A Eternit, uma das empresas mais tradicionais do Brasil no setor de materiais de construção, está próxima de concluir uma reviravolta histórica. Após enfrentar anos de crise e um processo de recuperação judicial iniciado em 2019, a companhia vê um novo horizonte com a diversificação de seu portfólio e com o fim das restrições que abalaram suas operações. Em 2024, a Eternit, que já foi sinônimo de amianto, aposta em inovação e sustentabilidade para continuar sua trajetória, com foco em telhas solares e construção modular.
O Desafio do Amianto e a Recuperação Judicial
O principal fator que levou a Eternit ao seu período mais sombrio foi a proibição do amianto, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017. A decisão impediu a extração, industrialização e comercialização da variedade crisotila do amianto, até então amplamente utilizada pela empresa na fabricação de telhas e caixas d’água. Sem esse insumo, a Eternit enfrentou grandes dificuldades operacionais e financeiras.
Diante das limitações impostas pela proibição, a companhia precisou buscar alternativas para sua produção e adequar seu modelo de negócios. No entanto, o impacto foi severo: sem o amianto, a empresa viu seu acesso a crédito se reduzir e acumulou dívidas que chegaram a R$ 229 milhões. A solução foi solicitar à Justiça o ingresso em um processo de recuperação judicial, visando a reorganização financeira e a proteção contra credores.
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Mesmo durante a recuperação, a Eternit continuou em operação, assegurando o emprego de seus 1.700 colaboradores e o funcionamento de suas oito fábricas e cinco filiais de vendas em todo o Brasil. A estratégia foi manter a produção e buscar novos materiais para substituir o amianto, como a fibra sintética de polipropileno, que atualmente compõe cerca de 60% das suas telhas de fibrocimento.
A Transformação e a Reinvenção do Portfólio
A necessidade de diversificação impulsionou a Eternit a explorar novos nichos de mercado. Após anos associada ao amianto, a empresa lançou telhas solares e produtos para construção modular. As telhas solares, em concreto e fibrocimento, são parte da estratégia de adaptar-se à crescente demanda por energia renovável. Com cada unidade capaz de gerar 1,15 kW/h por mês, esse produto reflete a aposta da Eternit em sustentabilidade e inovação.
Além das telhas solares, a Eternit investiu em construções modulares, fabricando placas cimentícias e blocos pré-moldados que reduzem a necessidade de mão de obra. Esse segmento, embora ainda incipiente no portfólio, possui um grande potencial de crescimento à medida que o mercado de construção adota métodos mais ágeis e sustentáveis.
Segundo o CEO Paulo Roberto Andrade, que assumiu o comando em 2023, esses novos segmentos representam um caminho promissor. “Essas unidades ainda têm baixa representatividade, mas o potencial de crescimento é de dois dígitos”, afirmou. Com essa diversificação, a Eternit busca não só manter sua posição no mercado, mas também se consolidar como referência em produtos inovadores.
Expansão com o Programa Minha Casa Minha Vida e a Recuperação das Vendas
O programa federal Minha Casa Minha Vida, retomado em 2023, traz uma perspectiva positiva para a Eternit. O programa de habitação popular é um dos grandes impulsionadores da demanda por telhas de fibrocimento no Brasil, e a empresa está otimista com o impacto desse programa na recuperação de suas vendas.
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Depois de um ano difícil, marcado por queda de volume e rentabilidade, a Eternit observou sinais de recuperação no terceiro trimestre, quando as vendas de telhas subiram 12% em relação ao segundo trimestre. Para atender à crescente demanda, a companhia inaugurou uma nova unidade de produção em Caucaia, Ceará, com capacidade para produzir 6,5 mil toneladas de telhas por mês.
Preparação para um Novo Ciclo Financeiro
Com o processo de recuperação judicial próximo de ser encerrado, a Eternit começa a reestruturar suas finanças para atrair novamente o interesse do mercado. Com uma dívida equacionada e uma operação superavitária, a empresa espera retomar o pagamento de dividendos, o que pode atrair investidores institucionais de volta ao seu quadro acionário.
A empresa realizou investimentos estratégicos, mesmo durante a recuperação judicial, como a ampliação da unidade de Manaus, que produz fibra de polipropileno para substituir o amianto nas telhas. Essa unidade recebeu um aporte de R$ 24 milhões, reforçando o compromisso da Eternit com a inovação.
A Volta da Rentabilidade e Perspectivas para o Futuro
Após anos de dificuldades, a Eternit voltou a gerar lucro e está focada em consolidar seu crescimento. Para o ano de 2024, a empresa projeta um crescimento de pelo menos um dígito nas vendas de telhas e espera manter o ritmo de expansão nos segmentos inovadores, como telhas solares e construções modulares.
Outro fator que contribui para o otimismo da empresa é a retomada do valor de suas ações. Após atingir a mínima de R$ 3 antes da recuperação judicial, as ações da Eternit estão em recuperação e atualmente cotadas a R$ 7,26. Embora ainda distantes dos R$ 28 atingidos em 2021, os papéis refletem a confiança do mercado no futuro da companhia.
Andrade também mencionou que, após a conclusão da recuperação judicial, a empresa pode considerar fusões e aquisições (M&A) para expandir ainda mais suas operações. “À medida que saímos da recuperação judicial, vemos possibilidade de entrar em novas áreas e negociar prazos de pagamento mais vantajosos com fornecedores”, destacou o CEO.
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Eternit sai da recuperação judicial: Um Novo Capítulo
A Eternit está preparada para encerrar um dos períodos mais desafiadores de sua história e começar uma nova fase de crescimento e inovação. Com o legado do amianto ficando no passado, a empresa aposta em tecnologias sustentáveis e na diversificação de produtos para consolidar seu espaço no mercado.
Assim, ao deixar para trás a recuperação judicial e abraçar o potencial de novos mercados, a Eternit inicia um novo capítulo, mostrando que é possível transformar dificuldades em oportunidades e continuar a crescer no setor de materiais de construção.