A fusão entre Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3) será concluída no próximo dia 22 de setembro de 2025, criando oficialmente a nova gigante do setor de alimentos. Já no dia seguinte, 23 de setembro, os papéis da companhia passarão a ser negociados na B3 sob o ticker MBRF3, marcando um dos maiores movimentos corporativos do ano no mercado brasileiro.
A união dessas duas potências do agronegócio promete não apenas ampliar a presença global das marcas, mas também transformar a dinâmica do setor alimentício, que passa a contar com um player de escala internacional ainda mais robusto.
A fusão e o peso da nova companhia
O aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), concedido em decisão unânime e sem restrições, eliminou as últimas incertezas regulatórias. Agora, com a integração em fase final, analistas e investidores buscam entender os impactos da listagem de MBRF3.
Segundo relatório do Goldman Sachs, a empresa resultante terá valor de mercado de US$ 5,1 bilhões e receita anualizada de US$ 27,8 bilhões, considerando os últimos 12 meses. A exposição geográfica também chama atenção: 44% do faturamento vem dos Estados Unidos e 27% da América Latina, enquanto os demais mercados completam o portfólio.
A lista de marcas que ficarão sob o guarda-chuva da nova companhia é vasta e poderosa: Sadia, Perdigão, Montana, Bassi, Black Canyon e Iowa Premium são apenas alguns dos nomes que reforçam o apelo junto a consumidores e investidores.
O olhar dos analistas para a MBRF3
O Goldman Sachs projeta que a MBRF3 deve negociar a um múltiplo de 5,9x EV/EBITDA para os próximos 12 meses (em IFRS e antes das sinergias) e operar com alavancagem pró-forma de 2,9x. Esses números indicam uma estrutura sólida, embora ainda pressionada pela dívida.
O Bradesco BBI destaca que a grande questão será a entrega das sinergias projetadas. A expectativa é de R$ 805 milhões em economias anuais – sendo R$ 485 milhões ligados a cross-selling e cadeia de suprimentos e R$ 320 milhões em despesas administrativas. Além disso, há um VPL tributário de R$ 3 bilhões, que pode reforçar a geração de valor da nova empresa.
O banco, no entanto, manteve recomendação neutra para as ações até que fique mais claro o ritmo e a escala da captura desses ganhos. O Santander seguiu a mesma linha, avaliando que a diversificação traz benefícios, mas o alto nível de alavancagem ainda exige cautela.
Por outro lado, o Safra mostrou-se mais otimista, destacando a baixa adesão ao direito de retirada como um sinal positivo e mantendo recomendação de outperform para BRFS3 e MRFG3.
Direito de retirada e relação de troca
A fusão também trouxe movimentações importantes no campo societário. O comunicado conjunto das companhias revelou que acionistas titulares de 9,98 milhões de ações da BRF e de apenas 5 ações da Marfrig optaram pelo direito de retirada. O valor total de reembolso será de R$ 198,5 milhões pela BRF e R$ 16,60 pela Marfrig.
A relação de troca definida prevê que cada ação da BRF será substituída por 0,8521 ação da Marfrig, um ponto de atenção para investidores que migrarão automaticamente para a nova composição acionária.
Além disso, foram anunciados dividendos robustos:
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Marfrig: R$ 2,3 bilhões (R$ 2,81 por ação, yield de 12,4%).
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BRF: R$ 3,3 bilhões (R$ 2,07 por ação, yield de 11,0%).
Esses números mostram que a companhia busca iniciar sua trajetória na B3 entregando retorno imediato aos acionistas.
O futuro da MBRF3
O nascimento da MBRF3 representa um marco para o mercado de capitais brasileiro. A nova gigante entra na B3 já como protagonista, com forte presença internacional, amplo portfólio de marcas e potencial de capturar sinergias bilionárias.
Ainda assim, os desafios não são pequenos: a elevada alavancagem, a execução das sinergias e a volatilidade das commodities agrícolas continuam a ser pontos de atenção.
Para analistas mais otimistas, a MBRF3 pode destravar valor ao longo dos próximos anos, tornando-se referência global no setor de proteínas e alimentos processados. Para os mais cautelosos, será necessário acompanhar de perto a evolução dos números antes de assumir posições mais agressivas.
De qualquer forma, a estreia da MBRF3 na B3 já é considerada histórica e promete movimentar os investidores em setembro.