No último mês de julho, os dados do payroll apresentaram um aumento de 187 mil empregos, ficando abaixo das expectativas tanto do consenso de mercado (200 mil) quanto da nossa própria estimativa (214 mil). Este é o segundo mês consecutivo de surpresa negativa, um contraste notável após catorze meses de surpresas positivas.
É válido ressaltar que os resultados de junho foram revisados de 209 mil para 185 mil, configurando um bimestre (junho-julho) marcado por números mais fracos.
No exame dos setores, o setor de Serviços ainda se destaca, criando 154 mil vagas (equivalente a 82% do total), sendo que os subsetores de Educação, Saúde e Turismo compõem 65% da leitura do setor de Serviços.
O setor privado mantém sua liderança na contribuição para a variação do nível de emprego, totalizando 172 mil vagas nessa leitura. A desaceleração mensal se deve, em parte, à redução das contratações no Setor Público, que passou de 57 mil para 15 mil.
Contrariando as expectativas, o setor de Lazer e Hospitalidade (20 mil vagas) não apresentou a performance exuberante aguardada para o mês. Por outro lado, é notável a recuperação de subsetores do setor de bens (inclusive dentro do setor de serviços), com destaque para o varejo e atacado.
A taxa de desemprego caiu de 3,6% para 3,5%, em um cenário em que a taxa de participação permaneceu estável em 62,6%. Tendo em vista os dados ainda sólidos do mercado de trabalho, não é perceptível uma tendência ascendente clara no desemprego.
Outra surpresa nessa leitura foi o indicador de ganho médio por hora, que mais uma vez avançou 0,4% em relação ao mês anterior (ante uma expectativa de 0,3%), resultando em uma variação anual de 4,4%. Nos últimos três meses, a média das surpresas mensais desse indicador foi de +10 bps, indicando uma dinâmica salarial ainda sob pressão.
E o que o futuro reserva?
Apesar da surpresa negativa, o nível de criação e preenchimento de vagas no payroll ainda sustenta a visão de um mercado de trabalho ajustado, o que vai ao encontro de outros indicadores como os pedidos de seguro-desemprego que continuam historicamente baixos, assim como o ISM de emprego e o próprio ADP.
Neste momento, a composição da surpresa é relevante, sendo que os segmentos mais fracos foram os setores de bens e o público.
A redução da taxa de desemprego foi acompanhada por uma manutenção da taxa de participação, ou seja, essa queda é genuína e não meramente resultado de uma mudança na força de trabalho.
Por outro lado, é notável que, em termos de tendência, o mercado de trabalho está menos apertado do que no ano anterior, como evidenciado pela redução da relação de vagas abertas para cada desempregado, de 1,6 para 1.
Apesar disso, a configuração atual, especialmente em relação à dinâmica salarial, não parece convergir com a meta de inflação, sobretudo a de serviços, para o ano de 2024.
O FOMC reconheceu essa melhora na reunião da semana passada, no entanto, é claro que serão necessários mais avanços nessas métricas para justificar uma reversão da política em 2024.