Os Estados Unidos abriram negociações com a Argentina para criar uma linha de swap cambial de US$ 20 bilhões e avaliam ainda a compra de bônus em dólares emitidos pelo governo argentino. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (24) pelo secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, um dia após a reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Argentina, Javier Milei, realizada à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Segundo Bessent, a medida busca evitar volatilidade excessiva no mercado de câmbio argentino, em meio à pior crise financeira desde o início do governo Milei. “Estamos trabalhando em estreita coordenação com o governo argentino para garantir a estabilidade financeira. A linha de swap ajudará a mitigar movimentos bruscos do dólar e dar previsibilidade ao mercado”, disse em publicação no X (antigo Twitter).
Apoio político de Trump a Milei
O encontro entre Trump e Milei gerou repercussão imediata. O republicano reforçou publicamente seu apoio ao presidente argentino, inclusive destacando que irá apoiá-lo em uma eventual disputa pela reeleição em 2027. Para Trump, Milei é um “aliado estratégico” no hemisfério sul.
A fala do norte-americano teve efeito direto nos mercados: nesta manhã, o dólar estava cotado a 1.367,68 pesos argentinos, após dias de forte oscilação.
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Crise cambial e reservas em queda
Na semana passada, o dólar rompeu o teto da banda de flutuação determinada pelo governo argentino, ultrapassando os 1.474,50 pesos por dólar. Para tentar conter a disparada, o Banco Central da Argentina (BCRA) queimou mais de US$ 1 bilhão em apenas três dias, aumentando a venda de reservas internacionais:
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Quarta-feira (17): US$ 53 milhões
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Quinta-feira (18): US$ 379 milhões
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Sexta-feira (19): US$ 678 milhões
Apesar do esforço, analistas alertam que a sustentabilidade é limitada. Atualmente, o BCRA possui cerca de US$ 39 bilhões em reservas, mas boa parte desse montante já está comprometido com pagamentos da dívida externa e outras obrigações.
FMI e metas econômicas
O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem dado respaldo ao governo Milei, liberando parcelas bilionárias de empréstimos e elogiando a condução do programa econômico. A principal conquista até aqui foi a redução da inflação anual, que caiu de 211% em 2023 para 117% em 2024. Antes da recente turbulência, a previsão oficial era encerrar 2025 com inflação próxima de 30% ao ano.
Mesmo assim, a disparada do dólar coloca em dúvida o cumprimento dessa meta. O swap de US$ 20 bilhões com os EUA surge como um reforço importante para dar fôlego à política cambial do país.
Milei às vésperas das eleições
A negociação acontece em um momento político delicado. No próximo dia 26 de outubro, a Argentina realizará eleições legislativas que podem redefinir a correlação de forças no Congresso. Atualmente, o partido de Milei detém apenas 36 dos 257 assentos na Câmara dos Deputados, o que dificulta a aprovação de reformas estruturais.
Caso conquiste mais cadeiras, o presidente poderá ampliar sua base de apoio e avançar em pautas econômicas. Por outro lado, se a oposição ganhar terreno, Milei poderá ver seu poder ainda mais reduzido, em meio à crise cambial e social.
O que esperar
O eventual acordo de swap entre Argentina e Estados Unidos pode:
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Garantir maior liquidez em dólares para o Banco Central argentino;
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Conter a escalada do câmbio até as eleições;
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Fortalecer a imagem de Milei junto ao eleitorado, mostrando apoio explícito da maior potência econômica do mundo.
No entanto, especialistas alertam que a linha de swap, por si só, não resolve os desequilíbrios estruturais da economia argentina, que incluem endividamento elevado, reservas limitadas e dependência externa.