Os preços do milho no Brasil vivem mais um momento de tensão em 2025. Com uma safra recorde praticamente consolidada, os valores caíram tanto no mercado físico quanto nos contratos futuros da B3, refletindo o excesso de oferta e um início lento das exportações. O cenário atual tem gerado comparações com a peça “Esperando Godot”: o mercado aguarda um movimento salvador que, até agora, não chegou.
O avanço da colheita da segunda safra (“safrinha”), que ocorreu dentro da janela ideal, contribuiu para derrubar ainda mais as cotações. Inicialmente, havia receio quanto ao atraso no escoamento da soja, mas o desenvolvimento das lavouras surpreendeu positivamente. O clima se manteve estável e permitiu a consolidação de bons rendimentos.
Conab, USDA e consultorias privadas revisaram para cima suas projeções, reforçando a expectativa de uma produção historicamente elevada. Segundo estimativas, mais de 70% da safra já foi colhida em âmbito nacional.
Preços do milho atingem breakeven
Com essa oferta abundante, os preços do milho caíram até o ponto de equilíbrio do produtor (breakeven), em que receita e custo se igualam. Esse patamar freia novas vendas, especialmente por parte de produtores que conseguiram se capitalizar no primeiro semestre ou têm estrutura para estocar o produto.
Essa dinâmica pode ter estabelecido um piso temporário para os preços. Se não houver novos choques de oferta, o mercado pode evitar uma queda mais profunda.
Exportações fracas e a esperança no câmbio
Apesar do cenário de oferta ampla, a demanda externa ainda não reagiu. O início do programa de exportação em 2025 tem sido fraco, frustrando a expectativa de escoamento do excedente produtivo.
É aqui que entra o câmbio como fator decisivo para os preços do milho. Uma eventual desvalorização do real frente ao dólar pode tornar o milho brasileiro mais competitivo no mercado internacional, impulsionando as exportações.
Com os preços internos próximos ao piso, uma mudança cambial pode ser a peça que falta para destravar a demanda externa e evitar um colapso prolongado das cotações.
Tarifa dos EUA pode influenciar o câmbio?
A ofensiva tarifária dos Estados Unidos contra o Brasil, decretada pelo governo Trump, gerou instabilidade nos mercados. Se confirmada a aplicação de tarifas em larga escala, os impactos na balança comercial brasileira podem pressionar o real, causando desvalorização — exatamente o gatilho que poderia favorecer as exportações de milho.
Esse cenário imprevisível se encaixa perfeitamente na metáfora do “Esperando Godot”: o mercado sabe o que precisa acontecer, mas não tem controle sobre quando — ou se — isso vai ocorrer.
Efeitos no mercado e projeções
Enquanto isso, o mercado age com cautela. Traders e produtores seguem atentos aos movimentos do dólar, à evolução do programa de exportações e ao comportamento dos fundos especulativos.
Caso a demanda externa não acelere nas próximas semanas, os preços do milho podem se manter pressionados. Por outro lado, qualquer evento que leve à valorização do dólar frente ao real pode mudar o jogo.
Para o investidor ou produtor rural, o momento exige gestão de risco e análise contínua. A estrutura de custos, a capacidade de armazenagem e a velocidade de resposta à mudança cambial serão diferenciais relevantes.