O economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, em recente entrevista ao Brazil Journal, lançou um alerta sobre o cenário fiscal preocupante do Brasil. Segundo Mansueto, o país precisa urgentemente tomar medidas para restabelecer a confiança fiscal e controlar a trajetória das despesas obrigatórias, que se mostram crescentes e ameaçam o equilíbrio das contas públicas. O especialista destaca que o Brasil enfrenta uma situação fiscal desafiadora, e a falta de ações concretas pode desencadear uma série de efeitos negativos na economia, incluindo juros elevados, inflação e aumento da dívida pública.
Desconfiança Fiscal Crescente e a Reação do Mercado
Os mercados reagiram de forma negativa ao Relatório de Avaliação Bimestral divulgado pelo governo no último dia 22 de setembro. O documento elevou a projeção do déficit primário para 2024 de R$ 129,7 bilhões para R$ 141,4 bilhões, gerando preocupação sobre a capacidade do governo de cumprir suas metas fiscais. Além disso, o descontingenciamento de R$ 1,7 bilhão foi visto como um passo atrás no esforço de contenção de despesas, indicando a dificuldade do governo em manter a disciplina fiscal.
Mansueto enfatizou que, mesmo com um orçamento de R$ 2,24 trilhões, a reação do mercado ao aumento de despesas demonstra que os investidores estão atentos à trajetória da dívida e à capacidade do governo de cumprir suas regras fiscais. “O que o governo precisa fazer é mostrar um compromisso real com a sustentabilidade das contas públicas”, afirmou o economista.
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Efeitos na Trajetória de Juros e Risco Fiscal
A falta de clareza em relação ao compromisso do governo com o ajuste fiscal está elevando as expectativas de juros para os próximos anos. As projeções indicam que a taxa Selic pode permanecer em torno de 12% pelos próximos 10 anos, o que, na prática, significa um juro real de aproximadamente 8% ao ano. Segundo Mansueto, “juros tão elevados por um período tão longo são insustentáveis e indicam que o mercado já está precificando o aumento do risco fiscal”.
Essa situação se traduz em um ciclo vicioso: déficits primários sucessivos e juros altos contribuem para o crescimento acelerado da dívida pública. Mansueto ressaltou que, se nada for feito, o Brasil corre o risco de entrar em um ciclo de inflação elevada e um ambiente econômico adverso, o que pode prejudicar o crescimento e a geração de empregos no país.
Arcabouço Fiscal: As Dúvidas que Precisam Ser Dissipadas
O economista-chefe do BTG destacou que a principal preocupação do mercado é a falta de clareza sobre como o governo pretende cumprir o novo arcabouço fiscal. Para 2024 e 2025, a meta é que as despesas primárias cresçam apenas 2,5% ao ano acima da inflação. No entanto, os analistas têm dificuldade em ver como o governo conseguirá cumprir esse limite, dado o crescimento projetado das despesas obrigatórias e a falta de ajustes estruturais.
Mansueto sugere que o governo precisa adotar medidas que sinalizem um crescimento mais moderado das despesas obrigatórias nos próximos anos. Essas medidas deveriam começar a ser discutidas e implementadas ainda em 2024, para que o governo possa demonstrar ao mercado um compromisso claro com a disciplina fiscal.
Desafios Adicionais: Redução de Despesas e a Arrecadação Federal
Outro ponto de atenção destacado por Mansueto Almeida é o desafio de reduzir despesas obrigatórias e aumentar a arrecadação federal. A reforma tributária, que prevê a unificação de impostos e a criação de um IVA (Imposto sobre Valor Agregado), pode ter um papel importante no aumento das receitas do governo, mas seus efeitos só devem ser sentidos a partir de 2025.
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O economista enfatiza que, para cumprir o teto de gastos, o governo terá que ser cuidadoso em sua estratégia de despesas. “Se o governo não controlar as despesas obrigatórias, será muito difícil alcançar as metas estabelecidas no novo arcabouço fiscal”, alertou Mansueto.
A Influência do Cenário Internacional e a Reação da Economia Brasileira
Apesar de o Brasil estar enfrentando seus próprios desafios fiscais, o cenário internacional também influencia a percepção do mercado sobre a saúde econômica do país. O recente pacote de estímulo da China, que trouxe uma melhora temporária para os preços das commodities, contribuiu para uma breve recuperação no mercado financeiro brasileiro. No entanto, Mansueto adverte que esse alívio é apenas temporário e não resolve os problemas estruturais das contas públicas do Brasil.
Reformas e Ajustes Estruturais: O Caminho para a Sustentabilidade Fiscal
Para reverter a percepção negativa e restabelecer a confiança dos investidores, Mansueto Almeida acredita que o governo precisa se concentrar em reformas estruturais que reduzam o ritmo de crescimento das despesas obrigatórias e promovam a sustentabilidade fiscal. Ele destaca que medidas como a reforma administrativa, a revisão de benefícios fiscais e o controle dos gastos com a folha de pagamento do setor público são essenciais para garantir o cumprimento das metas fiscais e o equilíbrio das contas públicas.
Um Chamado à Ação para Evitar a Crise Fiscal
O alerta de Mansueto Almeida é um chamado para que o governo tome medidas imediatas e estruturais para restaurar a confiança fiscal e evitar uma crise econômica mais profunda. A combinação de déficit primário, juros elevados e desconfiança do mercado pode levar a um cenário de inflação crescente e estagnação econômica.
Se o governo não agir agora, o Brasil corre o risco de enfrentar uma deterioração ainda maior de suas contas públicas, o que poderia resultar em um aumento da dívida pública, redução dos investimentos e um ambiente econômico cada vez mais incerto.