PIX Parcelado amplia alternativas de crédito, mas preocupa por juros altos e risco de inadimplência; entenda como funciona

PIX Parcelado será regulado pelo BC e já gera alerta por juros altos e risco de inadimplência; entenda como funciona em cada banco
PIX Parcelado

O deve anunciar até o fim de setembro a regulamentação do chamado PIX Parcelado, uma modalidade que promete ampliar ainda mais a presença do sistema de pagamentos instantâneos na vida dos brasileiros. Embora já oferecido de forma independente por grandes bancos e fintechs, o recurso passará a ter regras oficiais, que buscam padronizar taxas, aumentar a transparência e estimular o uso consciente desse tipo de .

A ideia central é simples: assim como acontece no cartão de crédito, o cliente poderá parcelar pagamentos por meio do PIX, enquanto o comerciante recebe o valor integral e à vista. Na prática, o PIX Parcelado se apresenta como um instrumento adicional de financiamento, permitindo que consumidores realizem compras de maior valor e tenham mais flexibilidade no pagamento. Segundo estimativas do Banco Central, a medida pode beneficiar até 60 milhões de brasileiros que hoje não têm acesso ao cartão de crédito tradicional, mas que possuem vínculo bancário e linhas de crédito pré-aprovadas.

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O impacto esperado é significativo, sobretudo no comércio eletrônico e no varejo físico, já que o PIX, desde seu lançamento em 2020, tornou-se o principal método de transferência entre os brasileiros, superando todos os meios tradicionais. Apenas no segundo trimestre de 2025, foram realizados 19,3 bilhões de pagamentos via PIX, contra 12,6 bilhões em cartões e apenas 4,4 bilhões em boletos e convênios.


A evolução do PIX no Brasil

O crescimento do PIX em apenas cinco anos transformou o panorama dos meios de pagamento no país. Se em 2020 o sistema ainda competia com transferências bancárias tradicionais, em 2025 já se consolidou como líder absoluto em volume de .

A tabela abaixo mostra a evolução do número de operações por trimestre, em milhões, segundo dados do Banco Central:

Meio de pagamento (2T25) Transações (em mil)
PIX 19.385.613
Cartões (crédito, débito, pré-pago) 12.632.264
Cobranças (boletos, convênios, débito direto) 4.456.372
Saques 603.995
Transferências intrabancárias 524.658
Transferências interbancárias (TED, DOC, TEC) 191.105
Cheques 35.801

Esses números deixam claro o tamanho da revolução promovida pelo sistema, que cresceu 110 vezes em apenas cinco anos. O PIX tornou-se não apenas o meio de pagamento favorito dos brasileiros, mas também uma ferramenta essencial para a inclusão financeira.


Como funciona o PIX Parcelado

O PIX tradicional é gratuito para pessoas físicas e funciona como transferência instantânea. Já o PIX Parcelado não faz parte dessa estrutura original. Trata-se de um crédito concedido pelas instituições financeiras, seja por meio do limite do cartão, seja através de empréstimos pessoais vinculados ao pagamento via PIX.

Cada banco define suas próprias condições, o que inclui o número de parcelas, a aplicada e os critérios para aprovação. Hoje, antes mesmo da regulação oficial, grandes bancos e fintechs já oferecem o serviço.

A seguir, uma síntese de como o PIX Parcelado funciona em diferentes instituições financeiras:

PIX Parcelado hoje conta com juros e regras próprias em cada banco — Foto: Arte/g1
Infográfico retirado da matéria do G1. Acesse a matéria completa: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/09/22/pix-parcelado-amplia-alternativas-de-credito-com-custo-alto-e-risco-de-inadimplencia-entenda.ghtml

Essa heterogeneidade reforça a necessidade de regulação pelo Banco Central. A instituição deve padronizar informações, exigir transparência e determinar critérios claros para evitar abusos.


O risco do endividamento

Apesar de ampliar alternativas de crédito, especialistas alertam para os riscos do PIX Parcelado. O principal temor é que a modalidade, ao se apresentar como uma simples extensão do PIX, confunda o consumidor, que pode acreditar estar apenas realizando uma transferência parcelada, quando na verdade está assumindo um empréstimo com juros elevados.

De acordo com o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), o PIX nasceu como pública de democratização dos pagamentos, mas o parcelamento pode se transformar em uma armadilha financeira, sobretudo para famílias de baixa renda. O instituto defende que a modalidade seja regulada com as mesmas exigências dos demais produtos de crédito, incluindo contratos claros, limites proporcionais ao perfil do cliente e regras de proteção contra o superendividamento.

Essa preocupação ganha força diante dos números recentes da inadimplência no . Segundo o Relatório de Crédito do Ministério da Fazenda, o cartão de crédito rotativo se tornou o principal vilão das finanças pessoais. Em 2025, 60,5% das em atraso estavam relacionadas ao pagamento parcial da fatura, contra 37,2% em 2015.

A tabela abaixo resume a evolução em dez anos:

Produto de crédito Concessões (R$ bi) Taxa de juros (a.a.) Inadimplência (%)
Cheque especial 46,4 133,8% 15%
Crédito pessoal não consignado 23 104% 7,9%
Cartão de crédito rotativo 31,7 446% 60,5%
Cartão de crédito parcelado 15,1 187,7% 13,3%
Composição de dívidas 4,5 50,5% 18,4%

Os números mostram um cenário de alerta. Embora o crédito seja essencial para movimentar a , os juros elevados e a baixa educação financeira tornam o parcelamento um risco para milhões de famílias.


Expectativas para a regulação

A regulamentação do Banco Central deve incluir exigências de transparência, como a divulgação do Custo Efetivo Total (CET) em cada operação, além de regras claras sobre juros e impostos. Também deve haver exigência de consentimento expresso do cliente, sem adesão automática, e limites proporcionais ao perfil de risco.

Especialistas recomendam ainda que o Banco Central considere retirar a marca “PIX” da modalidade, para evitar que consumidores confundam o sistema gratuito de transferências instantâneas com um produto de crédito sujeito a juros e tarifas.

O desafio será equilibrar inovação com responsabilidade financeira. Se, por um lado, o PIX Parcelado pode ampliar o acesso ao crédito e fomentar o consumo, por outro, há o risco de aumentar a inadimplência em um cenário em que o cartão de crédito já se tornou um dos principais motores do superendividamento no país.

O Banco Central foi procurado para comentar como pretende conduzir a regulação do PIX Parcelado, mas ainda não se pronunciou oficialmente.

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