A alta do IOF promovida pelo Ministério da Fazenda no fim de maio trouxe consequências imediatas para o agronegócio brasileiro. O imposto sobre operações financeiras em transações internacionais subiu de 0,38% para 3,5%, um salto de mais de 800%, impactando diretamente produtores rurais, exportadores e fornecedores de insumos.
Lucas Moreno, CEO da startup de logística Ello X, alerta para os impactos logísticos. “O custo adicional de IOF em um frete de US$ 4.000 saltou de US$ 15 para US$ 140 por contêiner”, calcula. Com os armadores repassando o valor ao cliente final, o produtor perde margem, já que não consegue reajustar o valor da commodity no mercado internacional.
Insumos mais caros e risco de produção reduzida
A alta do IOF também encarece as importações de insumos como fertilizantes, sementes e máquinas agrícolas. Em um cenário de Selic elevada (14,75% ao ano), as margens dos produtores, já comprimidas desde 2023, ficam ainda mais pressionadas.
“Hoje, o produtor já sabe que pode ter prejuízo mesmo antes de plantar”, explica Moreno. A tendência é que muitos optem por reduzir o uso de insumos, o que pode comprometer produtividade e levar a menor produção agrícola no ciclo 2025/26.
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Crédito rural em risco com IOF mais elevado
Segundo David Télio, diretor da Terra Magna, a alta do IOF também interfere negativamente no crédito rural. “O imposto é embutido no custo dos empréstimos contratados por fornecedores e cooperativas que financiam o produtor”, afirma.
As cooperativas de crédito, responsáveis por atender pequenos e médios agricultores, devem ser ainda mais impactadas. Com custo financeiro mais elevado, muitas instituições terão dificuldade em manter as mesmas linhas de crédito, colocando em risco a produção agrícola em várias regiões do país.
Consequências sistêmicas e possível impacto na inflação
Télio ressalta que, apesar das exportações serem isentas de IOF, os produtores que dependem de crédito são atingidos. “O efeito é sistêmico e afeta toda a cadeia. Isso pode pressionar os preços de alimentos no mercado interno”, afirma.
Essa pressão sobre os alimentos chega em um momento delicado para o governo. A inflação no setor de alimentação tem influência direta sobre a popularidade da gestão federal, especialmente entre as camadas mais sensíveis da população.
Manifesto contra a alta do IOF mobiliza o agro
Entidades do setor, como a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Cecafé e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), já se posicionaram contra a medida. Um manifesto conjunto, assinado por 12 frentes parlamentares, foi encaminhado ao governo pedindo a revogação do aumento.
O documento critica o uso recorrente do IOF como ferramenta de arrecadação sem debate público. “É uma medida preocupante, que compromete a previsibilidade e a competitividade do país”, diz o texto.
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Governo tenta justificar aumento do imposto
O Ministério da Fazenda justificou a alta do IOF como necessária para cumprir metas fiscais e garantir a arrecadação de R$ 18,5 bilhões. Segundo o ministro Fernando Haddad, o governo ainda pretende “corrigir distorções” no sistema financeiro, mas não especificou quais seriam essas mudanças.
A expectativa é que haja negociação com o Congresso para calibrar o decreto, com possível flexibilização ou compensações para setores estratégicos, como o agronegócio.