O tão aguardado acordo entre Mercosul e UE (União Europeia) inaugura uma nova era de oportunidades para o Brasil. Considerado um “marco histórico” por analistas, esse tratado cria uma conexão mais forte entre os dois lados do Atlântico. O principal impacto será sentido nos setores exportadores, como commodities, agronegócio e infraestrutura logística.
Segundo Graziano Messana, presidente da Eurochambers Brazil, o agronegócio brasileiro já é naturalmente competitivo, mas a eliminação de tarifas para mais de 90% dos produtos comercializados entre os blocos potencializará ainda mais sua força. O setor de carnes — bovina, suína e de aves — terá um acesso ampliado ao mercado europeu, tornando o Brasil um player ainda mais relevante no comércio global.
Além disso, produtos como soja, milho e café ganham destaque com a ampliação de acesso ao mercado europeu, um dos mais exigentes do mundo em termos de qualidade e sustentabilidade.
Ações brasileiras no radar do mercado europeu
Com o fortalecimento do comércio internacional, os especialistas apontam que empresas brasileiras listadas no Ibovespa serão diretamente beneficiadas com o acordo entre Mercosul e UE. Nomes como JBS, BRF, Marfrig e Minerva, que atuam no setor de frigoríficos e de proteínas, estão no topo da lista devido à crescente demanda do mercado europeu por carne de qualidade e sustentável.
Outras empresas como Cosan e Raízen também devem ganhar destaque, especialmente devido ao foco europeu em sustentabilidade. Já no setor de commodities, Vale e as indústrias siderúrgicas como Gerdau podem se beneficiar do incremento no comércio de insumos básicos para a União Europeia.
Rafael Dadoorian, sócio-fundador da Convexa, destaca que o Brasil ganha uma vitrine global ao entrar em um mercado exigente como o europeu. Isso deve consolidar nossa posição como líder em proteína animal, mas exige que as empresas cumpram requisitos rigorosos, como rastreabilidade e sustentabilidade da produção.
Logística e infraestrutura: o impacto indireto no Brasil
Outro setor que será indiretamente beneficiado é o de logística e infraestrutura. Com o aumento do fluxo de exportações, cresce a demanda por transporte marítimo e melhorias na infraestrutura portuária.
Messana ressalta que esse acordo entre Mercosul e UE não só promove o crescimento das exportações, mas também exige que o Brasil melhore sua capacidade logística para atender à nova demanda. Isso inclui melhorias nos portos e na malha ferroviária.
Empresas como WEG e Embraer também estão na lista de potenciais beneficiárias do acordo. Apesar de enfrentarem concorrência europeia, essas indústrias possuem inovação e qualidade para competir em mercados internacionais.
Como o acordo entre Mercosul e UE atrai Investimentos e enfrenta desafios
O acordo entre Mercosul e UE surge como uma luz no fim do túnel para o Brasil em meio a um cenário econômico desafiador. Após quatro anos consecutivos de resultados positivos, 2024 desponta como um dos piores anos da última década em termos de investimentos estrangeiros, com fuga de R$ 25,9 bilhões registrada até novembro. Apesar disso, especialistas avaliam que o tratado pode reverter essa tendência e atrair novos aportes.
Atração de Investimentos: Uma Oportunidade Promissora
Segundo Lucas Sigu Souza, sócio-fundador da Ciano Investimentos, o acordo entre Mercosul e UE vai além de promover o comércio. Ele traz mecanismos de desburocratização e garantias que tornam o Brasil mais atraente para investidores estrangeiros.
Souza explica que com a desburocratização de processos, mesmo que as tarifas permaneçam, os negócios se tornam mais viáveis. Isso direciona recursos para novas oportunidades.
Setores como infraestrutura, logística e energia renovável estão entre os mais promissores para captação de investimentos. Além disso, a melhora na previsibilidade regulatória e a aproximação com os padrões europeus oferecem um ambiente mais confiável para o investidor internacional.
O acordo entre Mercosul e UE também abre portas para a modernização da indústria brasileira, especialmente em setores estratégicos, como energia limpa e transporte.
Os Desafios do Acordo Entre Mercosul e UE
Apesar das oportunidades, o acordo entre Mercosul e UE apresenta desafios significativos para a economia brasileira. A abertura comercial favorece a entrada de produtos europeus no mercado local, o que pode impactar negativamente setores menos competitivos.
O acordo entre Mercosul e UE também representa um desafio significativo para os países do Mercosul, ao potencializar a primarização das exportações brasileiras. Embora o agronegócio e as commodities possam apresentar um aumento expressivo na participação das exportações para a União Europeia, setores industriais de alta e média-alta tecnologia, como o de máquinas e equipamentos, poderiam enfrentar dificuldades para competir. Estudos baseados no modelo GTAP indicam que a produção brasileira em setores de maior intensidade tecnológica pode sofrer retração de até 3,71%, enquanto as importações da UE nesses segmentos devem aumentar significativamente, agravando o déficit comercial do Brasil em produtos industrializados.
Concorrência Europeia no Brasil
Patrícia Krause, economista-chefe da Latin America Coface, destaca que áreas como farmacêutica, máquinas e equipamentos elétricos podem sofrer com a competitividade europeia. Além disso, empresas como Ambev podem enfrentar novos competidores no mercado europeu, reduzindo sua vantagem competitiva.
Dadoorian acrescenta que o acordo entre Mercosul e UE traz boas perspectivas, mas o sucesso não será automático. O Brasil precisará ter uma estratégia sólida para aproveitar o momento, especialmente considerando a fragilidade do mercado interno.
Proteção para a Indústria Automotiva
Embora o setor automotivo fosse um dos mais preocupantes, termos anunciados pelo governo brasileiro incluíram salvaguardas para proteger e ampliar investimentos na área. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) avaliou positivamente o acordo entre Mercosul e UE, acreditando que ele pode fomentar a modernização da indústria.
Impactos do acordo entre Mercosul e UE: Perspectivas e Análises
O acordo entre Mercosul e UE é considerado um dos mais abrangentes pactos comerciais firmados por ambos os blocos, abrangendo desde comércio de bens até temas como propriedade intelectual e compras governamentais. Estudos recentes destacam tanto os ganhos econômicos quanto os desafios que o Brasil e os demais países do Mercosul enfrentarão.
Benefícios do acordo para o Agronegócio
- Agronegócio em Alta O setor agropecuário será o grande beneficiado, com destaque para carnes, óleos vegetais e produtos alimentícios. Projeções apontam aumentos de produção de 2%, equivalente a US$ 11 bilhões até 2040. O Brasil também se consolida como exportador de café processado, com um crescimento esperado de 33% nas vendas para a UE nos próximos anos.
- Efeitos no PIB e Comércio
- O Brasil teria o maior ganho relativo de PIB entre os signatários, com alta de 0,46% até 2040, somando US$ 9,3 bilhões.
- Exportações e importações brasileiras aumentariam 3%, com destaque para o crescimento em setores tradicionais.
Desafios para a indústria e Assimetrias Competitivas
- Indústria de Transformação Sob Pressão Setores como máquinas, têxteis e equipamentos elétricos podem sofrer perdas significativas, enquanto áreas como calçados e papel devem se beneficiar.
- Primarização das Exportações O acordo tende a aprofundar a especialização em commodities, aumentando a vulnerabilidade do Brasil a variações nos preços globais.
- Acesso Restrito a Mercados Europeus Apesar de ganhos no agronegócio, a União Europeia mantém barreiras em setores sensíveis como automotivo e farmacêutico, limitando as oportunidades para produtos brasileiros de maior valor agregado.
Perspectivas Futuras para os setores dos blocos
- Competitividade Industrial A integração trará desafios para a competitividade da indústria brasileira, que precisará investir em inovação e eficiência.
- Investimentos e Sustentabilidade O acordo pode atrair novos investimentos, mas a adesão a padrões rigorosos da UE em sustentabilidade e rastreabilidade será fundamental.
Considerações finais
O acordo entre Mercosul e UE se destaca como um marco nas relações comerciais entre os blocos, oferecendo benefícios significativos para setores estratégicos da economia brasileira. O agronegócio lidera os ganhos, com expectativas de ampliação nas exportações de carne, café processado e grãos, consolidando a posição do Brasil como um importante fornecedor para o mercado europeu. Além disso, a eliminação de barreiras tarifárias promete beneficiar também setores de logística e infraestrutura, essenciais para sustentar o crescimento no fluxo comercial.
No entanto, o tratado não está isento de desafios. A abertura comercial expõe setores industriais menos competitivos, como os de máquinas, equipamentos elétricos e farmacêuticos, à concorrência de produtos europeus mais avançados. Ao mesmo tempo, a tendência de primarização das exportações brasileiras pode aprofundar a dependência do país em commodities, reforçando vulnerabilidades a oscilações de preços globais. Esses fatores ressaltam a necessidade de políticas robustas para modernizar a indústria nacional e equilibrar os impactos do acordo.
Em última análise, o acordo entre Mercosul e UE oferece ao Brasil uma oportunidade única de atrair investimentos, diversificar mercados e fortalecer sua presença global. Para maximizar esses benefícios, será fundamental alinhar estratégias de sustentabilidade, inovação e capacitação tecnológica com as exigências do mercado europeu. Dessa forma, o Brasil poderá transformar os desafios em catalisadores para um crescimento econômico mais dinâmico e competitivo.
Referências Bibliográficas
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