A crise da Ambipar (AMBP3) atingiu um novo patamar após o Deutsche Bank contestar as alegações da companhia e pedir à Justiça a reconsideração da decisão que suspendeu execuções financeiras. O banco alemão classificou como “narrativa espetaculosa” a versão apresentada pela Ambipar, que busca se proteger de credores por meio de um pedido de tutela judicial.
Nos últimos dois meses, a empresa de gestão ambiental havia cumprido todas as chamadas de margem, desembolsando cerca de R$ 170 milhões. No entanto, a situação mudou quando o Deutsche solicitou um novo depósito de R$ 60 milhões em setembro — valor que, segundo o banco, decorre apenas da valorização do real frente ao dólar, típica de operações de swap cambial.
Deutsche Bank nega culpa e afirma que Ambipar tem caixa suficiente
Em documentos enviados ao Tribunal do Rio de Janeiro, o Deutsche Bank sustentou que o depósito exigido não representa risco para a Ambipar, que reportou R$ 4,7 bilhões em caixa no segundo trimestre de 2025.
O banco alega que a empresa usou o pedido de proteção judicial como uma “estratégia oportunista”, criando uma falsa sensação de urgência para evitar o pagamento das obrigações contratuais.
“A crise do Grupo Ambipar nada tem a ver com as operações de derivativos realizadas com o Deutsche Bank. A cautelar construiu uma verdadeira cortina de fumaça para justificar uma tutela ilegal”, diz trecho do documento obtido pelo mercado.
Entenda o caso: swaps, aditivos e a batalha bilionária
A Ambipar firmou dois contratos de swap cambial com o Deutsche Bank — o primeiro com vencimento em 2031 e outro em 2033. Essas operações foram realizadas para proteger a empresa das oscilações cambiais sobre suas dívidas em dólar.
Em agosto, as partes firmaram um aditivo contratual que incluiu bonds da Ambipar como garantias e um empréstimo adicional de US$ 35 milhões. No entanto, após a forte queda nas ações e nos títulos da companhia, a Ambipar passou a contestar as cláusulas, alegando abuso contratual.
O Deutsche rebateu, afirmando que a empresa “agiu de forma contraditória” e que a cobrança foi legítima e prevista em contrato.
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Ambipar contrata BR Partners e ações desabam mais de 60%
Em meio ao turbilhão, a Ambipar contratou o BR Partners (BRBI11) como assessor financeiro para conduzir a reestruturação de suas dívidas e negociar com credores.
A crise, no entanto, já se reflete no mercado: as ações AMBP3 despencaram 61,48%, encerrando o pregão a R$ 2,75, a menor cotação da história da empresa.
Investidores temem que o caso evolua para uma recuperação judicial caso as negociações com credores fracassem.
O que está em jogo para a Ambipar
Fundada com a promessa de ser uma líder global em soluções sustentáveis, a Ambipar cresceu de forma acelerada desde seu IPO em 2020, adquirindo mais de 70 empresas. No entanto, o ritmo agressivo de expansão deixou a companhia altamente alavancada e vulnerável à deterioração do cenário de crédito.
Agora, a disputa com o Deutsche Bank ameaça colocar em xeque a governança e a credibilidade da Ambipar — além de servir como alerta para o mercado sobre os riscos de operações de hedge e derivativos mal administradas.
O futuro incerto da Ambipar
Com o caso sob análise judicial e a reputação da companhia abalada, o desfecho da crise da Ambipar (AMBP3) pode se tornar um divisor de águas no mercado financeiro brasileiro. A empresa tenta evitar uma recuperação judicial completa, enquanto o Deutsche Bank busca garantir seus contratos e afastar responsabilidades.
O episódio reforça uma lição valiosa para investidores e empresas: proteções financeiras, como swaps e derivativos, podem se tornar uma armadilha quando aliadas a gestão agressiva e falta de transparência.
