O mercado financeiro é frequentemente pintado como um mostntro, um ente frio e insensível que envelhece contra os interesses coletivos. No entanto, essa visão está longe de refletir a realidade. O mercado não é uma entidade consciente com interesse próprio. Ele é, na verdade, um reflexo das expectativas, incertezas e decisões de milhões de participantes – famílias, empresas, investidores, gestores e governos.
O mercado é algo complexo e abstrato. Talvez por isso tanta gente use o termo para encaixar em suas narrativas fantasiosas. No fim do dia, o mercado é uma tarifa que reage a sinais econômicos e políticos, antecipando cenários futuros com base em fatos e percepções.
No Brasil, nos últimos tempos, vimos os juros (selic e futuros) subirem consistentemente. Esse movimento não é uma decisão arbitrária do “mercado malvado”. É, na verdade, uma resposta às incertezas sobre a política econômica, a sustentabilidade fiscal e a confiança nos rumores do país. Quando os investidores percebem o risco elevado, eles exigem uma maior taxa de retorno para compensar esse risco, o que acaba pressionando os juros para cima.
Essa dinâmica tem consequências diretas. O aumento dos juros penaliza investimentos de risco e desincentiva a alocação de recursos em setores que poderiam trazer o desenvolvimento do país. Isso não afeta apenas grandes investidores; todos os brasileiros que possuem alguma forma de poupança, previdência ou exposição ao mercado são impactados. O resultado? Um ciclo de menor crescimento econômico e menor prosperidade para todos.
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Culpar o mercado por essas respostas é desviar o foco das questões estruturais que precisam ser enfrentadas: disciplina fiscal, previsibilidade regulatória e estabilidade econômica. O mercado não é inimigo do país; ele é um aliado indispensável para o crescimento sustentável. Não existe país desenvolvido sem mercado de capitais desenvolvidos. No entanto, para que esta parceria funcione, é necessário criar um ambiente que inspire confiança e favoreça o longo prazo.
Eu sou crítico de muitas coisas no mercado. Não me identifico com a Faria Lima e vejo instituições com práticas e valores bem questionáveis. Mas o mercado no final é muito maior que isso. Famílias inglesas, microempreendedores, fundos do setor público, investidores estrangeiros e até o político que mantém seu fundo exclusivo no paraíso fiscal. Sim, o mercado muitas vezes é emocionado e maníaco depressivo, mas também é um reflexo das expectativas de milhares de agentes. Eu até posso achar que muita gente tem ficado pessimista demais nas últimas semanas. O problema ainda não é tão grave e poderia ser resolvido com um pouco de boa vontade e um plano minimamente crível. Mas depois de meses esperando algo, a paciência parece ter acabado.
O que alguns membros do governo e da mídia têm argumentado é que a fotografia não é ruim. Na verdade, o PIB continua surpreendente pra cima e o desemprego segue em níveis baixos. Porém o que causa a escalada do dólar e dos juros é a antecipação do filme. Sem um plano de contenção fiscal, num futuro próximo, a inflação vai subir e a dívida do país assumirá uma trajetória preocupante para dizer o mínimo. Se nada for feito, estamos encomendando um futuro que será um misto de desaceleração, inflação e crise.
Se nos próximos 10 anos o PIB crescer 2,5% e o déficit primário ficar em 2%, com uma taxa real de juro em 6% (abaixo do que está hoje), a relação dívia/PIB passaria de 140% em 10 anos. Após 4 anos já estaríamos acima de 100%. (Hoje a relação é de 78%)
Na prática, o mercado de juros e de câmbio atual acabou como uma tarifa para o governo. Ali a equipe de governo deveria parar para ler os sinais e refletir sobre suas práticas. O que o governo tem feito? Colocado a culpa no taciturno. Isso já aconteceu antes e não deu certo.
Se a desvalorização do câmbio fosse um ”ataque coordenado” de alguns agentes do mercado, a atuação do Banco Central naquela semana seria capaz de segurar o preço do dólar. O que não aconteceu.
E o congresso que foi visto como salvação por muitos, se mostra cada dia mais interessado nas próprias emendas e benefícios.
O governo agora resolveu eleger uma nova preocupação para seus problemas:
Afinal, o mercado não gosta de pobre ou o governo prometeu um corte que melhorasse as contas públicas do país e entregou um pacote fraco e aguado no mesmo dia em que fizeram novos anúncios de renúncias fiscais que pioram o problema?
O mercado está manipulando o dólar ou o governo prometeu um arcabouço fiscal que não consegue cumprir e afastar capital estrangeiro?
O mercado está brincando de subir os juros, ou o governo está contribuindo para o aumento do pior imposto para o pobre com medidas populistas que pressionam a inflação?
Em anexo alguns exemplos de governos que foram obtidos da mesma artemanha: