Ainda na linha do texto de semana passada, hoje vamos mostrar como a indústria de fundos está sofrendo mais uma vez nesse ano. Acabando com o mito de que a Faria Lima está por trás dos movimentos das altas de juros e dólar.
Mas o que explica esse desempenho?
Parte pode ser explicada pela mudança fiscal sobre os fundos exclusivos. No dia 1º de janeiro de 2024, entrou em vigor a regra que impõe a cobrança do come-cotas nos fundos exclusivos. Isso tem causado uma saída forte de dinheiro desses fundos e muitos estão sendo fechados.
Outra parte deve-se à atratividade dos títulos de crédito privados isentos de IR para pessoa física. O mercado de títulos de debêntures incentivadas, CRIs e CRAs está passando por um boom e recebendo grande parte dos recursos saindo de fundos. Esses títulos também são impactados pela subida dos juros, mas muitos investidores parecem não se importar ou perceber.
Por último há a questão do desempenho. A grande maioria dos fundos, seja multimercado ou de ações, está tendo performance ruim nos últimos tempos. O cenário de incerteza e falta de previsibilidade, somado aos resgates em massa tem dificultado o trabalho dos gestores. Claro que existem exceções, mas a regra tem sido essa.
Nos últimos meses temos visto diversas notícias de fundos e gestoras fechando as portas. Hoje, arrisco dizer que a maioria das gestoras não consegue pagar o custo de capital.
Historicamente, a grande parte dos fundos e investidores ganham e se beneficiam de um movimento de queda de juros, ou fechamento da curva. São muito poucos os beneficiados do movimento recente. O CDI acaba sendo o principal concorrente das gestoras.
Aqueles que apostaram no país e no governo estão sendo penalizados. Quem tirou o dinheiro do país e investiu em dólar e ações americanas tem obtido melhor resultados na média.
Com isso, dá pra entender que a maior parte da Faria Lima, ou do mercado é prejudicada com a alta da taxa de juros. No final, é difícil achar quem ganha com esse movimento. Até para o investidor que só aplica no CDI está perigoso, já que os juros excessivos podem prejudicar a capacidade de financiamento e pagamento do governo.
No final do dia, a política do governo que força o banco central a subir juros é o maior concentrador de renda que existe. Enquanto os mais ricos aumentam seus rendimentos no CDI e reduzem a geração de empregos, os pobres enfrentam perda de trabalho, sofrem com a inflação e lidam com créditos mais caros.
É uma equação cruel que precisa ser revertida o quanto antes. A boa notícia é que não é de difícil resolução. Já passamos por situação semelhante diversas vezes e fomos capazes de reverter esse processo. Dessa vez não há de ser diferente.