O mês de março marcou um novo recorde negativo para a economia brasileira. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira (9), o Brasil registrou a pior saída de dólares da série histórica para o mês, com um saldo negativo de US$ 8,297 bilhões. O valor supera a saída líquida registrada em março de 2020, auge da pandemia da Covid-19, quando o déficit foi de US$ 6,6 bilhões.
O resultado foi impulsionado principalmente pelo movimento de fuga de capital pela via financeira, que somou US$ 12,799 bilhões negativos, enquanto a balança comercial contribuiu com uma entrada de US$ 4,512 bilhões. O fluxo financeiro abrange movimentações como investimentos estrangeiros, remessas de lucros e dividendos, além de aplicações em renda fixa ou variável.
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Impacto das incertezas globais e das tarifas
O mês foi marcado por forte instabilidade nos mercados internacionais, causada pelas crescentes tensões comerciais entre Estados Unidos e China. O anúncio de tarifas recíprocas prometidas pelo presidente americano Donald Trump para o início de abril elevou o risco percebido por investidores e contribuiu para o movimento de retirada de recursos do Brasil.
Essa combinação de incertezas e fuga de capitais fez com que o fluxo cambial acumulado no ano também registrasse um resultado preocupante: saída líquida de US$ 15,835 bilhões. Desse total, US$ 23,127 bilhões foram retirados por meio do canal financeiro, enquanto a via comercial trouxe uma entrada de US$ 7,293 bilhões.
Desvalorização do real e impacto no dólar
O movimento de saída de dólares também pressionou o câmbio. Durante o mês, o real chegou a figurar como a terceira moeda que mais se desvalorizou no mundo em meio à onda de tarifas promovida pelos Estados Unidos. A cotação do dólar chegou a bater níveis acima dos R$ 6,00, refletindo o ambiente de aversão ao risco.
Por outro lado, com a pausa de 90 dias no tarifaço anunciada por Trump, o mercado reagiu positivamente. O dólar caiu 2,53%, fechando a R$ 5,84, e o Ibovespa subiu 3,12%, indicando que os investidores enxergaram algum alívio temporário na tensão comercial.
Contexto histórico da fuga de capitais
O atual resultado se insere num contexto de alta sensibilidade dos mercados globais a medidas unilaterais e protecionistas. O Brasil, como economia emergente, depende da confiança externa e da entrada de capitais para financiar parte de seu déficit em transações correntes e manter a estabilidade cambial.
Essa saída de dólares recorde em março revela que o país está sendo impactado diretamente pelas turbulências externas, principalmente por decisões de política comercial dos Estados Unidos. Em momentos de aversão ao risco global, os investidores tendem a buscar ativos considerados mais seguros, como títulos do Tesouro norte-americano.
Comparativo com outros momentos de crise
Para efeito de comparação, durante a crise da pandemia, em março de 2020, a saída líquida foi de US$ 6,6 bilhões. Na época, os mercados estavam sob forte estresse pela incerteza sanitária e econômica. Já em março de 2023, a saída foi bem menor, de apenas US$ 2,1 bilhões, demonstrando que o resultado de 2025 está bem acima da média recente.
Outro fator de destaque é que, embora o comércio exterior brasileiro tenha continuado gerando superávit, com entrada líquida de mais de US$ 4 bilhões, isso não foi suficiente para compensar a fuga do capital financeiro. Isso reforça o papel decisivo da confiança dos investidores institucionais na estabilidade do fluxo cambial.
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Expectativas para os próximos meses
Com os mercados globais ainda atentos aos desdobramentos da guerra comercial, a expectativa é de que o Banco Central continue monitorando o fluxo cambial com atenção. Caso o ambiente continue volátil, é possível que a autoridade monetária atue no mercado com venda de reservas internacionais ou outros instrumentos para conter movimentos abruptos.
Para os analistas, o desempenho da economia chinesa, os próximos passos de Trump e os dados de inflação nos EUA são alguns dos principais fatores que devem influenciar a direção do fluxo cambial brasileiro no curto prazo. Além disso, o Banco Central também deverá considerar essas variáveis em suas decisões futuras sobre juros e política monetária.