Preparamos as prévias dos resultados das empresas listadas do 2T2024 porque o calendário de resultados na Bolsa brasileira começa na próxima segunda dia 22 de julho. Consolidamos em um guia mais completo que você vai ver as projeções de resultados dos setores do varejo, educação, saúde, mineração e siderurgia.
Análise do Setor Varejista
O cenário macroeconômico brasileiro mostra uma tendência de recuperação gradual, especialmente para o setor varejista. Embora os varejistas de alto padrão enfrentem desafios, os de média e baixa renda apresentam sinais mistos. O final de 2023 e o início de 2024 trouxeram sinais encorajadores, refletidos nos resultados das empresas e no ambiente microeconômico, que se beneficiou de iniciativas de corte de custos e preservação de caixa.
Desempenho Geral do Setor
A temporada de resultados do segundo trimestre de 2024 deve mostrar uma recuperação gradual para os varejistas no Brasil. Espera-se uma aceleração na receita e nas margens, com o lucro sofrendo menos devido aos custos de dívida mais baixos. No entanto, temperaturas mais altas nos últimos meses impactaram negativamente os varejistas discricionários, enquanto as fortes chuvas no sul do Brasil afetaram empresas expostas ao Rio Grande do Sul.
Principais Projeções do consenso:
- Crescimento de Faturamento (Receita Líquida): 7% a/a
- Crescimento do EBITDA: 18% a/a
- Crescimento do Lucro Líquido: de R$76 milhões no 2T23 para R$1,2 bilhão no 2T24
Essas projeções do consenso destacam um setor varejista brasileiro em recuperação, com empresas focadas em otimização de custos e alavancagem operacional. O impacto positivo do cenário macroeconômico, combinado com estratégias eficientes de gestão, pode contribuir para um desempenho mais robusto das empresas no segundo trimestre de 2024.
Tendências no E-commerce Brasileiro
O setor de e-commerce no Brasil continua enfrentando o dilema entre crescimento e lucratividade. Três tendências principais são observadas:
- Crescimento mais lento do GMV: Reflete a menor renda disponível e restrições de capital.
- Foco na lucratividade: Menos foco em categorias não lucrativas, especialmente aquelas com tíquetes médios mais baixos, e aumento dos take rates.
- Consolidação do mercado: Aceleração da consolidação entre alguns poucos players, impulsionada pelo cenário macroeconômico desfavorável.
Desafios e Perspectivas
Os varejistas brasileiros enfrentam desafios macroeconômicos significativos, com quedas de 15% no acumulado do ano devido à aversão ao risco. As altas taxas de juros e uma economia com sinais mistos aumentam essa aversão. Apesar dos múltiplos estarem mais baratos (mediana de 12x P/L para 2025 comparado a 17x nos últimos 14 anos) e melhora nos KPIs operacionais, a incerteza macroeconômica permanece.
GUIA PARA A TEMPORADA DE RESULTADOS 2T2024
Cenário do Setor de Educação
A prévia do segundo trimestre de 2024 indica que Ânima (ANIM) e Cruzeiro do Sul Educacional (CSED) serão os destaques em um trimestre fraco para o setor de ensino superior. O crescimento das receitas e do EBITDA continua a desacelerar, e a perspectiva se torna ainda mais conservadora.
No início de 2024, havia um otimismo significativo no setor de ensino superior, impulsionado pelo incentivo às matrículas presenciais e por dinâmicas de preços mais favoráveis. No entanto, após um primeiro trimestre decepcionante, o segundo trimestre confirma a desaceleração.
Principais Desafios:
- Taxas de Evasão Elevadas: Impacto negativo no crescimento da base de alunos.
- Aumento das Despesas: Maior investimento em marketing e Programas de Desenvolvimento Acadêmico (PDAs).
- Receitas e EBITDA: Desaceleração contínua do crescimento.
Desempenho Financeiro
Com exceção de Ânima e Cruzeiro do Sul Educacional, é esperado que as demais empresas do setor apresentem crescimento fraco, margens EBITDA estáveis, despesas financeiras pesadas e fraca geração de caixa. Espera-se que a receita líquida consolide uma desaceleração, atingindo 7% a/a, para R$ 6,3 bilhões.
Projeções Consolidadas do Consenso:
- Receita Líquida: Crescimento de 7% a/a (desaceleração em relação aos trimestres anteriores: 11,5% no 1T24, 13% no 4T23, 15% no 3T23 e 17% no 2T23).
- Crescimento do EBITDA: 9% a/a (comparado a 11% no 1T24, 21% no 4T23 e 27% no 3T23).
- Lucro Líquido Ajustado Consolidado: Aumento de 33% a/a, para R$ 468 milhões.
Por isso, as empresas do setor de educação continuarão enfrentando desafios significativos em 2024. A base de comparação mais difícil e um ambiente regulatório mais rigoroso adicionam pressão.
- Regulamentação Adicional no Ensino à Distância: Pode representar riscos negativos adicionais.
- Curva de Yields: Potenciais revisões altistas podem resultar em revisões negativas nos resultados das empresas do setor, devido aos balanços altamente alavancados.
Desempenho no Setor de Saúde
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No segundo trimestre de 2024, espera-se que algumas empresas do setor de saúde, como HAPV, RDOR e FLRY, apresentem resultados sólidos, com margens melhores e fluxos de caixa positivos. Apesar da sazonalidade desfavorável, que geralmente resulta em frequências mais altas, os planos de saúde devem ver uma melhoria significativa na sinistralidade anual, juntamente com uma concorrência menos agressiva.
Desempenho dos Planos de Saúde
Os planos de saúde (HAPV e SULA) estão beneficiando-se de aumentos de preços de dois dígitos e de um controle mais rigoroso dos custos, melhorando a sinistralidade caixa em uma base anual. Embora o segundo trimestre apresente a sazonalidade habitual com maiores frequências, a concorrência menos agressiva contribui para adições líquidas mais fortes.
Os provedores de saúde, como Rede D’Or (RDOR) e Fleury (FLRY), devem apresentar números sólidos, com uma ligeira melhora na arrecadação de caixa e margens melhores. A inflação nos serviços de saúde, com preços superando o IPCA, sugere tendências de receita líquida razoáveis para esses provedores.
Cenário Geral do Setor de Saúde
Apesar dos desafios persistentes, como glosas mais altas e dinâmica difícil de capital de giro, o setor de saúde mostra sinais positivos para algumas empresas. A sazonalidade desfavorável do segundo trimestre e a alta sinistralidade caixa esperada são compensadas por uma concorrência menos agressiva e aumentos de preços significativos.
O segundo trimestre de 2024 deve trazer sinais de otimismo, especialmente para as large caps do setor de saúde, como Hapvida (HAPV), Rede D’Or (RDOR) e Fleury (FLRY). Apesar dos desafios persistentes, essas empresas são esperadas para apresentar resultados sólidos.
Enquanto as large caps demonstram um cenário mais otimista, os desafios no setor de saúde permanecem evidentes, especialmente para as small caps. Problemas como glosas mais altas, dinâmica difícil de capital de giro e sazonalidade desfavorável continuam a impactar negativamente essas empresas menores. A Hypera (HYPE) é a única large cap do setor de saúde que deve apresentar resultados fracos no segundo trimestre de 2024.
Setor de Mineração e Siderurgia
No segundo trimestre de 2024, os preços das commodities de metais básicos tiveram um destaque significativo, com um aumento de aproximadamente 15% em relação ao trimestre anterior (alta de 20-30% em relação às mínimas de 2024). No cenário macroeconômico, os mercados imobiliários chineses continuaram a mostrar sinais de fraqueza, enquanto a inflação nos EUA permaneceu desconfortavelmente alta. A economia dos EUA também apresentou alguns sinais de crescimento moderado, com o índice ISM abaixo de 50 no período.
No segmento de commodities, o cobre enfrentou pressões devido às restrições de fornecimento das minas. Isso intensificou a pressão sobre os balanços de oferta e demanda, levando a preços ainda mais elevados. O alumínio, como substituto do cobre, também foi impulsionado por essa dinâmica. As taxas de tratamento e refino (TC/RCs) cobradas pelas fundições atingiram mínimas de vários anos. No entanto, houve uma reversão rápida nos preços do cobre no Comex, chegando a quase US$ 5,20/lb.
Enquanto isso, o minério de ferro e o aço também enfrentaram desafios. A percepção de menor demanda por aço na indústria de construção chinesa (principalmente imobiliária, que representa 1/4 da demanda) resultou em uma deterioração dos balanços de oferta e demanda de curto prazo, com os preços recuando 5-10%.
No setor de celulose, os preços continuaram em alta, refletindo gargalos de fornecimento e uma crescente demanda na Europa. A força da celulose nos últimos meses surpreendeu até os mais otimistas, e espera-se que os próximos resultados reflitam essa tendência positiva. No entanto, é importante observar alguns sinais de alerta, especialmente na China, onde a revenda está próxima de US$ 100/t abaixo dos preços de tabela. Isso sugere que podemos ver uma retração no mercado chinês no segundo semestre de 2024, embora partindo de uma base muito alta.
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O que o consenso espera das empresas
No segundo trimestre de 2024, tanto a Suzano quanto a Klabin devem registrar um aumento significativo no EBITDA, aproximadamente 20% em relação ao trimestre anterior. Esse crescimento está diretamente relacionado ao aumento dos preços das commodities. Os investidores estão atentos, especialmente considerando o cenário de um Real brasileiro mais fraco. Além disso, a Suzano conseguiu se afastar de um acordo complicado com a IP, o que pode contribuir para sua performance sólida.
A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) também se beneficiou da descompressão dos preços do alumínio. Seu EBITDA deve apresentar um crescimento ainda maior, partindo de uma base previamente deprimida.
No setor de mineração e siderurgia, o minério de ferro (Vale/CMIN) registrou alguma melhoria na margem, mas acreditamos que ainda há espaço para melhorias nos próximos trimestres. O foco agora está nos mercados imobiliários, que enfrentam desafios, e os resultados do segundo trimestre de 2024 dificilmente alterarão o sentimento geral.
Por outro lado, as empresas com exposição ao aço nos EUA tiveram um trimestre desafiador. Ternium e Gerdau foram os principais destaques negativos. A fraqueza na Gerdau está relacionada a um ambiente operacional fraco no Brasil e à falta de progresso tangível em seu programa de corte de custos. Quanto à Usiminas, embora tenha realizado reformas em seu alto-forno, não conseguiu relatar crescimento no EBITDA de sua unidade de aço neste trimestre.
Em resumo, os destaques positivos do trimestre incluem Suzano, Klabin e CBA, enquanto Gerdau e Usiminas enfrentaram desafios. O cenário econômico e as dinâmicas do mercado continuam a moldar o desempenho dessas empresas brasileiras.