A confiança do consumidor dos EUA recuou inesperadamente em junho, segundo dados do Conference Board divulgados na terça-feira (24). O índice caiu 5,4 pontos, para 93,0 — bem abaixo da expectativa de alta para 100,0 — refletindo o impacto das tarifas comerciais e das incertezas no mercado de trabalho norte-americano.
Mercado de trabalho: a principal preocupação
As famílias demonstraram crescente apreensão quanto à disponibilidade de empregos. A parcela que considera as oportunidades abundantes caiu para 29,2%, o menor nível desde março de 2021 (ante 31,1% em maio). Já 18,1% percebem que empregos estão difíceis de conseguir, comparado aos 18,4% do mês anterior. Esse indicador, conhecido como “diferencial do mercado de trabalho”, atingiu apenas 11,1, o mais baixo dos últimos quatro anos. Internamente, isso se alinha ao aumento contínuo nos pedidos de seguro-desemprego e à moderação no ritmo de criação de vagas .
Tim Quinlan, economista sênior do Wells Fargo, destacou que “a preocupação com os preços, aliada à redução na parcela de consumidores que esperam aumento de renda familiar nos próximos seis meses, aponta para ansiedades financeiras ainda elevadas” . A própria Wells Fargo prevê gastos estagnados no segundo semestre, sugerindo que a resiliência recente do setor varejista tenha sido um “pré-aquecimento” antes do impacto completo das tarifas.
Impacto das tarifas comerciais
O recuo na confiança do consumidor dos EUA reflete também a preocupação com as tarifas de importação impostas pela administração Trump. Essas medidas estão sendo vistas como um fardo para consumidores e empresas, elevando o custo de bens importados e pressionando resultados financeiros familiares. Embora os consumidores continuem pessimistas sobre compras de alto valor, houve leve aumento em planos de gastos com serviços como restaurantes, transporte motorizado, museus e locais culturais .
Perspectivas variadas entre diferentes perfis
O declínio na confiança foi uniforme entre todas as faixas de renda, idades e espectros políticos, mas foi mais acentuado entre os republicanos . Ainda que muitas famílias mantenham boa avaliação da situação financeira atual, a cautela em relação aos rendimentos futuros tornou-se marcante, com menor expectativa de crescimento no horizonte de seis meses.
As expectativas de inflação para os próximos 12 meses desaceleraram de 6,4% para 6,0%, apesar de ainda estarem elevadas. Ao mesmo tempo, aumentou a proporção de consumidores que acreditam que as taxas de juros continuarão subindo, atingindo o nível mais alto desde outubro de 2023 .
Reação de autoridades e mercado financeiro
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que o Fed precisa de mais tempo para avaliar o impacto das tarifas sobre a inflação antes de considerar cortes nas taxas de juros . Na semana passada, o banco central dos EUA manteve a taxa básica entre 4,25% e 4,50%, onde permanece desde dezembro.
Em resposta aos dados da confiança, os mercados reagiram positivamente: as ações em Wall Street avançaram, o dólar recuou diante de uma cesta de moedas e os rendimentos dos títulos do Tesouro diminuíram .
Comportamento dos consumidores e mercado imobiliário
Embora os consumidores tenham reduzido seus planos de compras de valores elevados, houve maior disposição a gastar em serviços que envolvem lazer e mobilidade . As intenções de viaje ao exterior cresceram, enquanto a compra de imóveis perdeu apetite, pressionada pelas taxas de hipoteca que permanecem suaves, ainda que os preços imobiliários tenham registrado ligeira queda.
Segundo relatório da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA, os preços de casas subiram apenas 3,0% até abril, contra 3,9% em março — com uma redução de 0,4% no último mês . Ainda que o mercado imobiliário continue com escassez de oferta, certos locais, especialmente na Flórida, estão sentindo impacto de queda no preço .
Perspectivas e risco de desemprego em alta
O JPMorgan projeta que a taxa de desemprego subirá de 4,2% em maio para 4,3% em junho, conforme dados recentes de pedidos contínuos de auxílio-desemprego . A moderação no crescimento do emprego, combinada com os efeitos das tarifas e as dúvidas sobre a renda futura, pesam sobre o Índice de Confiança do Consumidor.
Por que isso é importante?
A confiança do consumidor dos EUA é um indicador fundamental para o consumo, que representa quase 70% do PIB americano. O recuo no índice pode antecipar um abrandamento nos gastos das famílias, impactando o setor varejista e serviços, além de influenciar decisões de política monetária do Federal Reserve, dada a atual preocupação com a inflação.
Se a confiança cair de forma persistente, pode justificar uma postura mais cautelosa do Fed e prolongar o ciclo de juros elevados, o que, por sua vez, pode frear ainda mais o crescimento econômico.
O que observar a seguir
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Relatórios de emprego — dados de empregos e pedidos de seguro-desemprego em junho serão decisivos para mapear a tendência do mercado de trabalho.
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Análise de tarifas e comércio internacional — como novas medidas tarifárias podem afetar os preços e a confiança.
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Próximas decisões do Fed — atenções voltadas ao comunicado do próximo FOMC, em agosto, para sinais sobre a continuidade do aperto ou o possível momento de corte.
Em resumo, a queda da confiança do consumidor dos EUA em junho alerta para o enfraquecimento do cenário doméstico, impulsionado por incertezas no mercado de trabalho e impactos das tarifas. A atenção está voltada para os desdobramentos nos empregos, nos gastos das famílias, na direção do Fed e no provável ritmo futuro da economia americana.