A tarifa de 50% imposta pelos EUA sobre produtos brasileiros marca um cenário de tensões e incertezas no comércio exterior, afetando setores estratégicos da economia nacional e gerando dúvidas sobre alternativas para as exportações brasileiras.
Negociações e impactos da tarifa de 50% entre Brasil e EUA
A tarifa de 50% que os Estados Unidos pretendem impor aos produtos brasileiros pode mudar muito o comércio entre os dois países. O governo brasileiro busca diálogo com autoridades americanas e congressistas para tentar evitar ou amenizar essa cobrança pesada. Reuniões recentes envolveram senadores brasileiros e membros da Câmara de Comércio dos EUA, além de conversas com o secretário de Comércio americano.
Essa tarifa pode atingir uma grande variedade de produtos, principalmente aqueles com alto valor agregado exportados para os EUA. Produtos como peças industriais, aviões, equipamentos agrícolas e eletroeletrônicos estão no radar dos impactos. Empresas como Embraer e Weg têm parte significativa das suas receitas vindas da América do Norte e podem sentir forte pressão no faturamento caso a tarifa seja aplicada.
Além da negociação direta entre Brasil e EUA, a China se posicionou como possível parceira do Brasil para defender o comércio justo e o sistema multilateral liderado pela Organização Mundial do Comércio (OMC). O país asiático também mostrou interesse em cooperar com o Brasil em termos de mercado, o que pode abrir novas oportunidades, ainda que existam limitações nessa redirecionamento.
Por outro lado, as exportações brasileiras destinadas aos EUA são muito diferentes das destinadas à China. Enquanto os EUA compram uma gama mais ampla de produtos manufaturados, o mercado chinês é baseado em commodities como soja, minério de ferro e petróleo, que representam quase 80% das exportações brasileiras para aquele país.
Portanto, redirecionar toda a carga exportada para os EUA para a China não é uma tarefa simples. A elevada concentração desses produtos básicos no mercado chinês e as diferenças na pauta comercial dificultam essa realocação rápida e eficiente.
Setores afetados e consequências econômicas da guerra comercial
A guerra comercial entre Brasil e Estados Unidos pode atingir fortemente vários setores da economia brasileira. A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros vai impactar especialmente indústrias que dependem do mercado americano, como a indústria aeroespacial, automotiva e de eletroeletrônicos.
A Embraer, fabricante de aeronaves, tem cerca de 60% de sua receita proveniente da América do Norte. Desses, 46% podem sofrer diretamente com a redução de demanda e queda nas margens de lucro por causa das tarifas.
O setor agrícola também sente o impacto, principalmente o mercado de suco de laranja, que envia 41,7% de sua produção para os EUA. A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos alerta que a tarifa pode criar uma situação insustentável, prejudicando toda a cadeia produtiva do setor.
Produtos industrializados como autopeças e equipamentos agrícolas têm dificuldades para serem redirecionados para outros mercados. O comércio intrafirma com os EUA é forte e envolve produtos certificados, o que torna a adaptação ainda mais complexa.
Por outro lado, commodities como soja, minério de ferro e petróleo podem sofrer menos impactos diretos, pois já são exportadas a vários destinos. No entanto, o excesso de oferta global pode reduzir os preços e pressionar os ganhos brasileiros.
O economista Guilherme Klein destaca que as tarifas podem gerar uma “espiral” de aumento de custos na indústria aeronáutica, afetando investimentos e produção no Brasil.
Essa guerra comercial também pode gerar consequências indiretas, por exemplo, no preço do café. O Brasil controla cerca de um terço do mercado americano e a dificuldade dos EUA de encontrar novos fornecedores pode elevar os custos para consumidores americanos.