A corretora XP Investimentos confirmou nesta segunda-feira (6) que clientes sofreram perdas significativas em Certificados de Operações Estruturadas (COEs) vinculados às empresas Braskem e Ambipar (AMBP3), ambas atravessando períodos de instabilidade financeira.
Em comunicado interno enviado a assessores e obtido pela Mover, a XP informou que os COEs lastreados em dívidas dessas companhias foram liquidados de forma antecipada, com retornos muito abaixo do valor investido.
Segundo o documento, investidores dos COEs da Ambipar receberão apenas 6,88% do capital aplicado, enquanto os COEs da Braskem terão retorno variando entre 26,2% e 36,97% do valor investido.
A decisão, descrita como “final”, foi tomada após o vencimento antecipado das operações, previsto em cláusulas contratuais que se ativam diante de eventos de crédito — como o pedido de proteção judicial da Ambipar e o risco de reestruturação financeira da Braskem.
Crise nas empresas acende alerta no mercado
O episódio ocorre em meio à crise de confiança nas duas companhias.
Em 26 de setembro, a Braskem anunciou a contratação de assessores financeiros para revisar sua estrutura de capital, o que levantou receios sobre uma possível renegociação de dívidas.
Poucos dias antes, em 24 de setembro, a Ambipar havia pedido proteção judicial contra credores no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, medida que gerou forte queda nas ações — mais de 90% apenas em outubro — e deteriorou o preço de seus títulos no mercado internacional.
Com a escalada das incertezas, títulos de dívida em dólar das duas empresas despencaram no mercado secundário, sendo negociados a valores muito inferiores ao preço de emissão.
Essa desvalorização foi o gatilho que ativou as cláusulas de vencimento antecipado nos COEs distribuídos pela XP, resultando em perdas expressivas para os investidores.
Reclamações se acumulam contra a XP
Após as notícias, clientes insatisfeitos recorreram ao site “Reclame Aqui” para denunciar o que chamam de falta de transparência e falhas na assessoria de investimento.
“Comprei COE da Ambipar e da Braskem orientado por assessores da XP, e agora o meu dinheiro derreteu. Essas empresas já davam sinais de problemas e ninguém nos avisou”, relatou um investidor.
Outro cliente afirmou: “A XP recomendou COE de Ambipar que virou pó em 18 meses. O produto foi vendido como seguro, mas não era”.
As reclamações ressaltam que, apesar de os COEs serem classificados como produtos de “capital em risco”, muitos investidores os interpretaram como investimentos conservadores, devido à forma como foram apresentados.
Até o momento, a XP não comentou publicamente as críticas, limitando-se a confirmar que os pagamentos seguiram os termos contratuais previstos.
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O que são COEs e por que representam risco
Os Certificados de Operações Estruturadas (COEs) são instrumentos financeiros que combinam renda fixa e derivativos, geralmente atrelados ao desempenho de ativos como ações, moedas ou títulos corporativos.
Esses produtos permitem ganhos atrelados a diferentes cenários de mercado, mas também podem implicar perda parcial ou total do capital investido, dependendo das condições contratadas.
De acordo com os Documentos de Informações Essenciais (DIEs) das emissões analisadas pela Mover, os COEs de Braskem e Ambipar tinham classificação de risco “brAAA”, a nota mais alta na escala nacional.
Contudo, também eram marcados como de risco elevado, com pontuação máxima (100 pontos) em uma escala de 0 a 100.
Os retornos prometidos chegavam a IPCA + 9,75% ao ano (Ambipar) e IPCA + 10% ao ano (Braskem), ambos com cupons semestrais.
Na prática, esses produtos eram destinados a clientes com perfil moderado ou agressivo, mas, segundo especialistas, o apelo comercial e a promessa de rentabilidade acima da média levaram muitos investidores de perfil conservador a aplicarem sem compreender totalmente o risco.
Críticas do mercado e questionamentos à XP
O caso repercutiu entre profissionais do mercado financeiro.
O gestor Saulo Godoy, sócio-fundador da Apen Capital, afirmou no X (antigo Twitter) que o episódio revela falhas estruturais na distribuição de produtos financeiros no Brasil.
“Há anos o setor sofre com falta de mão de obra qualificada. Quando as comissões são altas, o cliente é o prejudicado. Sem punições, o baile do dinheiro fácil continua”, escreveu Godoy.
Analistas destacam que a XP tem papel relevante na popularização dos COEs no país e que o episódio pode afetar a confiança de investidores em produtos estruturados.
Embora a corretora tenha informado que os contratos seguem as regras previstas, o impacto reputacional e jurídico pode ser duradouro.
Desvalorização no mercado e risco sistêmico
O colapso nos COEs de Braskem e Ambipar ocorre em um momento de maior aversão ao risco no mercado de crédito privado brasileiro.
Com o aumento dos pedidos de proteção judicial e reestruturações de dívidas, investidores vêm exigindo prêmios mais altos para financiar empresas nacionais.
Especialistas alertam que o episódio pode reduzir a demanda por COEs corporativos e levar órgãos reguladores a reforçar a transparência nas ofertas desses produtos.
Enquanto isso, as ações da Ambipar (AMBP3) seguem entre as mais voláteis da B3, negociadas a R$ 2,75, mínima histórica.
Já os papéis da Braskem (BRKM5) recuam mais de 40% desde o início de setembro, acompanhando a incerteza sobre a revisão de capital e potenciais mudanças em sua estrutura de dívidas.