Não há grandes novidades nesta manhã. Os futuros do S&P 500 recuam levemente, mas basta qualquer pequena correção para que compradores voltem a atuar. O movimento de alta, sustentado por momentum, segue predominando.
O interessante, do ponto de vista acadêmico, é observar como, em ambientes assim, os extremos se acentuam: ativos fortes continuam se valorizando, enquanto os mais frágeis perdem ainda mais espaço. É como se estivéssemos esticando uma corda cada vez mais, testando seus limites.
Mas afinal, o que é momentum? No contexto dos mercados financeiros, momentum é um fenômeno amplamente estudado na literatura acadêmica, que descreve a tendência de ativos que apresentaram bom desempenho no passado recente continuarem a se valorizar no curto prazo, enquanto ativos com desempenho ruim tendem a seguir em queda. Esse efeito foi documentado por pesquisadores como Jegadeesh e Titman (1993), e desafia a hipótese de mercados totalmente eficientes, pois sugere que retornos passados podem, sim, ter algum poder preditivo sobre retornos futuros – pelo menos em determinados horizontes temporais.
O fenômeno do momentum, no entanto, tem uma característica marcante: tende a terminar de forma abrupta. Isso cria um dilema clássico – parece irracional ficar de fora enquanto tudo sobe, mas, inevitavelmente, a reversão acontece. O desafio está em identificar quando esse ponto de inflexão vai ocorrer.
Quando indicadores tradicionais atingem níveis historicamente associados a reversões, mas o mercado ignora esses sinais, surge a tentação de questionar a validade dos próprios indicadores. Muitas vezes, conclui-se que “dessa vez é diferente”, e buscam-se novas narrativas para justificar o comportamento dos preços.
Esse padrão não é novo. No auge da bolha das pontocom, por exemplo, os fundamentos clássicos – como múltiplos de lucros, valor patrimonial ou dividendos – foram deixados de lado. O foco passou a ser métricas alternativas, como número de acessos ou “olhares” em uma página.
Aqui entra o chamado “Indicador Buffett”, uma métrica criada por Warren Buffett para avaliar o grau de valorização do mercado de ações dos Estados Unidos. O indicador é calculado dividindo-se o valor de mercado total das empresas listadas nos EUA pelo Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Historicamente, Buffett sugeriu que, quando esse indicador se aproxima ou ultrapassa 100%, o mercado já estaria relativamente caro. Em 2000, o indicador chegou perto de 200%. Buffett alertou para o risco, mas foi amplamente ignorado. O desfecho foi uma correção severa.
Situação semelhante ocorreu em 2021, quando o indicador voltou a níveis próximos de 200%. Novamente, surgiram justificativas para sustentar valuations elevados, apoiadas em juros baixos e novas formas de investimento.
Hoje, o Indicador Buffett está em 208% – o maior patamar já registrado. O mercado, por sua vez, também opera em máximas históricas, sustentado por argumentos de que “agora é diferente”: seja por avanços em inteligência artificial, mudanças políticas ou novas tecnologias.
O ponto central é que, em ciclos de euforia, há uma tendência coletiva de buscar explicações para o que foge ao padrão. E, quando a reversão finalmente ocorre, ela costuma ser rápida e intensa.
Talvez por isso, grandes investidores estejam mantendo níveis recordes de liquidez. Em momentos como este, pode parecer contraproducente estar em caixa, mas, historicamente, essa postura se mostra prudente quando o ciclo se inverte.
Para hoje, o cenário é de estabilidade, com os futuros do S&P levemente negativos e expectativa de um início de sessão tranquilo.