Os resultados do quarto trimestre de 2023(4t23) da Petrobrás foram divulgados com uma notável omissão que provavelmente despertará grande descontentamento: a ausência de dividendos extraordinários. Ao optar por reter US$ 8.8 bilhões em sua reserva de capital recentemente criada e aprovar a distribuição de apenas US$ 2.8 bilhões, a empresa não apenas desapontou, mas também surpreendeu negativamente até mesmo os investidores mais pessimistas. Isso resultou em uma queda de mais de 10% nas ações da Petrobras na abertura das negociações.
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A incerteza em torno do uso dos US$ 8.8 bilhões retidos na reserva de capital, somada à falta de clareza sobre seu potencial de geração de caixa adicional, contribui para um ambiente de preocupação. Embora fusões e aquisições sejam uma possibilidade, o montante retido poderia ser destinado a diversas outras finalidades, como a aquisição de participações em outras empresas ou a expansão de operações existentes.
Além disso, a Petrobrás enfrenta desafios adicionais de governança corporativa, uma vez que qualquer uso alternativo dos fundos da reserva de capital exigiria alterações no estatuto da empresa. Enquanto o mercado se esforça para compreender a decisão de não distribuir dividendos adicionais, a confiança na possibilidade de uma reavaliação parece estar em declínio.
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Embora os resultados trimestrais da Petrobras tenham sido sólidos e alinhados com o consenso, o foco agora está na incerteza em torno da distribuição de dividendos e na alocação de capital futura da empresa. Este ambiente de incerteza provavelmente resultará em um aumento do prêmio de risco associado às ações da Petrobras, à medida que os investidores buscam maior clareza e transparência em relação às futuras decisões da empresa.
O resultado do 4T23
Apesar das preocupações em torno da distribuição de dividendos, os números apresentados pela Petrobras no último trimestre foram sólidos e em linha com as expectativas do mercado. O EBITDA ajustado atingiu a marca de US$ 15 bilhões, representando um aumento de 9,5% trimestre a trimestre. Esse crescimento foi impulsionado pela maior produção de petróleo no Brasil, alcançando 2,36 milhões de barris por dia (kb/d), combinada com uma redução nos custos de extração para US$ 7,8 por barril de óleo equivalente (boe). Além disso, as margens de refino permaneceram resilientes, compensando os efeitos dos preços menores do petróleo bruto, que registraram uma queda de 3% trimestre a trimestre.
Um dos pontos positivos destacados foi a geração de fluxo de caixa, que totalizou US$ 6,2 bilhões, ou US$ 8,1 bilhões quando considerada a fórmula utilizada para o cálculo dos dividendos. Esse valor superou as expectativas em 12%, refletindo a eficiência operacional da empresa. Curiosamente, os investimentos realizados em 2023 totalizaram US$ 12,7 bilhões, 2,5% abaixo da estimativa oficial revisada de US$ 13 bilhões. Essa discrepância reforça a visão de que a Petrobras pode estar superestimando os investimentos projetados para 2024.
No que diz respeito à relação Div. Liquida/EBITDA, esta se manteve estável trimestre a trimestre, atingindo 0,85x no último trimestre.
A Petrobras ainda oferece um poten dividend yield de 12% em 2024, mas isso pode não ser suficiente para compensar os riscos envolvidos. A empresa está negociada com um desconto em relação aos seus pares globais e de mercados emergentes, mas a questão é: quão barato é barato o suficiente?