As ações do Banco do Brasil (BBAS3) vêm recuperando parte do terreno perdido em 2025. Depois de atingirem a mínima do ano em 1º de agosto, cotadas a R$ 18,35, os papéis acumulam valorização superior a 20% e voltaram ao radar dos investidores. O movimento é sustentado por uma combinação de medidas do governo federal, mudanças regulatórias e perspectivas de alívio contábil para o banco estatal. Mas a dúvida persiste: essa alta tem fôlego para continuar?
Medidas do governo aliviam pressão sobre o agro
No dia 5 de setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou uma Medida Provisória (MP) que libera R$ 12 bilhões para renegociação de dívidas de produtores rurais afetados por problemas climáticos. A iniciativa se soma a uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), publicada dias antes, que flexibilizou os critérios de cura de créditos em atraso.
Segundo analistas do Safra, as duas medidas afetam diretamente o tratamento contábil do banco e podem abrir caminho para uma recuperação gradual da rentabilidade do agronegócio, setor que concentra grande parte da carteira do BB.
De acordo com a MP, produtores poderão renegociar dívidas em condições mais favoráveis. Já a resolução CMN nº 5.244/2025 corrige distorções da antiga regra nº 4.966, que penalizava operações de longo prazo, como empréstimos com parcelas semestrais ou anuais. Agora, basta o produtor demonstrar capacidade de pagamento por 90 dias para que o crédito seja reclassificado do Estágio 3 (perda de valor) para o Estágio 2, permitindo o reconhecimento de juros.
Impacto imediato no balanço da BBAS3
Na divulgação dos resultados do 2º trimestre de 2025, o Banco do Brasil revelou que 34,6% das operações em Estágio 3 (R$ 32,2 bilhões) não estavam efetivamente inadimplentes. Grande parte eram contratos “bullet”, com pagamentos concentrados no vencimento.
Segundo o BTG Pactual, a nova regra permitirá que esses créditos sejam reclassificados, destravando o reconhecimento de receitas. A estimativa é que as medidas possam adicionar R$ 1,5 bilhão ao lucro líquido de 2026, além de reduzir provisões já a partir do quarto trimestre de 2025.
A instrução normativa do Banco Central, publicada em julho, também contribui para esse cenário. Ela estabeleceu que renegociações amparadas por decisões do CMN não precisam ser classificadas automaticamente como reestruturações de crédito em Estágio 3, o que reforça a visão de menor pressão sobre provisões e maior previsibilidade de receitas.
BBAS3 na B3: desempenho das ações em 2025
A recuperação recente é significativa. Em setembro, até o dia 11, BBAS3 já acumulava alta de 3,79%, após avanço de 8,58% em agosto. Apesar disso, as ações ainda estão distantes da máxima do ano, de R$ 29,22, registrada em 14 de maio, pouco antes da divulgação do balanço do 1º trimestre, que ficou aquém das expectativas do mercado.
Por volta das 10h35 desta quinta-feira (11), os papéis subiam 0,68%, cotados a R$ 22,20. Mesmo em recuperação, o desempenho do ano ainda é considerado frágil frente às incertezas estruturais no crédito rural e ao risco crescente em operações com pessoas físicas e pequenas e médias empresas.
O que dizem os analistas sobre BBAS3
O Safra reconhece que as medidas recentes oferecem alívio contábil de curto prazo para o banco, mas alerta que o problema estrutural de inadimplência no agronegócio não foi resolvido. O setor segue bastante alavancado, o que mantém o risco elevado.
O BTG Pactual tem avaliação semelhante: embora as novas regras melhorem o reconhecimento de receitas e tragam alívio para o balanço, os fundamentos permanecem desafiadores.
Já o Bradesco BBI destaca que a resolução 5.244/2025 foi um divisor de águas, eliminando a distorção contábil que congelava parte da carteira rural no Estágio 3. No entanto, a casa mantém postura cautelosa, aguardando clareza sobre os impactos práticos e sobre a sustentabilidade da melhora.
O futuro da BBAS3: alta consistente ou respiro temporário?
Para os analistas, a valorização recente da BBAS3 pode ser explicada pela combinação de valuation atrativo, alívio regulatório e expectativa de queda na Selic em 2026, que pode beneficiar o setor bancário como um todo.
No entanto, há riscos importantes no radar:
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Persistência da inadimplência no agronegócio, que segue pressionado por fatores climáticos e custos de produção.
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Riscos fiscais e políticos em um ano pré-eleitoral, que podem influenciar a percepção de risco sobre bancos estatais.
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Concorrência crescente no crédito rural e no varejo, especialmente de fintechs e cooperativas de crédito.
A performance recente da BBAS3 mostra que o mercado reagiu positivamente às medidas do governo e às mudanças regulatórias. O alívio contábil traz respiro imediato e pode fortalecer o resultado do banco nos próximos trimestres.
Ainda assim, especialistas alertam que os problemas estruturais permanecem e que o avanço das ações dependerá não apenas de medidas emergenciais, mas também da capacidade do Banco do Brasil de melhorar sua eficiência e manter a confiança dos investidores.
Se a alta seguirá ou não, dependerá da execução do banco nos próximos trimestres e da evolução do cenário macroeconômico. Para o investidor, a BBAS3 continua sendo uma oportunidade atraente em termos de preço, mas acompanhada de riscos relevantes.