O Brasil sempre foi visto como um país do meio. Diplomático, prudente, mediador. Um país que evitava brigas — e que, por isso mesmo, raramente fazia inimigos declarados.
Mas essa imagem parece estar se desfazendo.
Nos últimos meses, a relação com os Estados Unidos, tradicional parceiro comercial e diplomático, azedou de vez. E não estamos falando apenas de divergências ideológicas ou farpas políticas: estamos falando de guerra tarifária, ameaças sobre uso de tecnologia, possíveis sanções e bloqueios de acesso a satélites e GPS.
O tom subiu — e, se alguém ainda duvidava, a crise ganhou nome próprio: o tarifaço de Trump.
Mas… desde quando o Brasil esteve tão perto de romper com uma potência global?
O Brasil e sua tradição de neutralidade
Historicamente, o Brasil sempre buscou neutralidade. Participou da fundação da ONU, evitou se alinhar totalmente a blocos ideológicos e sempre tentou ocupar o papel de negociador — seja no Oriente Médio, na América do Sul ou nas relações comerciais internacionais.
É essa postura que deu ao país acesso simultâneo a fóruns como G20, BRICS, Mercosul e, ao mesmo tempo, acordos bilaterais com os EUA e a União Europeia.
Mas não foi sempre paz e diplomacia.
Relembre os momentos em que o Brasil bateu de frente
1. Segunda Guerra Mundial (1942)
Após sucessivos ataques a navios brasileiros no Atlântico, o país rompeu com a Alemanha nazista e o Eixo — e entrou na guerra ao lado dos Aliados, inclusive enviando a Força Expedicionária Brasileira para lutar na Itália.
Foi a quebra mais explícita da neutralidade brasileira no século 20.

2. Período militar e autonomia nuclear (anos 1970)
Mesmo com apoio dos EUA ao golpe de 64, o Brasil começou a divergir nos anos seguintes.
Em 1971, reconheceu a China comunista antes dos EUA, e em paralelo desenvolveu um programa nuclear independente, algo que gerou pressão e vigilância por parte do governo norte-americano.

3. Caso Cesare Battisti (2009–2011)
O Brasil desafiou a União Europeia ao negar a extradição do ex-terrorista italiano Cesare Battisti. A decisão causou forte tensão com a Itália e o bloco europeu.

4. Escândalo da NSA (2013)
Durante o governo Dilma, revelações da espionagem americana mostraram que até o celular da presidente estava sendo monitorado.
O episódio levou ao cancelamento de visita oficial aos EUA e a um discurso duro contra o imperialismo digital na ONU.

E agora? O Brasil entra em rota de colisão com os EUA?
O que acontece hoje é diferente.
Não é um episódio isolado, nem uma reação a um ataque direto. É uma mudança estrutural na relação entre Brasil e Estados Unidos.
Estamos vendo:
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Guerra tarifária declarada
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Ameaças de sanções comerciais e tecnológicas
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Retaliações diplomáticas veladas
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Diferenças ideológicas expostas em cúpulas globais
Pela primeira vez em muito tempo, os EUA estão tratando o Brasil com desconfiança.
E o Brasil, por sua vez, está ensaiando uma resposta com tons soberanos e independentes.
Estamos vivendo uma ruptura histórica?
O Brasil nunca esteve tão próximo de ser visto como um “desalinhado” pelos Estados Unidos.
Seja pela aproximação com China e Rússia, pelos posicionamentos em fóruns globais ou pela retórica de autonomia econômica, algo mudou.
E a pergunta que fica é:
Estamos assistindo ao nascimento de uma nova política externa brasileira?
Uma que não aceita ser submissa — mesmo que isso signifique fazer novos desafetos?
Talvez seja o preço da soberania.
Ou talvez seja o início de uma turbulência geopolítica que ainda não sabemos onde vai parar.