A prévia da inflação de julho, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), registrou uma alta de 0,30%, desacelerando em comparação com os 0,39% de junho. Apesar da inflação acima das expectativas, a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, acredita que o cenário não demanda uma nova alta na Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Segundo Vitória, “a política monetária já está em um patamar bastante restritivo” e não há necessidade de um aumento adicional na taxa de juros. Este cenário reflete a percepção de que, embora a inflação tenha surpreendido, o controle monetário atual é suficiente para manter a estabilidade econômica sem a necessidade de novos ajustes.
Desaceleração da Inflação e Impactos Setoriais
A desaceleração do IPCA-15 em julho foi impulsionada principalmente pela queda nos preços dos alimentos, que sentiram o impacto das chuvas no sul do país em maio. No entanto, a inflação de serviços voltou a subir, registrando um aumento de 0,7%, influenciada principalmente pela alta de 19% nas passagens aéreas. Além disso, os preços administrados, como gasolina e energia elétrica, também subiram 0,7%, contribuindo para a manutenção da inflação em níveis elevados.
Bruno Balassiano, analista econômico do BTG Pactual, destaca que a surpresa altista da inflação se concentrou em segmentos voláteis ou menos relacionados ao mercado de trabalho. “O qualitativo segue em linha com leituras recentes”, observa Balassiano, acrescentando que a composição dos dados apresenta uma dinâmica relativamente benigna para a inflação corrente.
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Núcleo de Serviços Subjacentes e Inflação Industrial
A surpresa no núcleo de serviços subjacentes foi explicada pelo aumento nos seguros para veículos, refletindo as enchentes no Rio Grande do Sul, e por condomínios, um segmento pouco correlacionado com a dinâmica do mercado de trabalho. A inflação de produtos industriais permanece baixa, com poucos sinais de repasse cambial.
Impulso Fiscal e Suas Consequências
Vitória também ressalta o impacto negativo do impulso fiscal recente, com o aumento das despesas públicas em um ambiente de mercado de trabalho aquecido. Este cenário pressiona a inflação, especialmente em serviços mais sensíveis a salários. “Juros reais acima de 6% não estão sendo suficientes para a convergência mais rápida da inflação para a meta, e vemos um cenário de juros altos no atual patamar de 10,5% por mais tempo”, afirma.
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A economista alerta que o risco de uma eventual elevação nos juros ressurge, caso o governo mantenha o patamar de expansão fiscal. O aumento do risco fiscal vem impactando a taxa de câmbio e estimulando a demanda em um ambiente de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) próximo do potencial.
Em conclusão, apesar da inflação acima das expectativas, o cenário atual sugere que a Selic deve permanecer inalterada, com a política monetária já suficientemente restritiva para controlar a inflação. A preocupação se volta agora para o impacto do impulso fiscal e suas possíveis consequências para a economia brasileira a médio e longo prazo.