As ações do Banco do Brasil (BBAS3) seguem pressionadas após a divulgação de dados preocupantes. Em maio, o lucro líquido da instituição foi de apenas R$ 516 milhões, uma queda expressiva frente aos R$ 1,7 bilhão registrados em abril e à média mensal de R$ 2,1 bilhões observada até abril. Esse dado sinaliza uma deterioração significativa da lucratividade da companhia e reforça a necessidade de revisão das projeções para o ano. Sanções americanas ao banco também estão no radar.
Esse enfraquecimento na lucratividade acende um alerta vermelho sobre a capacidade do banco de sustentar seus indicadores de rentabilidade no curto prazo, especialmente em um ambiente de maior risco para crédito agropecuário e margens financeiras pressionadas.
Revisões nos lucros e guidance do Banco do Brasil
Com base na queda de rentabilidade observada, na deterioração da carteira de crédito agro e nos dados preliminares de junho, o BTG Pactual projeta um lucro líquido de R$ 5 bilhões no 2T25 e R$ 23,5 bilhões no acumulado de 2025, o que representa uma redução de 20% em relação à projeção anterior. Isso coloca o retorno sobre patrimônio (ROE) estimado em 12,5% para o ano.
Além disso, espera-se uma revisão do guidance de lucro ajustado do BB para o intervalo de R$ 21 a R$ 25 bilhões e uma redução do payout para 30%, abaixo do patamar histórico de distribuição de dividendos.
Sanções dos EUA ao Banco do Brasil
Em meio às crescentes tensões políticas internacionais, o governo Trump estaria avaliando novas medidas contra o ministro Alexandre de Moraes. Segundo informações veiculadas pela Globo, entre as ações em discussão estão punições diretas a instituições financeiras, proibição de operações em qualquer moeda e um possível bloqueio total de contas atribuídas a Moraes. Eduardo Bolsonaro, figura central na articulação, teria se reunido com representantes do governo americano, traduzido matérias da imprensa brasileira e pressionado por sanções mais severas. A movimentação reforça o envolvimento da ala bolsonarista na tentativa de isolar o ministro do STF no cenário internacional.
Fatores estruturais no crédito agro afetam a performance
O principal fator para a deterioração nos resultados do Banco do Brasil está no setor agropecuário. A carteira de crédito rural cresceu de forma acelerada entre 2020 e 2023, mas sofreu nos últimos trimestres com a queda dos preços de commodities e problemas climáticos. O endividamento dos produtores aumentou e, com isso, a inadimplência disparou.
Além disso, mudanças regulatórias como a Resolução 4.966 e a aplicação da Lei 14.112/20 (que permite recuperação judicial de produtores rurais) tornaram mais difícil para o BB executar garantias e exigir pagamentos. Isso impactou a qualidade dos ativos e exigiu provisões adicionais.
Ainda, produtores não tradicionais que ingressaram recentemente no setor atraídos por altos preços, tendem a recorrer à justiça como estratégia de sobrevivência, o que afeta ainda mais a estabilidade do portfólio agro do banco.
Ações do Banco do Brasil em queda: o que está precificado?
Desde a divulgação do resultado do 1T25, as ações do Banco do Brasil (BBAS3) já recuaram mais de 32%. A queda é explicada tanto pela surpresa negativa nos lucros quanto pelo aumento na percepção de risco em relação à carteira agro. Investidores estão precificando um ciclo mais longo de recuperação e menores expectativas de distribuição de dividendos.
Segundo dados do Banco Central, o lucro líquido de maio do banco público foi de apenas R$ 516 milhões — bem abaixo da média histórica — o mercado passa a enxergar riscos adicionais que não estavam totalmente refletidos nos preços anteriormente. Isso reforça a cautela no curto prazo.
Recuperação pode ser mais lenta do que o esperado
A expectativa inicial de uma recuperação rápida da carteira agro pode estar equivocada. Com um terço da carteira total de crédito do BB ligada ao setor rural, o banco enfrenta limitações para crescer em outras frentes. Além disso, a judicialização de dívidas e a dificuldade de recuperação dos ativos tornam o ciclo de retomada mais lento e incerto.
Durante a Rio Financials Conference, o CFO do banco alertou que o índice de inadimplência acima de 30 dias requer provisões imediatas de até 30% e, acima de 90 dias, até 70%. A recuperação parcial de créditos inadimplentes (as chamadas “curas”) também se tornou menos frequente devido ao formato bullet dos contratos de crédito agro, que possuem vencimentos concentrados e longos.
Revisão de estimativas para os próximos trimestres
O BTG revisou as projeções para o BBAS3 trimestre a trimestre:
- 2T25: lucro líquido de R$ 5 bilhões (ROE de 11,1%).
- 3T25: lucro estável em R$ 5 bilhões, com crescimento tímido de NII (margem financeira).
- 4T25: melhora sazonal contribui para lucro de R$ 6,02 bilhões.
Para 2026 e 2027, projeta-se lucros de R$ 28,2 bilhões (ROE 14,2%) e R$ 32,7 bilhões (ROE 15%), respectivamente. Ainda assim, mantemos a recomendação Neutra para as ações do Banco do Brasil.
Payout menor e dividend yield em queda
A revisão do payout para 30% implica em menor retorno aos acionistas via dividendos. Com isso, o dividend yield estimado para 2025 cai para 5,6%, abaixo do Itaú, por exemplo. Esse fator, combinado à queda de lucros, limita o apelo das ações BBAS3 mesmo com múltiplos atrativos de valuation.
Com um valuation de 0,63x P/VPA, o ativo aparenta estar descontado. No entanto, o desafio será retomar crescimento consistente de lucro e manter indicadores de rentabilidade atrativos.
Riscos adicionais: PMEs e modelo de perdas esperadas
Além da carteira agro, o segmento de pequenas e médias empresas (PMEs) também tem apresentado sinais de deterioração. O banco já observa elevação de inadimplência nesse grupo, o que pode ampliar ainda mais a necessidade de provisões no segundo semestre.
Outro ponto importante: o modelo de perdas esperadas adotado pelo BB, com base na norma IFRS 9, torna mais difícil reduzir provisões rapidamente. Mesmo que haja recuperação parcial dos ativos, enquanto o crédito estiver classificado como Estágio 3, o banco só poderá reconhecer receitas de juros quando houver entrada efetiva de caixa.
O que esperar das ações do Banco do Brasil
Apesar do valuation atrativo, os riscos estruturais da carteira agro e a queda drástica no lucro de maio sugerem cautela. O investidor deve observar os resultados do 2T25, o novo guidance e a capacidade do BB de mitigar os riscos do crédito rural antes de ampliar posições no papel. Mudanças na gestão do Banco do Brasil também movimentaram as ações.