A Petrobras enfrenta um dilema: mesmo com a queda do preço do petróleo Brent em torno de US$ 70 por barril, a estatal brasileira tem resistido em reduzir os preços dos combustíveis em suas refinarias. Essa decisão tem gerado questionamentos e expectativas no mercado, especialmente porque os preços da gasolina e do diesel da Petrobras continuam acima da referência de importação do Golfo do México (EUA) desde o final de agosto.
Volatilidade do Mercado e Estratégia da Petrobras
O diretor de Logística, Comercialização e Mercados da Petrobras, Claudio Schlosser, afirmou recentemente que a decisão de ajustar os preços dos combustíveis é de natureza “técnica”. Segundo Schlosser, a estratégia da empresa leva em conta ativos, logística, cotações internacionais e a necessidade de reter a volatilidade que o mercado de combustíveis vem apresentando. “A decisão é técnica e é uma decisão da Petrobras. Se houver necessidade, é uma decisão técnica tomada pela companhia”, enfatizou Schlosser.
Enquanto isso, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, também comentou sobre a política de preços, destacando que a empresa tem “empatia” pela sociedade e que sempre que for possível reduzir os preços para competir e ganhar mercado, a Petrobras fará isso.
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O Contexto da Resistência à Redução de Preços
O mercado tem observado que a Petrobras tem mantido seus preços acima da paridade de importação para compensar a perda de receita com a desvalorização do petróleo e o dólar em alta. A empresa, que registrou uma receita de R$ 26,8 bilhões com exportação de petróleo no segundo trimestre deste ano, depende desses valores para manter sua estabilidade financeira. Reduzir os preços dos combustíveis significaria um impacto negativo nas receitas, principalmente com a cotação do dólar fechando em R$ 5,43.
Além disso, especialistas ressaltam que a Petrobras já trabalhou com preços abaixo da paridade durante períodos de alta volatilidade, sacrificando caixa para manter competitividade. Atualmente, a estatal mantém um sobrepreço de 6% na gasolina e no diesel em relação ao mercado internacional, conforme apontado pela Associação Brasileira de Importação de Combustíveis (Abicom).
A Influência do Cenário Internacional
O mercado global de petróleo enfrenta desafios, com tensões no Oriente Médio e restrições de escoamento em regiões produtoras como a Líbia, contribuindo para a volatilidade nos preços. Ao mesmo tempo, a crise na Rússia também impacta o abastecimento, e uma temporada de furacões no Golfo do México adiciona incerteza ao cenário.
Thiago Vetter, especialista em gerenciamento de risco da StoneX, acredita que a Petrobras tem espaço para reduzir os preços dos combustíveis, considerando o PPI do Golfo e o diesel russo importado, que atualmente responde por 72,5% das importações brasileiras de diesel. No entanto, ele aponta que a estatal pode optar por manter os preços elevados, como já ocorreu em outras ocasiões, para proteger sua margem de lucro.
Esforços para Mitigar Volatilidade e a Busca por Biocombustíveis
Enquanto a Petrobras enfrenta pressões por uma possível redução dos preços, a empresa tem investido em soluções para garantir competitividade e sustentabilidade no mercado de combustíveis. Durante o painel “Os desafios da oferta futura de combustíveis e biocombustíveis” na ROG.e (antiga Rio Oil & Gas), Schlosser destacou o compromisso da Petrobras em desenvolver alternativas como o diesel R5, que já representa 10 milhões de litros por mês da oferta da estatal. Este combustível inclui 5% de matéria-prima renovável, proporcionando um preço mais acessível e contribuindo para a redução da volatilidade dos preços.
A Petrobras também assinou recentemente uma parceria com a Embrapa para buscar certificações que envolvem o agronegócio e a produção de biocombustíveis, reforçando o compromisso da empresa com a transição energética e o uso de fontes renováveis.