Apesar das projeções otimistas para as safras de milho nos Estados Unidos e no Brasil, analistas do setor agropecuário apontam que a escassez de milho no mundo deve continuar até pelo menos 2026. Segundo o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o desequilíbrio entre oferta e demanda global continuará pressionando os estoques e, consequentemente, os preços do cereal.
Atualmente, o déficit global de milho é estimado em 30 milhões de toneladas. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reportou, em maio de 2025, uma produção global de 1,221 bilhão de toneladas para o ciclo 2024/25, contra um consumo projetado de 1,250 bilhão. Para a safra 2025/26, a previsão é de um crescimento na produção para 1,264 bilhão de toneladas, mas com consumo aumentando para 1,274 bilhão, o que ainda resultaria em um déficit de 10 milhões de toneladas.
Brandalizze alerta que esse cenário pode se agravar, uma vez que o consumo tem crescido em ritmo mais acelerado que a produção. “Mesmo com aumento na safra americana, os fundamentos indicam que os preços podem ultrapassar os US$ 5,00 por bushel em Chicago no contrato de julho de 2026”, afirmou.
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Estoques e projeções para o milho no Brasil
Dados organizados pela Agrinvest Inteligência mostram que os estoques finais brasileiros de milho devem se manter apertados. Para o período de fevereiro de 2025 a janeiro de 2026, os estoques devem fechar em 14,28 milhões de toneladas, suficientes para apenas 59 dias de consumo. Já entre fevereiro de 2026 e janeiro de 2027, a previsão é de estoques em 13,52 milhões de toneladas, equivalentes a 54 dias de consumo.
Com isso, o consultor reforça que mesmo sem um déficit tão acentuado como o atual, o desequilíbrio entre oferta e demanda global manterá os preços do milho elevados. “O mercado vai perceber que o milho está barato diante do risco de desabastecimento. Preços entre US$ 4,50 e US$ 5,00 por bushel devem ser a nova realidade”, completou.
Impacto da China e clima como variável crítica
A China, um dos principais consumidores e importadores de milho do mundo, é um fator decisivo nesse cenário. Segundo Roberto Carlos Rafael, diretor da Germinar Corretora, a inconstância nos dados chineses gera insegurança no mercado global. “Eles estimam importar entre 8 e 10 milhões de toneladas, mas com a redução dos estoques internos, esse número pode subir subitamente”, explica.
Além disso, fatores climáticos continuam sendo um risco latente. Problemas nas lavouras chinesas e em outras regiões produtoras, como Argentina e União Europeia, podem comprometer as safras e ampliar o desequilíbrio. A quebra da safra de trigo em alguns países também tende a aumentar a demanda por milho no mundo como substituto na ração animal.
Protagonismo do milho brasileiro
O milho do Brasil segue como um dos mais competitivos do mundo. O país deve colher mais de 100 milhões de toneladas em 2025 e pode exportar até 40 milhões, segundo Cristiano Palavro, da Pátria Agronegócios. Com qualidade elevada e custos de produção mais baixos, o milho brasileiro já está sendo negociado com prêmios mais baratos que os do milho americano.
“Mesmo com uma oferta robusta, a demanda interna e externa vai exigir volumes altos. A competitividade do milho brasileiro deve garantir bons negócios em 2025 e também em 2026″, explica Palavro. Segundo ele, a demanda será um fator-chave para sustentar os preços, mesmo com momentos de pressão sazonal no segundo semestre.
Negócios antecipados e relações de troca
Outro ponto destacado é que muitos produtores já travaram negócios para a safrinha de 2026 por meio de trocas por insumos. Brandalizze observa que as relações milho-insumo estavam mais favoráveis do que as da soja, o que incentivou as negociações antecipadas.
“Houve revendas que fecharam volumes acima de 1 milhão de sacas em três dias, mostrando que o produtor acredita na continuidade da demanda internacional forte”, conclui o consultor.
Cenário global e estoques apertados
Mesmo com uma produção global estimada em crescimento, os estoques finais devem continuar apertados. Dados da Agrinvest mostram que, mesmo com um aumento de 50 milhões de toneladas na produção global, os estoques finais devem crescer apenas 10 milhões. Isso mostra a força da demanda global e como os estoques estão longe de se normalizar.
Adicionalmente, a situação do trigo influencia diretamente o mercado de milho no mundo, pois ambos são utilizados na alimentação animal. A quebra da safra de trigo em países da Europa e da Ásia tem feito com que o milho seja mais demandado como alternativa, o que contribui para o aumento da pressão sobre o cereal.
Exportações brasileiras ganham força
Com prêmios mais atrativos e logística eficiente, o milho brasileiro deverá bater recordes de exportação em 2025. Cristiano Palavro prevê embarques de até 40 milhões de toneladas, caso a logística portuária suporte essa demanda. “Nosso milho voltou a ser o mais competitivo do mundo, e a demanda externa já está respondendo positivamente”, disse.
O milho brasileiro tem como vantagem adicional a colheita em período seco, o que garante maior qualidade ao grão. “Este ano teremos milho de excelente qualidade, o que agrega valor e abre mercados importantes como China e Europa”, complementou.
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Tendências para 2026
Para 2026, o cenário continua favorável para o milho do Brasil. Muitos negócios futuros já estão fechados com base em boas relações de troca com insumos, especialmente fertilizantes e defensivos. Isso indica uma safra robusta e preparada para atender tanto o consumo interno quanto as demandas de exportação.
Além disso, fatores climáticos adversos em outros países e o comportamento imprevisível da China podem abrir ainda mais espaço para o milho brasileiro no mercado global.
O milho no mundo continua em desequilíbrio
Apesar das boas colheitas previstas, o cenário global ainda é de apreensão. O milho no mundo continua em desequilíbrio entre oferta e demanda, com o consumo crescendo em ritmo acelerado. O Brasil desponta como principal fornecedor competitivo, mas a pressão sobre estoques globais e as incertezas com o clima e a China devem manter os preços do cereal elevados até 2026.