A expansão de múltiplos no varejo tem chamado atenção dos investidores em 2025. De acordo com levantamento de analistas, o universo de cobertura de 28 empresas do setor subiu 11% no acumulado do ano. O atual múltiplo P/L (preço/lucro) futuro está em 11,5x — um avanço considerável frente às 9x registradas no início do ano, mas ainda 1,1 desvio padrão abaixo da média histórica de 17x. Esse dado é especialmente relevante quando lembramos que o P/L está diretamente ligado às taxas de juros, com uma correlação de R² = 0,62 com as curvas de 1 e 10 anos.
A expansão de múltiplos no varejo, portanto, reflete uma reprecificação de risco, em um momento em que os investidores voltam a adicionar exposição ao setor. Contudo, esse movimento ainda não se traduz em revisões positivas de lucro. Ao contrário, depois de três anos de ajustes negativos nas projeções, a expectativa é de uma estabilidade tímida nos resultados, sem grandes surpresas no curto prazo.
Sinais mistos para os lucros das varejistas
Na análise da prévia do 1T25,se destaca o crescimento de receita líquida e uma alavancagem operacional favorável devem garantir um desempenho decente. Ainda assim, os lucros seguem pressionados, mesmo com a queda do custo médio de financiamento. O caso da Raia Drogasil é emblemático: o lucro líquido projetado para 2025 está 38% abaixo do que se estimava em janeiro de 2024.
Outros nomes também sofreram com a revisão das expectativas: Renner (-5% para 2025), Vivara (-7%), Smartfit (-16%) e Mercado Livre (-5%). Este último, inclusive, reverteu parte dos ganhos de projeção obtidos até meados de 2024. Esses dados mostram que, embora exista uma expansão de múltiplos no varejo, a lucratividade ainda caminha a passos lentos.
Mesmo com uma leve recuperação, a maior parte das 26 empresas sob cobertura dos analistas segue com projeções ajustadas para baixo. A postura adotada tem sido de cautela — refletindo não apenas o cenário local, mas também a influência do ambiente macroeconômico internacional.
Transformações estruturais desafiam o setor de varejo
Apesar do avanço da expansão de múltiplos no varejo, fatores estruturais impõem desafios de longo prazo. A digitalização do consumo, iniciada com a pandemia, continua afetando margens — e o crescimento da presença online não compensa por completo a perda de dinamismo em canais físicos tradicionais, como shopping centers.
Outros pontos que pressionam as varejistas são o aumento da concorrência internacional e o surgimento de fintechs como rivais nos financiamentos ao consumo. O antigo diferencial competitivo de grandes redes com braços financeiros próprios já não é o mesmo. Soma-se a isso um ambiente de juros elevados e menor crescimento esperado do PIB, e temos um cenário que justifica múltiplos mais baixos de forma estrutural.
A expansão de múltiplos no varejo pode continuar nos próximos meses, mas com menor intensidade. Será necessário acompanhar de perto o comportamento do consumidor, a evolução das taxas de juros e o grau de disciplina das empresas no controle de custos e desalavancagem.
Posicionamento estratégico para navegar a volatilidade
Em meio à volatilidade, analistas sugerem uma exposição seletiva ao setor. Empresas como Mercado Livre (MELI), Grupo Mateus, C&A e Smartfit são apontadas como destaques positivos, com fundamentos mais sólidos e menos suscetíveis a revisões negativas. Lojas Renner e Assaí também aparecem como apostas para o médio prazo, especialmente diante da perspectiva de corte de juros no Brasil.
A expansão de múltiplos no varejo pode trazer boas oportunidades — mas exige leitura cuidadosa do cenário macro, disciplina na análise de fundamentos e uma visão estratégica para filtrar os nomes mais resilientes. O investidor que quiser aproveitar o atual momento do setor precisa considerar essas variáveis antes de ampliar sua exposição.