A moral dos investidores alemães recuou em abril ao seu ponto mais baixo desde o início da guerra na Ucrânia, segundo o instituto ZEW (Zentrum für Europäische Wirtschaftsforschung). O índice de sentimento econômico caiu de 51,6 pontos em março para -14,0 pontos em abril, em um dos piores desempenhos desde o início da série histórica recente.
O resultado surpreendeu negativamente os analistas consultados pela Reuters, que esperavam uma leitura positiva, de 9,5 pontos. A queda reforça a percepção de que a Alemanha enfrenta um ambiente econômico hostil, pressionado por fatores externos e internos.
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Incertezas internacionais pesam na confiança
O presidente do ZEW, Achim Wambach, afirmou que a queda na moral dos investidores alemães está diretamente relacionada à instabilidade nas decisões políticas dos Estados Unidos. A política de tarifas do governo Trump — marcada por idas e vindas — elevou a incerteza nos mercados globais.
“Não se trata apenas do conteúdo das tarifas, mas da forma como elas são anunciadas e revogadas de forma repentina. Isso dificulta o planejamento de negócios, principalmente em uma economia exportadora como a Alemanha”, destacou Wambach.
O presidente norte-americano suspendeu, por três meses, a maior parte das tarifas impostas à União Europeia, incluindo uma alíquota de 20%. A suspensão veio após forte reação negativa dos mercados financeiros — que derrubou ações, títulos e o dólar. Apesar do alívio temporário, a confiança já havia sido abalada.
Indústria de bens de capital: impacto direto
A moral dos investidores alemães é particularmente sensível à situação da indústria, que representa grande parte do PIB do país. Thomas Gitzel, economista-chefe do VP Bank, destacou que a indústria de bens de capital — altamente dependente de exportações — foi duramente atingida pela incerteza.
“Empresas estão postergando investimentos, revisando projeções e suspendendo contratos por falta de previsibilidade”, afirmou Gitzel.
A Alemanha sempre se destacou por sua base industrial forte e por ser um hub de engenharia e tecnologia para toda a Europa. No entanto, a conjuntura global mais frágil e os conflitos políticos internos vêm enfraquecendo a resiliência alemã.
Reforma econômica travada agrava cenário
Internamente, o novo governo de coalizão da Alemanha tenta avançar com uma agenda de reformas fiscais e estruturais. No entanto, divergências entre os partidos que compõem a base têm travado decisões importantes e aumentado a percepção de instabilidade política.
Para o economista Bastian Hepperle, da Hauck Aufhaeuser Lampe, as medidas propostas não têm efeito prático até o momento:
“O governo até apresentou boas ideias, mas sem ação concreta. Isso afeta diretamente a confiança de investidores e empresários”, analisou.
Essa combinação de fatores faz com que a moral dos investidores alemães continue em declínio, mesmo com algumas tentativas de recuperação econômica.
Índice atual melhora, mas não convence
Curiosamente, o índice ZEW que mede a percepção sobre a situação econômica atual subiu de -87,6 para -81,2 pontos. Embora indique uma leve melhora, o patamar continua historicamente baixo, sinalizando que a recuperação é frágil e incerta.
Segundo Melanie Debono, economista sênior da Pantheon Macroeconomics, o pequeno avanço não reflete uma virada significativa:
“A melhora no indicador atual pode sinalizar estabilidade, mas está longe de representar confiança. A expectativa futura é o que realmente guia os investimentos, e ela despencou”, pontuou.
O que esperar para os próximos meses?
A moral dos investidores alemães serve como termômetro do humor do mercado frente à economia da maior potência da zona do euro. Com esse novo recuo, cresce o temor de que a Alemanha enfrente mais um ciclo de baixo crescimento ou até recessão técnica.
A tendência negativa pode ter efeito em cadeia, impactando toda a Europa e diminuindo o apetite por risco dos investidores internacionais.
Além disso, o próprio Banco Central Europeu (BCE) monitora o índice ZEW como um dos indicadores de confiança para decisões futuras sobre política monetária. Um cenário de estagnação na Alemanha poderia afetar a trajetória de juros e enfraquecer o euro frente a outras moedas.
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E os impactos para o investidor brasileiro?
O Brasil também pode sentir os efeitos indiretos dessa queda na moral dos investidores alemães. Com a Europa demandando menos produtos, exportadores brasileiros podem ver seus volumes reduzidos, especialmente no agronegócio e na indústria de base.
Além disso, investidores com exposição a ETFs europeus, fundos de ações globais ou empresas listadas na B3 com forte presença internacional devem acompanhar com atenção os desdobramentos.
A aversão ao risco, que normalmente acompanha cenários de incerteza, pode provocar fuga de capital de mercados emergentes, como o Brasil, impactando o câmbio e os índices de ações.