As ações de empresas argentinas vêm atravessando um momento de forte volatilidade desde a eleição de Javier Milei em novembro de 2023. Após uma disparada de aproximadamente 200% entre o final de 2023 e meados de 2024, os papéis listados na Bolsa de Buenos Aires (Merval) passaram por uma correção intensa. Em 2025, o índice acumula uma queda próxima de 25%, com ações específicas recuando entre 23% e 45% nas últimas semanas.
O cenário de instabilidade política, volatilidade cambial e discussões em torno das reformas estruturais aprofundou a percepção de risco por parte dos investidores. A grande dúvida é: vale a pena investir em ações da Argentina agora?
Economia argentina em ajuste e sinais de melhora
De acordo com Flávio Vegas, especialista de produtos da Global X ETFs, a Argentina vive hoje um momento de ajuste macroeconômico robusto, com uma agenda claramente pró-mercado. Entre as medidas em curso, destacam-se o corte de gastos públicos, o fim de subsídios generalizados e uma política monetária focada no combate à inflação.
Essas ações já produzem resultados concretos. O risco-país da Argentina caiu de 1.600 pontos em dezembro de 2023 para 800 pontos em agosto de 2025. Já a inflação mensal, que chegou a mais de 25% no final de 2023, foi reduzida para cerca de 2,5% — com três meses consecutivos abaixo de 2% entre maio e julho deste ano.
Para Cristiano Leal, planejador financeiro e especialista em investimentos, o pessimismo exagerado já está precificado nos ativos argentinos. “Os fundamentos fiscais e inflacionários estão melhorando, o que abre espaço para uma possível reprecificação dos ativos de risco, como as ações negociadas na Merval”, afirma.
Correção técnica ou tendência de baixa?
A recente queda nas ações de empresas argentinas é vista por analistas como uma correção técnica, após a expressiva valorização do ciclo anterior. De acordo com especialistas, esse tipo de movimento é comum em mercados emergentes quando há eventos políticos disruptivos seguidos de euforia inicial.
“A correção é natural. O que importa agora é observar a consistência dos fundamentos econômicos. E, nesse quesito, os dados da Argentina são promissores”, afirma Leal.
Gatilhos para valorização das ações argentinas
Cristiano Leal elenca três principais gatilhos que podem contribuir para uma nova onda de valorização na bolsa argentina:
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Manutenção do superávit primário: Desde o início do governo Milei, 17 dos primeiros 18 meses registraram superávit primário. Isso marca uma virada fiscal histórica, já que o último superávit anual havia sido registrado há 14 anos.
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Inflação sob controle: A inflação, que girava em torno de 13% ao mês, caiu para menos de 2% mensais em 2025. A estabilidade de preços é essencial para a retomada da confiança dos investidores locais e internacionais.
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Cortes de juros: Tanto na Argentina quanto nos EUA, os sinais de flexibilização monetária podem impulsionar ativos de risco, incluindo ações da região.
Além disso, há expectativa de que a Argentina volte a ser classificada como mercado emergente em índices globais. Isso forçaria fundos passivos e ETFs que seguem esses índices a comprar ações de empresas argentinas, o que pode representar um novo fluxo de capital para a bolsa do país.
Valuation atrativo e oportunidades setoriais
Com a queda recente, muitos papéis estão sendo negociados em múltiplos historicamente baixos, o que cria uma janela de oportunidade para investidores de médio e longo prazo. Empresas de setores como energia, consumo básico, finanças e infraestrutura têm demonstrado fundamentos sólidos e boa capacidade de geração de caixa.
“Não é hora de generalizar, mas sim de ser seletivo. Existem empresas argentinas com ótimo potencial e bem posicionadas para capturar a recuperação econômica”, aponta Vegas.
Como investir em ações da Argentina com base no seu perfil
Investidor conservador:
Para os mais cautelosos, a recomendação é investir de forma indireta, através de BDRs (Brazilian Depositary Receipts) ou fundos globais com pequena exposição à Argentina. Um exemplo é o BEEM39, que replica um ETF diversificado de mercados emergentes.
Investidor moderado:
Fundos com posição relevante na Argentina ou ETFs listados na B3 como o ARGT39, que acompanha as 25 maiores ações do índice Merval, podem ser boas alternativas. Eles oferecem exposição controlada com maior diversificação e menor risco.
Investidor agressivo:
Já para quem tem perfil arrojado, vale considerar a compra direta de ações argentinas na bolsa de Buenos Aires (BYMA) ou a alocação em títulos de renda fixa local como as Lecaps. Essas opções exigem maior apetite ao risco e acompanhamento frequente das condições políticas e macroeconômicas.