A Reforma Tributária se aproxima do início de sua fase de transição, marcada para janeiro de 2026, mas o nível de preparação das empresas brasileiras ainda é baixo.
Segundo um estudo da All Tax, empresa especializada em automação fiscal e tributária, apenas 9,5% das companhias afirmam estar totalmente prontas para as mudanças que vão transformar a forma de cobrança e gestão dos tributos no país.
A pesquisa ouviu 408 profissionais de 222 empresas e revelou que 13,5% dos entrevistados acreditam que suas organizações estão “adequadamente preparadas” para a nova estrutura tributária.
Em contrapartida, mais de 40% das companhias ainda estão em processo de adaptação ou buscando novas soluções tecnológicas.
Outro dado preocupante é que entre 9% e 10% das empresas sequer iniciaram um plano de transição, mesmo com a proximidade da implementação das novas regras.
Baixa adoção de tecnologias fiscais preocupa especialistas
O estudo também aponta um baixo uso de ferramentas de automação tributária, conhecidas como tax engines — sistemas que integram as regras fiscais diretamente aos softwares de gestão empresarial (ERP, sigla para Enterprise Resource Planning).
Apenas 14% das empresas disseram utilizar esse tipo de tecnologia, o que pode aumentar a chance de erros de cálculo e ineficiências operacionais quando o novo sistema entrar em vigor.
De acordo com Roberto de Lázari, diretor de Estratégia e Vendas da All Tax, o cenário mostra que parte significativa do mercado ainda enxerga a área tributária apenas como uma obrigação burocrática.
“O Brasil está diante de uma oportunidade histórica. A Reforma Tributária pode ser vista como um fardo ou como um catalisador de produtividade. Quem enxergar a área fiscal como um motor de governança e estratégia terá vantagem real na próxima década”, afirmou.
Ainda segundo o levantamento, 48,3% das empresas pretendem manter seus atuais fornecedores de soluções fiscais, enquanto 41,4% estão migrando para novos parceiros ou adotando ferramentas mais modernas.
O resultado revela uma divisão entre empresas mais conservadoras e aquelas que já encaram a transição como um processo de inovação tecnológica e competitiva.
Etapas legislativas: reforma avança, mas volta à Câmara
No campo político, a Reforma Tributária também continua em movimento.
No fim de setembro, o Senado Federal aprovou o texto alternativo ao Projeto de Lei Complementar (PLP) 108/2024, que regulamenta a segunda etapa da reforma — a parte que trata dos tributos sobre o consumo e das novas regras de fiscalização.
Como o texto sofreu alterações em relação ao aprovado pela Câmara dos Deputados, ele precisará voltar para nova votação na Câmara, antes de seguir à sanção presidencial.
A proposta cria o Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), responsável por administrar o novo tributo que substituirá o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), de competência estadual, e o ISS (Imposto Sobre Serviços), de competência municipal.
Esse comitê terá a função de arrecadar, fiscalizar e distribuir o novo imposto entre estados e municípios, de forma a reduzir sobreposições e disputas fiscais entre entes federativos.
Além do IBS, a reforma tributária institui também a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), no âmbito federal, unificando tributos hoje cobrados separadamente — como PIS e Cofins — em um modelo de tributação sobre valor agregado (IVA).
O desafio empresarial e o prazo apertado
Com a entrada em vigor das novas regras em menos de três meses, especialistas apontam que a adaptação tecnológica e contábil será o principal obstáculo para grande parte das empresas.
Sistemas de emissão de notas fiscais, parametrizações contábeis e fluxos de crédito tributário precisarão ser revisados e automatizados para evitar inconsistências e autuações.
A Reforma Tributária busca simplificar o sistema brasileiro, substituindo cinco tributos atuais (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por dois — CBS e IBS.
No entanto, a fase de transição será gradual, estendendo-se até 2033, e exigirá investimentos em tecnologia e capacitação por parte do setor privado.
Para o setor empresarial, o recado é claro: o tempo para se adaptar está se esgotando.
Empresas que não revisarem seus processos até o início de 2026 correm o risco de sofrer penalidades fiscais, enfrentar retrabalhos contábeis e perder competitividade diante de concorrentes mais preparados.