O setor varejista brasileiro tem enfrentado uma série de desafios nos últimos trimestres, refletindo a dinâmica do cenário macroeconômico. A recuperação dos mercados em meados de 2023 trouxe alívio para investidores que esperavam um segundo trimestre desafiador. No entanto, as expectativas para o terceiro trimestre não são tão otimistas como eram alguns meses atrás.
Uma série de fatores contribui para essa tendência de enfraquecimento no curto prazo. As Medidas Provisórias que regulamentaram a tributação de incentivos fiscais e o fim dos incentivos do JCP tiveram um impacto significativo no setor, resultando em fundamentos enfraquecidos. Os resultados da temporada do terceiro trimestre devem revelar varejistas lidando com alavancagem financeira, pressões sobre os resultados, esforços para otimizar custos e uma demanda menor.
Segundo o BTG, o faturamento do setor deve crescer modestamente, com um aumento de 5% ano a ano, enquanto o EBITDA aumenta 2% ano a ano. No entanto, os esforços para otimizar custos e adotar preços mais racionais serão desafiados por custos de financiamento mais elevados, resultando em uma queda de 51% ano a ano nos lucros.
Desafio do E-commerce vs. Lucratividade
No mercado de e-commerce do Brasil, os desafios persistem. O crescimento do GMV (Gross Merchandise Value) está desacelerando devido a uma renda disponível mais baixa e restrições de capital. Os varejistas estão focando na lucratividade, reduzindo o foco em categorias não lucrativas e se concentrando na preservação de caixa.
Além disso, a consolidação do mercado entre os principais players deve se acelerar devido a um cenário macroeconômico desfavorável. No terceiro trimestre, espera-se que o GMV online aumente para alguns dos principais varejistas, mas o foco na rentabilidade continua sendo uma prioridade.
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Varejistas de Alta Renda Continuam a Se Destacar
Apesar da desaceleração nas receitas, os varejistas de vestuário e calçados voltados para famílias de alta renda continuam a apresentar bom desempenho. Alguns players, como ARZZ, estão projetando crescimento sólido. A Hering deve registrar um crescimento de 1,5% ano a ano, e a Soma ex-Hering crescerá 5,3% ano a ano.
Enquanto isso, a Arezzo projeta margens EBITDA mais altas e a Renner enfrenta pressões significativas devido à concorrência internacional, potencial fim das isenções fiscais do JCP e outros fatores.
Tendências em Varejistas Farmacêuticos e Fitness
Os varejistas farmacêuticos e de fitness parecem mais resilientes. A RD projeta um aumento sólido no faturamento, com margens EBITDA saudáveis. A Smartfit continua a registrar um forte crescimento de vendas e margens sólidas.
No entanto, o setor de alimentos deve enfrentar desafios devido à baixa inflação de alimentos nos últimos meses. Os resultados indicam quedas nas vendas para varejistas como Assaí e Carrefour, mas um desempenho superior para o GMAT.
Perspectivas do Setor
O setor varejista enfrenta desafios significativos, refletidos na pressão sobre a rentabilidade e na desaceleração da demanda. O ambiente externo e a discussão sobre a Reforma Tributária agravaram a aversão ao risco em relação a empresas com beta mais alto.
Segundo o BTG, a abordagem conservadora para a exposição ao setor varejista é uma escolha sábia, com destaque para empresas com desempenho sólido, como MELI, Smartfit, Arezzo e Raia Drogasil, que oferecem menor espaço para revisões negativas de lucro.
O setor varejista continua a ser desafiador, mas a busca por eficiência e a adaptação a um ambiente em constante mudança podem oferecer oportunidades de crescimento a longo prazo.