Se alguém nutrisse a esperança de que Lula abandonaria a peculiar ideia de ver Guido Mantega à frente da presidência da Vale, seria hora de reconsiderar. O presidente estaria decidido a impor a indicação de um companheiro que ele acreditava ter sido profundamente injustiçado nos últimos anos a uma das maiores empresas privadas do país.
Alexandre Silveira, o encarregado por Lula de executar esse desejo, teria colocado as mãos na massa e iniciado oficialmente a operação. O Ministro de Minas e Energia não teria hesitado em ligar para acionistas importantes da mineradora, declarando em nome do Presidente da República que Lula insistia em ver Mantega como presidente da empresa.
O recado do ministro teria sido direto: Lula não desejava apenas um assento para Mantega no conselho (que dispunha de 13 vagas), mas almejava o principal cargo executivo, com uma remuneração anual estimada em cerca de R$ 60 milhões.
Em 31 de janeiro, o conselho da Vale teria se reunido, e um dos temas em pauta seria a decisão sobre a continuidade de Eduardo Bartolomeo na presidência da empresa.
Essa atitude de Lula teria reforçado a impressão de que ele se sentia capaz de tudo. Nomear um ex-ministro, sem experiência prévia no setor privado, para liderar a segunda maior mineradora de minério de ferro do mundo teria sido um gesto que alguns de seus assessores consideravam improvável, esperando que ele aceitasse uma alternativa. No entanto, Lula teria insistido em Mantega.
Na Vale, entretanto, o governo teria tido menos influência do que no Congresso, onde teria enfrentado desafios com Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Com apenas 8% de participação, por meio da Previ, o governo teria podido conceder licenças ambientais e minerárias via DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) e ANM (Agência Nacional de Mineração), além de potencialmente interferir nos planos da Vale nas concessões federais de ferrovias. No entanto, usar esses poderes teria sido uma ingerência claramente inadequada.
Um conselheiro da Vale, ao comentar sobre a investida de Lula, teria recordado o discurso da semana passada em Pernambuco, onde o ex-presidente teria defendido a retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, que teria sido central na Operação Lava-Jato:
—”Juntando aquela fala do presidente com essa tentativa de avanço real de hoje sobre a Vale, dava para pensar que ele teria ultrapassado todos os limites.”