Ambipar: o caso da empresa com R$ 4,7 bi em caixa e à beira da recuperação judicial

Ambipar surpreende ao cogitar RJ mesmo com R$ 4,7 bi em caixa; mercado questiona liquidez real e transparência das operações.
Ambipar

Apesar de apresentar R$ 4,7 bilhões em disponibilidades no balanço do segundo trimestre de 2025, a surpreendeu o mercado ao entrar com um pedido de proteção judicial contra execuções de ívidas. A medida levanta dúvidas sobre a real liquidez da empresa, que possui uma estrutura societária complexa, com mais de 300 subsidiárias e aplicações pulverizadas no Brasil e no .

Dado no balanço contrasta com situação financeira

De acordo com a petição judicial protocolada no Rio de Janeiro, a Ambipar justifica o pedido de proteção alegando discordância com cobranças de chamadas de margem em contratos de derivativos envolvendo o Deutsche Bank. As cobranças teriam ultrapassado R$ 200 milhões, mas, em teoria, não justificariam um processo tão drástico diante da aparente folga de caixa da empresa.

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No balanço, constam R$ 2,6 bilhões em caixa ou aplicações de resgate imediato, além de um FIDC de R$ 2 bilhões com prazo de resgate entre 30 e 60 dias. A dívida total é de R$ 10 bilhões, com R$ 5,7 bilhões em dívida líquida, o que resulta em um patamar de alavancagem operacional considerado razoável para o setor.

Transparência em xeque

O principal questionamento de analistas e credores está relacionado à localização e composição do caixa da Ambipar. Três fontes consultadas relatam que bancos credores iniciaram consultas cruzadas na semana passada e constataram inconsistências nas informações recebidas.

Boa parte do caixa não estaria aplicada em grandes bancos no , mas distribuída em diversas instituições financeiras, especialmente no exterior. A dispersão dos recursos e a estrutura societária fragmentada dificultam a rastreabilidade e geram dúvidas sobre a real capacidade de liquidação imediata da companhia.

O FIDC de R$ 2 bilhões, por exemplo, aparece no balanço apenas com uma breve menção nas notas explicativas, sem detalhes sobre composição, riscos ou ativos subjacentes. Tampouco consta no formulário de referência da empresa junto à CVM, o que levanta suspeitas sobre a natureza e liquidez desses recursos.

Estrutura societária complexa

A Ambipar opera através de mais de 300 , listadas ao longo de 32 das 65 páginas do pedido de cautelar apresentado à Justiça. Trata-se de um conglomerado construído por meio de aquisições aceleradas, com operações em diversas jurisdições, inclusive paraísos fiscais como Cayman e Panamá.

Embora o caixa total seja consolidado no balanço da Ambipar, uma parte dele está vinculada a subsidiárias com acionistas minoritários ou restrições operacionais, o que compromete a efetiva disponibilidade desses recursos para arcar com obrigações imediatas da holding.

Agências de rating alertam para governança

As agências Fitch e colocaram a nota de crédito da Ambipar em observação negativa, apontando possível rebaixamento. Ambas reconhecem a aparente robustez de liquidez, mas apontam falhas significativas na governança corporativa e na transparência das informações financeiras.

A S&P destacou o risco sobre a liquidez de curto prazo e a natureza das aplicações financeiras, afirmando que parte relevante está investida em instrumentos sem liquidez imediata. A agência também criticou o alto turnover na diretoria e conselhos, o que indicaria falhas na supervisão de práticas de capital.

Saída de executivos e desvalorização dos títulos

Nos últimos dias, houve uma série de saídas de executivos importantes, incluindo o diretor jurídico Mauro Nakamura, o diretor de relações com investidores Pedro Petersen e, principalmente, o CFO João Arruda, que havia ingressado na companhia com a missão de racionalizar as operações.

A debandada coincidiu com um forte sell-off nos green bonds da Ambipar, que já vinham sendo negociados a 30% do valor de face e caíram para 20% após o pedido de proteção judicial.

Legado do caso Master e investigações em curso

Desde o início de 2025, os investidores institucionais já vinham se afastando da Ambipar, especialmente após a investigação da CVM sobre a movimentação atípica das da companhia. Pareceres técnicos da autarquia indicaram que a valorização anormal dos papéis em dezembro de 2024 teria sido impulsionada por compras realizadas pela tesouraria da empresa, pelo controlador Tércio Borlenghi e por fundos ligados a Nelson Tanure e ao Banco Master.

A CVM, no entanto, considerou que não houve aquisição coordenada que justificasse uma OPA obrigatória, mas a decisão foi polêmica e contou com dois votos de minerva. O órgão regulador segue apurando a legalidade das recompras realizadas.

Aos investidores, a Ambipar afirma não ter qualquer exposição direta ao Banco Master. Procurada para comentar o caso, a companhia não respondeu até a publicação desta matéria.

O caso da Ambipar expõe uma situação paradoxal: uma empresa com alto volume de caixa registrado em balanço, mas sob risco de colapso financeiro e cercada por dúvidas sobre a real liquidez e qualidade de sua governança. O mercado segue aguardando maiores esclarecimentos por parte da empresa e das autoridades reguladoras para entender se a Ambipar enfrenta uma de liquidez ou, sobretudo, uma crise de confiança e transparência.

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