As ações do setor financeiro estão no centro das atenções do mercado em 2025, impulsionadas por valorizações relevantes desde o início do ano e por um ambiente de juros em transformação. Segundo estudo recente do BTG Pactual, os papéis das instituições financeiras listadas na B3 subiram, em média, mais de 35% no acumulado do ano até meados de maio, superando o próprio Ibovespa, que acumula alta de 15% no mesmo período. Essa dinâmica reacende questões sobre a sustentabilidade dos preços e o que esperar nos próximos trimestres.
TIR implícita e custo de capital
O destaque do relatório setorial do BTG é a análise da TIR implícita, ou seja, a taxa interna de retorno que o mercado está exigindo das ações com base nos preços atuais. Em 31 de dezembro de 2024, a TIR implícita das principais ações do setor estava em 18%. Com a valorização acumulada, esse número caiu para 15,8% — uma queda de 210 pontos-base. A título de comparação, os títulos públicos (NTN-Bs) de 10 anos caíram apenas 90 pontos-base no mesmo período, para 14,1%. O resultado disso é um prêmio de risco das ações de apenas 1,7%, contra 3% no final de 2024.
Essa compressão de prêmio indica que os investidores estão aceitando retornos menores em troca de maior exposição à renda variável, sugerindo uma expectativa de manutenção ou redução do custo de capital no futuro próximo.
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Bancos tradicionais: Itaú, Bradesco e BB
Entre os bancos incumbentes, o Itaú (ITUB4) é o destaque positivo. A ação subiu 33% em reais até maio, negociando a 2x seu valor patrimonial e 8,7x P/L 2025. Apesar do patamar elevado, a performance surpreende, dado que o banco já liderava em rentabilidade nos anos anteriores.
O Bradesco (BBDC4) também apresentou desempenho expressivo, com alta de 31%. O banco teve a maior revisão positiva de lucros para 2025 entre os pares, embora com melhora mais modesta nas expectativas de retorno sobre o patrimônio (ROE).
O Banco do Brasil (BBAS3), por sua vez, teve performance mais fraca, reflexo de expectativas negativas para os resultados do 1T25 e preocupações sobre sua gestão pública. No entanto, segue como uma das opções mais descontadas em termos de valuation.
Bancos digitais: Nubank e Inter
As ações do setor financeiro incluem também os bancos digitais, que têm atraído atenção nos últimos anos. O Nubank (ROXO34) acumula alta inferior aos pares, com impacto das revisões negativas de lucro ao longo do início de 2025. Entretanto, com a divulgação dos resultados do 1T25, a perspectiva é de estagnação nas revisões negativas e possível retomada das expectativas.
O Banco Inter (INBR32) apresenta forte recuperação, com alta de 52% no ano. Após um final de 2024 marcado por quedas acentuadas, o banco se beneficia da expectativa de crescimento a partir de 2026, especialmente com o lançamento do produto de crédito consignado privado.
Bolsa e corretoras: B3, XP e BTG
No segmento de infraestruturas de mercado, a B3 (B3SA3) se destacou no início de 2025, após resolução judicial favorável sobre passivos fiscais. Com isso, o papel teve forte valorização e superou a meta de preço definida pelo BTG, o que pode limitar os ganhos futuros.
A XP Inc. (XPBR31) teve desempenho abaixo do esperado, subindo “apenas” 60% no ano, o que está abaixo do esperado dado seu beta elevado. Dificuldades como o vazamento de dados, instabilidade no aplicativo e um relatório de venda a descoberto afetaram o sentimento do mercado. A depender da solução desses problemas, o papel pode voltar a subir.
O BTG Pactual (BPAC11), por sua vez, não foi diretamente comentado no relatório setorial, mas é considerado benchmark do setor e apresenta consistência em resultados.
Seguradoras: Porto Seguro, BB Seguridade e Caixa Seguridade
O segmento de seguros, apesar de mais defensivo, apresentou bom desempenho nos primeiros meses do ano. A Porto Seguro (PSSA3) se beneficiou de revisão positiva de lucro e da expansão de múltiplo após um 1T25 forte.
A BB Seguridade (BBSE3), recentemente rebaixada para “neutro” pelo BTG, teve performance mais fraca, o que melhora a assimetria risco-retorno. Já a Caixa Seguridade (CXSE3) também está em posição interessante, com duration mais curta e menor sensibilidade a variações de mercado.
Meios de pagamento: Stone e PagSeguro
As empresas de meios de pagamento são as mais sensíveis a juros e tiveram valorização expressiva, refletindo melhora operacional, alocação de capital eficiente e ganho de margens.
A Stone (STNE) já teve seu modelo ajustado após os resultados do 1T25 e apresenta CoE (custo de capital próprio) atualizado. A PagSeguro (PAGS) ainda precisa passar pela atualização do modelo, o que pode provocar revisões no seu CoE implícito.
Perspectivas para as ações do setor financeiro
Com os últimos dados em mãos, o BTG ressalta que a continuidade da alta nas ações do setor financeiro dependerá menos de revisões de lucro e mais da reprecificação dos múltiplos. Em outras palavras, para as ações subirem mais, seria necessário que os investidores aceitassem pagar ainda mais caro por esses ativos. Essa é uma decisão que dependerá do apetite ao risco global, da taxa de juros e de fatores como as eleições brasileiras.
O cenário de juros mais baixos é positivo para o setor, em especial para os bancos e empresas de pagamento. No entanto, a compressão no prêmio de risco sugere que boa parte desse movimento já está precificada.
Para o investidor de longo prazo, o desafio é encontrar valor em ativos que já subiram muito, mas ainda mantêm fundamentos sólidos. O setor financeiro brasileiro segue lucrativo, resiliente e com bons nomes de qualidade, mas a seleção passa a ser mais criteriosa. Acompanhar revisões de lucro, evolução dos prêmios de risco e as expectativas para o custo de capital será essencial para navegar esse novo momento do mercado.
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