impacto sobre a margem do produtor de soja é direto: o custo com fertilizantes por hectare cresceu 13,5%, alcançando R$ 1.953, segundo o Imea.
Para o mercado financeiro, essa escalada nos custos operacionais pressiona o desempenho de cooperativas, distribuidoras de insumos e tradings. É hora de revisar projeções, reprecificar riscos e observar a evolução da relação de troca — um dos principais indicadores da saúde econômica do sojicultor.
A China muda o jogo e impõe nova lógica ao agronegócio
A razão para a queda da margem do produtor de soja está no redirecionamento estratégico da indústria chinesa. O ácido fosfórico, base dos fertilizantes como MAP e DAP, passou a ser canalizado para a fabricação de baterias, um mercado mais lucrativo e prioritário para Pequim.
Os embarques chineses de MAP caíram 67% no primeiro trimestre de 2025. O DAP e a ureia seguiram o mesmo caminho. Essa escassez global de insumos reconfigura a lógica do agronegócio, colocando o produtor diante de custos mais altos e incertezas logísticas.
Alternativas agronômicas existem, mas não resolvem tudo
Super Simples, NPs e outras fontes de fósforo começam a ocupar espaço, mas exigem ajustes técnicos e manejo sofisticado. A produtividade pode ser afetada, e isso reforça o cerco sobre a margem do produtor de soja. O problema não é apenas químico: é também financeiro e estratégico.
Investidores precisam considerar esses fatores ao avaliar ativos agro. Fundos expostos ao setor agrícola, empresas de insumos e contratos futuros da soja podem ser diretamente afetados por essas mudanças. A volatilidade no curto prazo é quase garantida.
2025/26 será o teste definitivo de gestão e inteligência de mercado
A margem do produtor de soja virou um termômetro de risco para o agronegócio brasileiro. A safra 2025/26 exigirá decisões antecipadas, gestão precisa de custos e leitura clara dos movimentos globais. Para o investidor, entender a margem do produtor virou pré-requisito para tomar boas decisões.
Nesse novo tabuleiro, a palavra-chave não é produtividade. É eficiência. E quem souber operar com agilidade terá vantagem — seja no campo ou no mercado.
Impactos na economia regional e nacional
A redução da margem do produtor de soja pode afetar toda a cadeia do agronegócio. Quando o produtor ganha menos, ele investe menos: na propriedade, em tecnologia, em equipamentos, em contratação de serviços. Isso desacelera a economia em municípios agrícolas, reduz arrecadação de impostos e enfraquece o consumo local.
Além disso, o Brasil, como maior exportador mundial de soja, pode enfrentar um cenário em que o volume exportado permaneça estável, mas o retorno financeiro caia. Isso afeta o superávit da balança comercial, a entrada de dólares e até mesmo o humor dos investidores estrangeiros sobre o agro brasileiro como setor estratégico.
Perspectivas e o que acompanhar daqui pra frente
O comportamento da China nos próximos meses será decisivo. Se o país mantiver sua prioridade na indústria de baterias, o gargalo nos fertilizantes tende a se prolongar. Por outro lado, qualquer sinal de retomada nos embarques pode trazer alívio — e será rapidamente precificado pelo mercado.
Também vale acompanhar os movimentos do governo brasileiro em relação à oferta de crédito, ao próximo Plano Safra e à política de incentivos à produção de fertilizantes. A resposta interna pode mitigar parte dos impactos externos. O produtor e o investidor que entenderem essas dinâmicas estarão melhor posicionados para navegar pelos próximos ciclos.