A cesta de Páscoa, tradicional símbolo de consumo no feriado religioso, ficou 69,8% mais cara entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2025, segundo levantamento da corretora Rico. No mesmo período, a inflação oficial medida pelo IPCA subiu 35,4%, ou seja, a cesta típica da data encareceu quase o dobro da média nacional.
Esse aumento expressivo nos preços tem pressionado o orçamento das famílias brasileiras, que veem o feriado da Páscoa se tornar, ano após ano, um momento mais simbólico e menos consumista. A cesta avaliada considera alimentos e produtos típicos como chocolates, pescados, biscoitos, frutas, leite condensado, açúcar e azeite de oliva.
Inflação da cesta de Páscoa nos últimos 12 meses
Apesar de uma inflação anual relativamente estável — com o IPCA subindo 5,06% e a cesta de Páscoa avançando 5,28% no mesmo período — o acúmulo ao longo dos anos revela um cenário preocupante para o poder de compra do consumidor.
Itens como chocolate em barra e bombom registraram inflação de 16,53% entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025, enquanto o azeite de oliva teve alta de 14,16% no mesmo intervalo. Por outro lado, alguns produtos como morango (-5,34%) e açúcar refinado (-1,06%) apresentaram deflação, embora tenham acumulado altas relevantes em anos anteriores.
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O chocolate virou artigo de luxo?
O destaque da Páscoa, o chocolate, tornou-se um dos principais vilões da inflação da cesta. Os dados mostram que o cacau, matéria-prima essencial do produto, disparou 173% em 2024. Essa alta foi causada por fatores climáticos extremos nas principais regiões produtoras da África Ocidental, como Costa do Marfim e Gana, o que comprometeu a colheita e elevou os preços globais da commodity.
Mesmo com uma leve retração nos preços do cacau em 2025, a redução ainda não chegou ao consumidor. Isso ocorre porque os fabricantes de ovos de Páscoa trabalham com estoques adquiridos com antecedência, ou seja, ainda refletem os custos elevados do ano anterior.
Além disso, a produção de ovos de Páscoa caiu 22,4% em 2025, de acordo com a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados). A menor oferta também contribui para a manutenção de preços elevados no varejo.
Comparativo de preços em 5 anos
A análise de longo prazo revela que os maiores vilões da cesta de Páscoa foram:
Item | 12 meses (%) | 5 anos (%) |
---|---|---|
Chocolate em barra e bombom | 16,53% | 56,43% |
Chocolate e achocolatado em pó | 12,49% | 69,81% |
Azeite de oliva | 14,16% | 119,36% |
Leite condensado | 8,98% | 55,05% |
Açúcar refinado | -1,06% | 81,98% |
Morango | -5,34% | 81,24% |
Cesta de Páscoa | 5,28% | 69,87% |
IPCA (referência) | 5,06% | 35,43% |
Enquanto isso, o IPCA acumulado no mesmo período foi de 35,43%. Isso demonstra como a inflação dos itens da cesta de Páscoa se desvinculou do ritmo médio da economia, evidenciando um impacto desproporcional sobre o consumo em datas comemorativas.
O impacto para o consumidor
De acordo com Maria Giulia Figueiredo, analista da Rico, o consumidor deve estar atento às “deflações ilusórias” de alguns itens. “Produtos como açúcar e morango apresentaram quedas nos últimos meses, mas continuam muito acima do valor praticado há cinco anos. Essas variações são muitas vezes apenas ajustes após picos de preços”, explica.
A tendência é que o consumidor reduza a quantidade de itens comprados ou opte por marcas mais acessíveis. A substituição de produtos, como trocar ovos de Páscoa por barras ou bombons, também tende a crescer, mantendo o simbolismo da data com menor impacto financeiro.
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E daqui para frente?
O cenário futuro depende de diversos fatores, como a normalização do clima nas regiões produtoras de cacau, o comportamento da inflação geral e o ajuste na cadeia produtiva. Por enquanto, analistas não veem espaço para quedas significativas nos preços, mesmo com a desaceleração do IPCA.
Para o investidor, essa dinâmica representa uma pressão sobre o setor de alimentos e varejo, especialmente na Páscoa. Empresas com dificuldade de repassar preços podem ver suas margens pressionadas. Por outro lado, players que operam com marcas acessíveis e bom controle de custos podem sair fortalecidos.