Você já parou para pensar no que faz o preço de um simples chocolate mudar? Pode parecer só mais um doce na prateleira, mas por trás da barra, da trufa ou do bombom, existe uma cadeia produtiva longa, vulnerável — e agora, pressionada como nunca. O preço do cacau explodiu, e essa alta histórica está mexendo com tudo: produtor rural, indústria alimentícia e, claro, o nosso bolso.
Um salto que faz história: preço do cacau atinge patamar recorde
Nos últimos dois anos, o preço do cacau subiu mais de 190%, saindo de cerca de US$ 2.800 por tonelada em 2023 para mais de US$ 8.300 em abril de 2025 — com picos que passaram de US$ 12 mil. Isso representa a maior alta em 50 anos. E não é só especulação: há uma explicação clara para isso.
As lavouras da África Ocidental, que respondem por mais de 70% da produção mundial, enfrentam uma combinação perigosa: envelhecimento das plantações, doenças, baixa produtividade e os efeitos imprevisíveis das mudanças climáticas. Com menos oferta e demanda aquecida, o resultado é um só: preço do cacau nas alturas.
“Para todo mundo comer chocolate no mundo, é preciso produzir 5 milhões de toneladas. Em 2024, tivemos déficit e o estoque global ficou abaixo”, explica Ricardo Gomes, do Instituto Arapyaú.
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Indústria em alerta: manter sabor e cliente virou desafio
Esse aumento histórico não é só um número em bolsa de valores — ele impacta diretamente a indústria. Para as marcas de chocolate, o dilema é cruel: ou aumentam os preços e perdem vendas, ou absorvem o custo e sacrificam margens. Aline Palmiro, da Java Chocolates, resume bem o momento: “Criamos novas fórmulas, reduzimos gramaturas e mudamos embalagens para equilibrar custo e experiência. É como dançar na corda bamba”.
Em outras palavras, menos cacau, mais criatividade — e mais desafio. Pequenos produtores estão migrando para vender o grão como commodity, em vez de processar como cacau fino. Resultado? Menos diversidade de chocolates artesanais e premium, mais pressão sobre quem ainda insiste na qualidade.
Sorvetes, confeitaria e outros setores também sentem
Engana-se quem pensa que só o chocolate sofre. O cacau é ingrediente essencial em coberturas, recheios e misturas de sorvetes e confeitos. “Já estamos vendo troca de chocolate puro por misturas mais baratas. E isso, claro, afeta o sabor e a percepção do consumidor”, afirma Wander de Carvalho, do SindSorvete-MG.
Segundo fornecedores como a Food Base, os reajustes nos preços desses produtos podem chegar a 50% em 2025. “O impacto está represado, mas inevitável”, diz Plínio Frabetti. E ele tem razão: com estoques antigos se esgotando, a nova realidade começa a bater na porta de quem compra, fabrica e consome.
E o Brasil nisso tudo? Potência que pode crescer
Apesar da crise global, especialistas apontam que o Brasil tem uma oportunidade: ampliar sua presença como produtor relevante de cacau. A Fralía, por exemplo, anunciou a abertura de uma nova fábrica em Minas Gerais com capacidade três vezes maior que a atual. O país tem clima, tecnologia e, agora, demanda.
Além disso, o Senado aprovou um projeto que estabelece novos percentuais mínimos de cacau nos chocolates, garantindo mais qualidade e transparência para o consumidor. A proposta prevê, por exemplo, que chocolates meio-amargos tenham pelo menos 35% de sólidos totais de cacau — acima dos atuais 25% exigidos pela Anvisa.
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O que esperar do preço do cacau daqui pra frente?
Especialistas acreditam que essa alta não é passageira. A previsão é que os preços se mantenham elevados pelos próximos três a quatro anos — até que novos plantios em países produtores comecem a equilibrar a oferta global. Até lá, o que nos resta é adaptação.
E enquanto o preço do cacau estiver no centro das atenções, a indústria terá que ser ainda mais transparente, inovadora e conectada com o consumidor. A boa notícia? O setor já enfrentou tempestades antes — e sempre deu um jeito de se reinventar. A barra está pesada, mas o sabor do desafio também pode inspirar boas soluções.
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