O BTG Pactual rebaixou sua recomendação para as ações do Banco do Brasil (BBAS3) de compra para neutro após a divulgação dos resultados do 1T25, considerados significativamente abaixo das expectativas. O relatório aponta que, embora o valuation das ações do Banco do Brasil continue atrativo, a instituição financeira optou por aguardar mais visibilidade ou uma correção adicional no papel antes de retomar uma recomendação positiva.
Resultados abaixo do esperado no 1T25
Os analistas destacam que o lucro líquido ajustado de R$ 7,4 bilhões no 1T25 representou uma queda de 23% na comparação trimestral e de 21% na base anual, além de ficar 20% abaixo do consenso do mercado. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) caiu para 16,7%, acendendo o sinal de alerta para investidores que acompanham de perto a rentabilidade das ações do Banco do Brasil.
A surpresa negativa nos números também levou à suspensão do guidance de lucro líquido para 2025, evidenciando incertezas quanto à capacidade da instituição em sustentar o desempenho nos próximos trimestres. A deterioração da carteira de crédito no agronegócio, que responde por cerca de um terço da carteira total do banco, foi uma das principais causas da frustração.
Agronegócio pesa sobre a carteira de crédito
A carteira de crédito do agronegócio continua sendo o calcanhar de Aquiles do banco. A inadimplência acima de 90 dias nesse segmento subiu para 3,04% no 1T25, contra 2,45% no trimestre anterior. Segundo o BTG, a deterioração foi pior que o antecipado, indicando que os ativos problemáticos ainda não atingiram o pico.
O banco também observou um aumento no volume de empréstimos renegociados, passando de R$ 46,8 bilhões no 4T24 para R$ 72 bilhões no 1T25. Essa mudança sugere que parte da inadimplência está sendo mascarada por renegociações, o que reforça a cautela do BTG em relação às ações do Banco do Brasil.
Impacto da Resolução CMN nº 4.966
Outro ponto crítico foi a implementação da Resolução CMN nº 4.966, que altera o reconhecimento contábil de receitas de juros em empréstimos com pagamento concentrado (bullet). Como a carteira de agro do BB possui forte concentração desse tipo de operação, a nova regra afetou diretamente a geração de receita, com impacto estimado em R$ 1 bilhão apenas no 1T25.
Além disso, o novo padrão contábil exige que as receitas de tarifas de crédito sejam diferidas ao longo do tempo, o que também contribuiu para a queda de 9% nas receitas de serviços. O índice de eficiência operacional subiu para 29,1%, frente aos 25,8% do trimestre anterior, interrompendo a tendência positiva observada até então.
Cautela nas projeções e redução de estimativas
Com base nos resultados fracos do 1T25 e nas dificuldades ainda visíveis para os próximos trimestres, o BTG reduziu suas projeções de lucro para 2025 e 2026. A expectativa para o lucro líquido ajustado em 2025 caiu 25%, para R$ 29,4 bilhões, enquanto a previsão para 2026 foi reduzida em 19%, para R$ 33,1 bilhões.
Apesar da queda nos lucros esperados, o BTG reconhece que as ações do Banco do Brasil continuam negociando a múltiplos atrativos: 0,82x valor patrimonial e 5x lucro estimado para 2025. Mesmo com payout estimado de 40%, o dividend yield previsto é de 7,4%, o que continua atraente para investidores que buscam retorno com proventos.
Conversas com o Banco Central podem destravar valor
Durante a teleconferência de resultados, a administração do BB informou que está em diálogo com o Banco Central para discutir um tratamento regulatório diferenciado para a carteira de crédito do agronegócio, dado seu perfil único no Brasil. Caso esse “waiver” regulatório seja aprovado, há potencial para alívio nas provisões e recuperação de margens ainda em 2025, o que pode reacender o interesse nas ações do Banco do Brasil.
Uma pausa estratégica
Após três anos de recomendação de compra, o BTG decidiu adotar uma abordagem mais cautelosa. Embora o desempenho das ações do Banco do Brasil tenha sido expressivo — acumulando valorização de 89% desde fevereiro de 2022 — os analistas acreditam que o momento atual exige paciência. Os desafios regulatórios, a deterioração da carteira de agro e a menor previsibilidade dos lucros justificam o rebaixamento para neutro, com preço-alvo reduzido de R$ 34 para R$ 30.