A pesquisa mensal realizada pelo BTG Pactual com gestores de portfólio revelou uma melhora relevante no sentimento dos investidores em abril de 2025. Mesmo diante do avanço da guerra comercial entre Estados Unidos e China e das incertezas fiscais no Brasil, a visão do mercado se mostra mais positiva — refletindo um novo olhar sobre o país como possível “vencedor relativo” no cenário geopolítico atual.
Segundo o levantamento, 46% dos entrevistados disseram estar otimistas com o mercado de ações brasileiro, contra 31% no mês anterior. Outros 6% se declararam “muito otimistas”. Ao mesmo tempo, a proporção de investidores pessimistas caiu para apenas 13%, um dos menores patamares dos últimos meses.
Guerra comercial pesa, mas Brasil ganha destaque relativo
O principal fator de risco global segue sendo a guerra comercial. As tarifas implementadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, foram apontadas como a maior preocupação por 78% dos gestores consultados, superando inclusive a expectativa para os juros americanos, citada por apenas 16%.
Ainda assim, os investidores começam a enxergar o Brasil como uma alternativa atrativa em meio à instabilidade internacional, destacando a resiliência do mercado doméstico e o valuation considerado atrativo do Ibovespa.
Risco fiscal perde espaço; eleições de 2026 dominam o debate
No âmbito doméstico, o foco se deslocou. 64% dos gestores disseram que o principal tema macroeconômico brasileiro é o ciclo político de 2026, enquanto as preocupações fiscais caíram para 20%, ante 42% no mês anterior.
Essa mudança de foco indica que, embora o desequilíbrio fiscal siga relevante, o mercado está precificando o ambiente político futuro como fator mais determinante para os investimentos no país, especialmente diante da possibilidade de alterações na política econômica e reformas estruturais.
Valuation atrativo mexe com o sentimento dos investidores
Outro destaque da pesquisa foi a percepção de que o Ibovespa está barato. Para 58% dos gestores, o índice está subavaliado, e outros 14% o consideram extremamente subavaliado. Esse sentimento está motivando um aumento na disposição de compra:
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51% dos participantes pretendem aumentar suas posições em ações brasileiras;
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Apenas 12% cogitam reduzir exposição ao mercado.
Fluxo de fundos: resgates ainda existem, mas desaceleram
Apesar do otimismo, o fluxo de capital ainda mostra sinais mistos:
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65% dos fundos relatam estabilidade nas movimentações;
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26% ainda enfrentam resgates, embora em patamar menor que os 30% do mês anterior;
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Apenas 9% relataram captações, com ritmo lento.
Isso indica que, mesmo com a melhora do sentimento dos investidores, o cenário ainda exige cautela em relação à confiança do investidor pessoa física e de fundos mais conservadores.
Projeções para Ibovespa e dólar: otimismo comedido
As projeções para o Ibovespa reforçam a visão positiva:
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45% dos gestores esperam o índice entre 130 mil e 140 mil pontos até o fim do ano;
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Outros 36% acreditam que o Ibovespa poderá ultrapassar os 140 mil.
Já em relação ao dólar, 37% projetam a cotação entre R$ 5,70 e R$ 5,90, o que mostra uma expectativa de relativa estabilidade cambial, apesar das tensões externas.
Setores preferidos e posições estratégicas
O setor de serviços básicos permanece como o favorito para alocação direcional (39% das preferências), seguido por finanças (23%). No entanto, o setor de commodities passou a liderar as posições short, refletindo receios com a demanda chinesa e a guerra comercial.
Entre os ativos específicos mais citados como preferidos para compra, destacam-se:
Nas posições vendidas (short), os destaques foram:
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RADL3
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ABEV3
A pesquisa do BTG Pactual revela um sentimento dos investidores mais confiante, com maior disposição ao risco, apesar dos desafios evidentes na economia. O Brasil começa a ser visto como alternativa sólida dentro do contexto global conturbado, mesmo com a guerra comercial e incertezas fiscais.
Contudo, o ambiente segue desafiador. A expectativa do mercado está ancorada na estabilidade política, reformas estruturais e na evolução do cenário externo. Os próximos meses — especialmente à medida que se aproximam as eleições de 2026 — devem ser cruciais para consolidar ou reverter esse otimismo.