O Banco Central Europeu (BCE) iniciou o ciclo de flexibilização da sua política monetária nesta quinta-feira, dia 6 de junho, ao reduzir as suas três taxas de juros diretoras em 25 pontos base. Esta é a primeira diminuição dos juros de referência do BCE em dois anos – até então, estavam no nível mais elevado de sempre – e terá impacto na vida das famílias, especialmente em relação ao crédito habitação e remunerações nos depósitos. No entanto, há incerteza quanto aos próximos cortes dos juros do BCE.
Como previam os analistas e os mercados financeiros, o BCE avançou com o corte dos juros diretores em 25 pontos base na reunião de política monetária desta quinta-feira, 6 de junho. Este é o primeiro alívio no custo do dinheiro após 10 aumentos consecutivos e cinco estabilizações para controlar a inflação na zona euro.
“O Conselho do Banco Central Europeu decidiu reduzir as três taxas de juro diretoras do BCE em 25 pontos base. Com base numa avaliação atualizada das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária, é agora apropriado moderar o nível de restritividade da política monetária, após as taxas de juro terem sido mantidas constantes durante nove meses”, explicam em comunicado.
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Com este alívio da política monetária, já anunciado pelo BCE, as três taxas de juro diretoras ficam nos seguintes valores, pelo menos, até 18 de julho de 2024, data da próxima reunião de política monetária do BCE:
- A taxa de juro das principais operações de refinanciamento fixa-se em 4,25% em junho, anteriormente estava em 4,5%, o nível mais elevado desde maio de 2001.
- A taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez fica em 4,50%, anteriormente estava em 4,75%, um valor igual ao de outubro de 2008.
- A taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos passa a 3,75%, anteriormente estava em 4,00%, o maior valor de sempre.
Este corte das taxas diretoras pelo BCE foi apoiado por diversos fatores económicos observados nos últimos trimestres. Um deles é a tendência de queda da inflação na zona euro (apesar de ter subido ligeiramente para 2,6% em maio, após se fixar em 2,4% nos dois meses anteriores). Os especialistas do Eurosistema projetam que a inflação global na zona euro seja, em média, de 2,5% em 2024, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026. A inflação subjacente deverá situar-se em 2,8% em 2024, 2,2% em 2025 e 2,0% em 2026.
“Desde a reunião do Conselho do BCE de setembro de 2023, a inflação desceu mais de 2,5 pontos percentuais e as perspetivas de inflação melhoraram significativamente. A inflação subjacente também abrandou, reforçando os sinais de enfraquecimento das pressões sobre os preços, tendo as expectativas de inflação baixado em todos os horizontes”, justifica o BCE na mesma nota.
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Outro fator é a transmissão da política monetária às economias. “A política monetária manteve as condições de financiamento restritivas. Ao atenuar a procura e manter as expectativas de inflação bem ancoradas, tal deu um contributo importante para a descida da inflação”, acrescentam.
Contudo, o regulador europeu alerta que “as pressões internas sobre os preços permanecem fortes, dado que o crescimento dos salários é elevado, sendo provável que a inflação se mantenha acima do objetivo durante grande parte do próximo ano”. O aumento dos rendimentos das famílias e o alívio da política monetária poderão ajudar no crescimento da economia europeia, que deverá aumentar para 0,9% em 2024, 1,4% em 2025 e 1,6% em 2026.
Qual será o ritmo de descida dos juros do BCE daqui para a frente?
A grande incógnita agora é saber qual será o próximo alívio da política monetária do regulador liderado por Christine Lagarde. Alguns acreditam que poderá haver condições para uma segunda descida dos juros na reunião de julho, enquanto outros consideram improvável que ocorra tão cedo. O certo é que qualquer decisão do BCE será baseada nos dados económicos que serão divulgados nos próximos meses, especialmente a taxa de inflação.
Uma das vozes que coloca a hipótese de um novo corte dos juros em julho é a do governador do Banco Central da Grécia, Yannis Stournaras. Em entrevista no início de maio, avançou que “dependendo dos dados da inflação, é provável que haja outro corte em julho. Depois do verão, voltaremos a ver”. Na sua visão, haverá apenas três cortes nas taxas de juro em 2024.
Já Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do BCE, avisou recentemente que “com base nos dados atuais, um corte de juros em julho não parece justificado”. E considerou ainda que a trajetória da política monetária além de junho “é muito mais incerta” e os dados mais recentes confirmam que a reta final do processo de desinflação “é a mais difícil”, uma vez que a maioria dos choques do lado da oferta que afetaram os preços foram revertidos. Por isso, aponta um segundo possível ajustamento dos juros apenas para o outono.
Também o economista-chefe do BCE, Philip Lane, considerou que a instituição deve manter uma política restritiva de taxas de juro este ano, apesar de ter sido favorável à redução de junho. “A magnitude da inflação que ainda se regista nos serviços e na inflação interna significa claramente que temos de ser restritivos este ano, porque temos de garantir que as pressões de custos ainda significativas não se repercutem demasiado nos aumentos de preços”, afirmou em entrevista ao Financial Times, publicada na semana passada.
Neste contexto, vários analistas de mercado admitem que há incerteza quanto aos novos cortes dos juros do BCE para 2024. “Embora haja um consenso sobre este primeiro corte, o ritmo de cortes futuros está dependente de um animado debate dentro do Conselho”, considerou Franck Dixmier, da Allianz Global Investors, citado pela Lusa.
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As próximas reuniões do BCE
O Conselho do BCE reúne-se aproximadamente de seis em seis semanas. Este é o calendário das próximas reuniões de política monetária do guardião do euro, nas quais vai anunciar as suas decisões sobre as taxas de juro diretoras:
- 18 de julho de 2024
- 12 de setembro de 2024
- 17 de outubro de 2024
- 12 de dezembro de 2024