A indústria dos EUA permanece em um ciclo de fraqueza, com a produção fabril recuando pelo quarto mês consecutivo em junho de 2025. De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM), o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) industrial subiu levemente de 48,5 para 49,0, mas ainda permanece abaixo da linha de 50 que separa crescimento de contração. As tarifas aplicadas pelo governo Trump seguem sendo apontadas como um dos principais fatores que minam a capacidade produtiva e a previsibilidade das empresas.
Pressão tarifária compromete planejamento industrial
Segundo a análise de Lucia Mutikani, da Reuters, as tarifas comerciais sobre produtos importados continuam a impactar negativamente o desempenho industrial dos EUA. Empresas seguem enfrentando dificuldades para planejar investimentos e produção de longo prazo, diante do aumento nos custos e da instabilidade no fornecimento de insumos. Isso tem comprometido também os pedidos industriais e a reposição de estoques.
Essas barreiras comerciais, inicialmente impostas como medida protecionista, criaram distorções que ainda não foram absorvidas pela economia norte-americana. Os reflexos incluem menor eficiência nas cadeias logísticas, encarecimento de matérias-primas e atrasos nos prazos de entrega, o que prejudica a produtividade das fábricas.
Queda na demanda e alta nos insumos
Apesar de uma leve recuperação no índice de entregas de fornecedores — que caiu de 56,1 em maio para 54,2 em junho —, os gargalos continuam sendo um entrave significativo. O ISM relatou “atrasos contínuos no desembaraço de mercadorias nos portos de entrada”, o que continua prejudicando o fluxo de materiais importados, vitais para a indústria.
A demanda, por sua vez, continua enfraquecida. O subíndice de novos pedidos caiu de 47,6 para 46,4, acumulando cinco meses consecutivos de contração. Mesmo com um leve aumento no componente de importações — de 39,9 para 47,4 —, a indústria não mostra sinais de retomada expressiva.
Outro fator crítico foi a alta dos preços pagos pelas fábricas, que passaram de 69,4 para 69,7, refletindo uma pressão inflacionária adicional sobre os insumos. Isso tende a corroer as margens das empresas e aumentar o custo de produção, dificultando a recuperação da competitividade.
Emprego industrial em queda
A retração também se reflete no mercado de trabalho. O subíndice de emprego industrial do ISM caiu de 46,8 para 45,0, indicando que as empresas seguem cortando postos de trabalho. A entidade destacou uma “aceleração nas reduções de pessoal devido à incerteza da demanda a curto e médio prazo”. Isso sinaliza um ceticismo generalizado quanto à recuperação rápida do setor.
Impacto mais amplo na economia
A fraqueza da indústria dos EUA se soma a outros indicadores que apontam desaceleração econômica. O mercado imobiliário, os gastos do consumidor e o aumento do desemprego compõem um quadro que exige cautela. Apesar da possibilidade de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre — impulsionado por uma queda nas importações —, o impulso subjacente da economia está enfraquecido.
A dependência da indústria norte-americana por insumos estrangeiros expõe suas vulnerabilidades em um cenário de tensões comerciais e barreiras tarifárias. Economistas alertam que os dados ainda podem continuar distorcidos por algum tempo, dificultando a leitura precisa das tendências econômicas.
Considerações finais
O setor industrial dos Estados Unidos enfrenta um período prolongado de estagnação, com efeitos colaterais provocados pelas tarifas impostas em anos anteriores. A falta de recuperação consistente em pedidos, produção e emprego reforça a necessidade de revisão das políticas comerciais e de medidas que estimulem a competitividade da indústria nacional.
Com o PMI ainda abaixo de 50 pontos, a indústria dos EUA continua tecnicamente em contração. O desafio do governo é equilibrar proteção comercial e eficiência produtiva, buscando um modelo que assegure crescimento sustentável no longo prazo.