Tarifas dos EUA e Brasil pressionam setores exportadores, mas podem reduzir a inflação doméstica se o governo não retaliar. Samuel Pessôa, economista do BTG Pactual e da FGV Ibre, avalia que, apesar do choque, o cenário de “pouso suave” — com crescimento em torno de 2% este ano e 1,5% em 2026 — mantém Lula em situação econômica favorável às vésperas da eleição. Pessôa defende socorro pontual a setores afetados via crédito extraordinário com prazo claro de término, evitando transformar medidas em direitos adquiridos.
Impacto das tarifas de Trump na inflação e na corrida eleitoral de 2026
As tarifas de 50% impostas por Trump atingiram produtos como laranja, café e carne. As exportações de carne para os EUA caíram cerca de 80% desde abril. Esse choque reduziu vendas externas e mudou fluxos de oferta no mercado interno.
Como as tarifas afetam preços
Quando menos produto vai para os EUA, parte fica no Brasil. Isso aumenta a oferta interna e pode pressionar preços para baixo. No caso do suco de laranja, o efeito é maior. Os EUA importam cerca de 90% do suco que consomem. O Brasil fornece cerca de 80% desse total.
Por outro lado, muitos preços seguem o mercado global. Se outros fornecedores vendem mais lá fora, o preço internacional pode não cair tanto. Assim, o impacto sobre café e carne tende a ser mais moderado. Ainda assim, há redução de demanda que afeta receitas e produtores.
Consequências econômicas e eleitorais
O cenário macro segue com um “pouso suave” previsto por analistas. O PIB deve crescer cerca de 2% neste ano e 1,5% em 2026. Isso é menos que os 3% observados no biênio anterior. Mesmo com desaceleração, o mercado de trabalho não deve se deteriorar muito.
A desinflação de alimentos já vem ocorrendo por safras melhores. Por isso, evitar retaliação pode trazer leve queda na inflação doméstica. Economistas dizem que, para Lula, não retaliar tem incentivo eleitoral. Manter preços mais baixos pode ajudar às vésperas da eleição de 2026.
Medidas públicas e riscos fiscais
Especialistas sugerem socorro pontual a setores muito afetados, por exemplo, citando crédito extraordinário. Isso teria um custo fiscal e elevaria a dívida pública no curto prazo. A recomendação é deixar cláusulas de saída bem claras para evitar virar direito adquirido, como ocorreu com o Perse.
Também foi mencionada a possibilidade de alguns itens terem tarifa zerada, como café e manga, segundo semanas recentes. A alternativa inclui negociar pontualmente setores estratégicos, sem retaliar de forma ampla. A estratégia busca equilibrar bem-estar, produção e custos fiscais.