A tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos escalou com a iminente imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. Esse cenário já afeta diretamente o setor do agronegócio, especialmente instrumentos financeiros como os Fiagros e CRAs, que podem ter seus fluxos de receita pressionados por instabilidade contratual.
Riscos para contratos e recebíveis
De acordo com Marcelo Winter, advogado especializado em Direito do Agronegócio e sócio da VBSO, o risco jurídico dos contratos atrelados ao comércio exterior aumenta significativamente. Ele alerta que, com margens comprimidas por tarifas, empresas exportadoras podem enfrentar renegociações, inadimplência ou até judicializações.
Os CRAs — Certificados de Recebíveis do Agronegócio —, por serem lastreados em contratos futuros e recebíveis de vendas externas, estão diretamente expostos. “Qualquer ruptura na cadeia de exportação pode afetar a capacidade de pagamento dos emissores, comprometendo a segurança jurídica e financeira desses ativos”, diz Winter.
Impactos diretos sobre os Fiagros
Como consequência, os Fiagros, que investem principalmente em CRAs, também entram no radar de risco. Muitos desses fundos têm alta exposição a empresas exportadoras ou a contratos sensíveis ao cenário internacional.
“Tarifas como essa podem travar novas emissões, alterar a precificação de ativos e gerar perdas para os cotistas”, destaca o advogado.
Winter recomenda que os investidores façam uma análise cuidadosa da origem dos recebíveis que compõem os CRAs dos fundos. “É essencial verificar se há concentração em contratos de exportação ou setores vulneráveis. Isso ajuda a calibrar o risco e evitar surpresas negativas”, conclui.
Prazo para tarifas se aproxima
O risco não é hipotético. Caso não haja acordo diplomático, a tarifa de 50% será implementada a partir de 1º de agosto para todos os produtos brasileiros destinados ao mercado norte-americano.
Embora o governo brasileiro siga tentando reverter a medida, o contexto político complica a situação. O presidente Donald Trump relaciona a decisão ao que chama de perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro, processado por tentativa de golpe de Estado.
Esperança em solução diplomática
Apesar do cenário tenso, Winter acredita que ainda há espaço para um desfecho negociado. “O Brasil tem um histórico de bom diálogo com os EUA. Existem argumentos comerciais e jurídicos suficientes para contestar essa tarifa”, avalia.
Além disso, o impacto sobre os consumidores americanos pode pressionar a Casa Branca a rever sua posição, principalmente em ano eleitoral.