Uma específica classe de ativos tem chamado a atenção recentemente pelo grande prêmio que negocia em relação aos títulos de renda fixa. Grandes gestores brasileiros já começaram a investir no que pode estar se tornando uma grande oportunidade de alto retorno com risco controlado.
Estamos falando de ações consideradas ‘‘bond proxies’’, termo usado pelo mercado para designar empresas que, por estarem em mercados altamente regulados, têm suas receitas previsíveis. Essa previsibilidade torna possível a comparação das ações com títulos de renda fixa como debêntures, por exemplo.
Em qualquer mercado funcional, quanto maior o risco, maior deve ser o retorno. Então, se um título do governo de 10 anos paga IPCA + 6,5%, uma debênture do mesmo prazo de uma empresa sólida deveria pagar IPCA + 6,5% + x%. Esse x reflete o spread de crédito que, em anos recentes, chegou a negociar perto de 3% e hoje se encontra em 1,66% devido ao grande fluxo de entrada em fundos de crédito privado. A linha amarela no gráfico aponta para esse spread em relação ao CDI e mostra como estamos em patamares baixos:
Avançando um pouco mais na escala de risco/retorno, chegamos nas ações que deveriam negociar a uma taxa equivalente maior que os títulos de renda fixa. Para encontrar essa taxa de negociação, analistas costumam calcular a taxa interna de retorno real (acima da inflação) que considera a estimativa dos fluxos de caixa a serem gerados pelas empresas no futuro. Atualmente, pelas estimativas dos analistas da XP, o spread do índice Ibovespa está acima da média histórica, em 6,1%. Isso significa que o título público paga inflação + 6,5%, a debênture paga inflação + 8,1% e a ação paga inflação + 12,6% na média.
Vale lembrar que essa é a média do índice de ações. Algumas empresas negociam a taxas mais altas de acordo com o risco percebido pelo mercado. Algumas chegam a negociar a IPCA + 18% na conta de analistas. Se você gosta de IPCA + 6%, o que acha de IPCA + 18%? Não são muitos ativos que vão performar melhor que isso no longo prazo.
Essas altas taxas estão fazendo com que muitos gestores invistam nessas empresas mais sólidas e com alto retorno. Não são poucos os fundos grandes e renomados que estão com esse tipo de empresa no top 1.
Existe um componente que muitas vezes passa despercebido. Vamos tomar como exemplo a Equatorial, uma empresa com excelente histórico. Seus títulos de dívida, que financiam suas operações, estão sendo negociados com spreads extremamente baixos em relação à NTN-B1 do governo. Em alguns casos, esse spread se aproxima de zero. Isso faz com que a empresa tenha um custo de dívida muito baixo. Ao mesmo tempo, suas ações são negociadas com um prêmio acima da média em relação a esses mesmos títulos do governo.
Ou seja, os investidores de um lado ajudam a empresa a diminuir custos e, de outro, beneficiam os acionistas dispostos a comprar a ação a uma taxa próxima de IPCA + 12%. Grandes gestoras como a Squadra montaram importante posição na empresa.
Outro nome que chama a atenção é a Eletrobrás (ELET3/ELET6). Conversando com gestores e analistas, vemos que os mais otimistas calculam uma taxa implícita de 18% enquanto os pessimistas enxergam 11% de taxa real. Mesmo no cenário pessimista, a taxa é atraente.
Abaixo temos as estimativas calculadas pelo time de analistas da XP
Como gestor, tenho me atentado a essa diferença entre classes e ultimamente tenho me interessado mais pela relação risco retorno das ações em detrimento dos títulos equivalentes na renda fixa.
Investir em ações que negociam a inflação mais uma taxa robusta, não quer dizer que você vai receber esse retorno. Há diversos riscos a serem analisados e haverá muita volatilidade no caminho. Toda vez que os títulos públicos aumentarem o rendimento real, essas ações devem sofrer. Porém, em um ambiente mais normalizado, a expectativa é que esses retornos sejam atingidos no longo prazo.