Antes de apresentarmos o resumo do resultado do 2T24 do Varejo, cabe lembra que no ano passado, os varejistas brasileiros enfrentaram um cenário difícil, marcado pela pressão sobre o consumo devido a fatores como altas taxas de juros, endividamento elevado e inadimplência crescente. Esses desafios foram evidentes nos resultados das empresas do setor, que refletiram os gastos limitados dos consumidores. No entanto, nos últimos meses, especialmente no primeiro semestre de 2024 (1S24), surgiram sinais de melhora, impulsionados por uma perspectiva macroeconômica mais favorável e por iniciativas internas das empresas que contribuíram para aumentar a lucratividade.
Apesar da recuperação ainda ser lenta, há sinais positivos que indicam uma melhora gradual. Durante o segundo trimestre de 2024 (2T24), as empresas varejistas brasileiras apresentaram um crescimento de 7% na receita consolidada em comparação com o mesmo período do ano anterior. O EBITDA, que mede o desempenho operacional das empresas, aumentou 20%, superando as expectativas em 3%. Além disso, a margem EBITDA subiu 90 pontos-base em relação ao ano anterior, e o lucro líquido das empresas saltou de R$ 340 milhões no 2T23 para impressionantes R$ 1,6 bilhão no 2T24.
No entanto, é importante notar que, embora esses resultados possam parecer promissores, o setor ainda enfrenta incertezas significativas. A recuperação econômica continua sendo um processo gradual, e a discussão em torno das taxas de juros terminais permanece no centro das atenções, com possíveis implicações negativas para as empresas que estão tentando reduzir seus níveis de alavancagem. Além disso, a carga tributária também deve aumentar este ano, o que pode impactar a lucratividade das empresas no futuro.
Desempenho no 2T24 do E-commerce: Mercado Livre em Destaque
Entre os principais players de e-commerce, o Mercado Livre (MELI) destacou-se no resultado do 2T24 do varejo, apresentando um desempenho superior aos concorrentes. No Brasil, o GMV (Volume Bruto de Mercadorias) do Mercado Livre cresceu 36% em relação ao ano anterior, atingindo R$ 33,8 bilhões. Esse crescimento foi impulsionado por um aumento de 37% no volume de transações, resultando em um acréscimo de R$ 8,9 bilhões no GMV, superando de longe os R$ 658 milhões adicionados pelo Magazine Luiza (MGLU) e a queda de R$ 1,3 bilhão registrada pela Casas Bahia.
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O Mercado Livre também registrou um conjunto sólido de números trimestrais, com a receita líquida ajustada 9% acima das projeções, representando um crescimento de 42% em relação ao mesmo período do ano anterior. O lucro operacional ajustado também superou as estimativas, com um aumento de 10%, enquanto a receita líquida ajustada registrou um crescimento impressionante de 103% em comparação ao 2T23, 23% acima das previsões.
Os destaques positivos do Mercado Livre incluíram o forte crescimento no Brasil e no México, com o GMV aumentando 36% e 30%, respectivamente. Esse desempenho ajudou a compensar a compressão da margem operacional na Argentina, onde o GMV sofreu uma queda de 240 pontos-base devido a investimentos em transporte e maiores provisões de crédito.
Por outro lado, o Magazine Luiza teve um desempenho mais modesto. O GMV de e-commerce da empresa cresceu apenas 1% em comparação ao ano anterior, com uma queda de 1% no 1P (vendas próprias) e um crescimento de 4% no 3P (marketplace). No total, o GMV do Magazine Luiza foi de R$ 15,4 bilhões, representando um aumento de 4% em relação ao ano anterior, mas ainda 1% abaixo das expectativas.
Enquanto isso, a Casas Bahia enfrentou um período desafiador, com o GMV consolidado caindo 12% em relação ao 2T23 e o GMV online caindo 24%. A empresa continua seus esforços para transferir produtos menos rentáveis para o formato 3P, o que levou a um crescimento modesto de 1% no GMV do 3P.
Apesar do desempenho inferior em termos de crescimento, o Magazine Luiza conseguiu aumentar sua margem EBITDA em 280 pontos-base, alcançando 7,9%, um pouco acima das expectativas. Essa melhoria na margem EBITDA foi um destaque positivo em meio a um ambiente de crescimento desafiador.
Varejo Alimentar: Competição e Estratégias de Expansão
No resultado do 2T24 do varejo alimentar, o Carrefour e o Grupo Mateus destacaram-se no 2T24. O Carrefour, apesar de uma desaceleração recente na inflação de alimentos, conseguiu aumentar seu Same Store Sales (SSS) em 4,8% em comparação com o mesmo período do ano anterior, recuperando-se da queda de 3,9% registrada no 2T23. Na divisão de cash&carry, o SSS cresceu 6,4%, também uma melhora significativa em relação ao ano anterior.
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O Grupo Mateus, por sua vez, apresentou resultados sólidos, com um aumento de 20% nas vendas brutas, impulsionado por uma base de comparação forte e pela abertura de 27 novas lojas nos últimos 12 meses. O EBITDA ajustado do Grupo Mateus aumentou 12% em relação ao ano anterior, com uma margem de 7,4%.
Outro player importante, o Assaí, também registrou crescimento no 2T24. As vendas líquidas da empresa, incluindo 24 lojas abertas nos últimos 12 meses, aumentaram 12% em relação ao 2T23. A margem bruta do Assaí cresceu 50 pontos-base, refletindo a maturação das lojas e uma estratégia comercial mais eficaz.
Varejo de Moda e Acessórios: Desempenho Misto Entre as Empresas
No varejo de moda e acessórios, o desempenho variou significativamente entre as empresas. A Arezzo e o Grupo Soma, que atendem principalmente a consumidores de alta renda, enfrentaram dificuldades no 2T24, com números mais fracos do que o esperado. Em contraste, a Vivara apresentou um crescimento decente na receita e uma melhora na lucratividade, superando as expectativas dos analistas.
A Renner também se destacou positivamente, registrando um conjunto de números operacionais melhores do que o esperado, apesar das condições climáticas adversas no sul do Brasil. A receita da divisão de varejo da Renner cresceu 3% em relação ao ano anterior, enquanto o EBITDA ajustado aumentou 14%, superando as estimativas.
A C&A, por sua vez, continuou a registrar resultados sólidos, com uma expansão robusta da receita e do EBITDA, mais uma vez superando as expectativas. O Grupo SBF também apresentou números operacionais fortes no 2T24, com a receita líquida ligeiramente acima das projeções e o EBITDA e o lucro superando as expectativas.
Resultado do 2t24 do varejo brasileiro aponta para desafios
Embora o resultado do 2T24 do varejo tenha mostrado sinais encorajadores de recuperação, ainda há incertezas em relação à perspectiva macroeconômica. O desempenho das ações do setor continua altamente correlacionado com as condições econômicas, incluindo os custos de financiamento e a demanda do consumidor, que estão diretamente influenciados pelas taxas de juros e pela renda familiar.
Além disso, as empresas que atendem a famílias de alta renda podem continuar a enfrentar desafios para manter o crescimento dos volumes, especialmente à medida que os aumentos de preços se tornam mais difíceis de sustentar. A alavancagem financeira também permanece uma preocupação, limitando a capacidade de investimento das empresas.
Outro fator a ser considerado é a Reforma Tributária, que deve aumentar a carga tributária dos varejistas em 2024, impactando diretamente suas margens de lucro.
Nesse ambiente misto o resultado do 2T24 do varejo brasileiro e diante de variáveis macroeconômicas incertas e algumas melhorias nas condições microeconômicas, os investidores devem ser seletivos ao escolher onde alocar seus recursos no setor de varejo. Algumas empresas, como o Mercado Livre, Smartfit, Lojas Renner, Grupo Mateus e Vivara, estão melhor posicionadas para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades de crescimento.